O resultado destas eleições de 2022 demonstraram que o eleitor e a eleitora vêm escolhendo opções mais à direita e radicalizadas para lhes representar, e não seria diferente em Pernambuco, que elegeu 25 deputadas e deputados para representar o Estado em Brasília. O alinhamento com Bolsonaro se dá quando, por exemplo, André Ferreira, do Partido Liberal, o mesmo de Bolsonaro, foi o deputado eleito com mais votos, sendo 273.267 ao total, tendo Clarissa Tércio (PP) em segundo lugar, com 240.511 votos.
Houve algumas modificações no quadro plausíveis de serem destacadas como, por exemplo, o aumento do número de mulheres, que foi de uma para três, e a perda de atores importantes para Pernambuco, como Daniel Coelho.
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O fato de termos André Ferreira e Clarissa Tércio em primeiro e segundo lugar demonstra, de acordo com o cientista político da UFPE, Arthur Leandro, que a identificação religiosa e o espaço institucional das igrejas são elementos importantes para a conquista e organização do eleitorado. “As casas legislativas do Brasil, em geral, e de Pernambuco em particular, estão mais à direita hoje do que há 10 anos, é absolutamente plausível a hipótese de que o eleitorado, em média, esteja mais conservador”, explicou.
Para ele, isso acontece pelo crescimento da população evangélica no País, “em um país em sensível transição religiosa, o impacto das denominações evangélicas que praticam a chamada ‘teologia do domínio’ tende a ser relevante. A maior inserção política decorre disso”. “Historicamente, candidatos ligados a denominações como as Assembleias de Deus nem precisam fazer campanha fora da igreja: bastava contar com o apoio das lideranças”, detalhou.
De acordo com uma pesquisa do Datafolha, de 2003 a 2016 a quantidade de evangélicos no Brasil cresceu 129%, ou seja: três a cada 10 brasileiros com 16 anos ou mais eram evangélicos. Em 2020, eram aproximadamente 12,4 milhões de jovens entre 16 a 24 anos que se declararam evangélicos.
“Há grupos evangélicos bastante organizados, politicamente atuantes na sociedade brasileira, e têm total direito de serem representados. Isso é um desafio para agremiações políticas organizadas de modo convencional, como o PT. Os representantes políticos do segmento evangélico, principalmente dos evangélicos pentecostais, costumam ter como bandeira pública uma agenda de costumes tradicionais para o conjunto da sociedade, mas não defendem, de resto, programa partidário muito claro ou coeso, constituindo o que se chama de ‘Centrão’ na política brasileira”, afirmou o especialista.
Numa análise sobre a bancada de Pernambuco na Câmara dos Deputados, o cientista político Alex Ribeiro afirmou que o Centrão saiu vitorioso no Estado. “PP, União Brasil e PL ficaram fortalecidos. O PSB perdeu força. Vale lembrar também que atores políticos considerados de extrema direita como Clarissa Tércio, ficaram mais em evidência e, como em outras partes do país, estão em franca ascensão no cenário político”, disse Alex.
Por sua vez, Arthur Leandro detalhou que o Centrão não preza por articulação partidária orgânica, não tem programa claro em relação às políticas públicas para o Brasil. “Ele tem uma visão pontual sobre temas específicos, como eutanásia, pesquisas com células-tronco, aborto, uso de drogas, direito dos LGBTQIA+, etc. Por outro lado, não tem posições muito claras sobre temas como preservação ambiental, política tributária, legislação social, relações exteriores, etc.”.
“Esse grupo tem uma conexão muito boa com a sua base. Não sei dizer se é bom ou ruim, mas sinaliza com alguma orientação política refletida hoje no Congresso Nacional, tanto que o partido que teve maior bancada foi o PL, que é o partido do presidente da República e não tem agenda nenhuma efetivamente do ponto de vista de uma orientação programática para o País”, observou Arthur Leandro.
Do seu ponto de vista, Bolsonaro não é um “conservador no sentido original do termo”. “Os conservadores mundo afora são institucionais, defensores do estado de direito, das liberdades individuais, do poder local, dos laços comunitários, do meio ambiente”, explicou, ao ser questionado sobre a onda do conservadorismo no Brasil.
Mesmo com Lula (PT) tendo somado pouco mais de 48% dos votos, ante 43% de Bolsonaro, com um segundo turno relativamente apertado, diferente do que mostravam as pesquisas, o professor de ciência política observa que Lula deve fazer um governo “muito difícil”. “Acho que Lula tem chances reais de ganhar. O Congresso hoje controla o orçamento, e o Centrão controla o Congresso. Há uma crise fiscal muito séria em curso. Além disso, o bolsonarismo está vitaminado”, ponderou.
Representantes de Pernambuco na Câmara dos Deputados:
André Ferreira (PL): 273.267 votos
Clarissa Tércio (PP): 240.511 votos
Pedro Campos (PSB): 172.526 votos
Silvio Costa Filho (Republicanos): 162.056 votos
Fernando Filho (União Brasil): 155.305 votos
Waldemar Oliveira (Avante): 141.386 votos
Túlio Gadelha (Rede): 134.391 votos
Carlos Veras (PT): 127.482 votos
Eduardo da Fonte (PP): 124.850 votos
Clodoaldo Magalhães (PV): 110.620 votos
Maria Arraes (Solidariedade): 104.571 votos
Iza Arruda (MDB): 103.950 votos
Augusto Coutinho (Republicanos): 101.142 votos
Pastor Eurico (PL): 100.811 votos
Fernando Monteiro (PP): 99.751 votos
Eriberto Medeiros (PSB): 99.226 votos
Lula da Fonte (PP): 94.122 votos
Lucas Ramos (PSB): 85.571 votos
Guilherme Uchoa Junior (PSB): 84.592 votos
Coronel Meira (PL): 78.941 votos
Felipe Carreras (PSB): 76.528 votos
Mendonça Filho (União Brasil): 76.022 votos
Luciano Bivar (União Brasil): 74.425 votos
Fernando Rodolfo (PL): 60.088 votos
Renildo Calheiros (PCdoB): 59.686 votos