As duas faces da superexposição no ambiente virtual

Enquanto muitos internautas fazem das redes sociais um meio de sobrevivência, especialistas apontam o perigo da exposição desenfreada na internet

sex, 08/09/2017 - 17:48

As redes sociais têm o poder de aproximar pessoas, diminuir distâncias, facilitar encontros, divulgar trabalhos, entre outros. Porém, especialistas apontam: a exposição excessiva pode causar consequências tanto físicas quanto psicológicas, como o isolamento social, por exemplo.

Com a chegada da era virtual e o surgimento das mídias sociais, cada vez mais usuários mergulham na experiência do exibicionismo na internet. Não é mais exclusividade de artistas e celebridades terem seu cotidiano e sua intimidade televisionados. Milhares de pessoas ganham a vida com a exibição de sua imagem, em canais e perfis pessoais alimentados por uma legião de seguidores. Esse exibicionismo passou por um processo de potencialização de maneira acelerada ao longo da última década, com a popularização do Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, Tinder e outros aplicativos de interação social.

A estudante de Engenharia Civil Luanna Monteiro conta que costuma expor os mais diversos momentos do seu dia em seu perfil pessoal no Instagram. “Eu tenho o hábito de compartilhar minha rotina nas redes sociais porque acredito que seja uma boa forma de me aproximar do meu círculo de amizades, da minha família, principalmente minha mãe, que mora em outra cidade, e para as pessoas que gostam de acompanhar meu dia a dia”, explica. Luanna afirma que sonha em ser atriz e que esse hábito lhe trouxe desenvoltura diante das câmeras, o que lhe ajudou a deixar de lado a timidez.

Assim como Luanna, o estudante de Enfermagem Elton Soares declara que é usuário assíduo das redes sociais. “Eu gosto bastante de mostrar o que estou fazendo, seja uma comida legal ou um passeio com os amigos. Mas costumo filtrar o que vou postar, para evitar polêmicas desnecessárias”, admite o estudante.

Privacidade - O professor e comunicólogo Mário Camarão, doutor em Cibercultura e Redes de Informação, explica que não existe privacidade no âmbito virtual, e que a partir do momento que as redes propiciam a visibilidade em potência, tudo que é mostrado, é exposto para as pessoas que fazem parte dessa rede. “Não existe privacidade, é tudo da ordem do público. A partir do momento que você entra na rede, já está se expondo, e hoje as pessoas encontram caminhos e formas de se superexpor, de expor os seus mínimos detalhes e seus momentos mais pessoais”, analisa o docente. 

Mário também pontua que tudo isso acaba se revelando como uma necessidade de exposição diária, como uma forma de existência, ou seja, de um “eu virtual”. “Hoje, acredita-se que nós também temos um ‘eu’ dentro da internet, da maneira como nós nos apresentamos, e como nós existimos nesse espaço. A existência nesse espaço às vezes não condiz com aquilo que temos aqui fora”, observa.

O comunicólogo também indica que deve haver limites para o uso desses dispositivos, sem chegar ao ponto de agredir ou perturbar o outro. Segundo o professor, às vezes as pessoas perdem a noção do que expor. Para isso, destaca, existe legislação, existem formas de controlar esse tipo de ação. “Não se pode dizer que a internet é somente um espaço de irregularidades, fraudes e crimes, quando isso acontece da mesma forma fora do ambiente virtual. O limite vai pelo bom senso”, finaliza.

Riscos - A psicóloga Ana Cristina Costa França, mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento, alerta que o uso desmedido das redes sociais pode causar danos psicológicos, como o isolamento social. De acordo com Ana, somos seres sociais, construímos nossa identidade e nos tornamos humanos no processo de socialização. Para que haja socialização, é necessário que haja interação social. O oposto dessa interação é o isolamento, e o isolamento atual tem origem no uso excessivo do ambiente virtual. “Fato é que precisamos atentar que o uso excessivo da internet pode provocar consequências psicológicas, e que essas consequências podem ser boas ou ruins, a curto ou longo prazo. Precisamos evitar as ruins”, afirma.

A psicóloga também falou sobre o estilo de vida adotado pela sociedade contemporânea, e os problemas de saúde decorrentes do uso excessivo da internet, como a nomofobia (fobia caracterizada pela angústia desesperadora que surge quando a pessoa passa por uma situação de isolamento de tecnologias, principalmente celulares e computadores), e o agravamento de problemas de visão e ortopédicos (pescoço, coluna, pulsos), além da obesidade. “Todos esses problemas são decorrentes do uso compulsivo do computador e celular. Entretanto, não há como negar as novas tecnologias. É preciso aprender a conviver com elas, com os benefícios e malefícios que elas podem nos trazer, nos adaptando e tirando delas nosso desenvolvimento”, conclui. Veja vídeo abaixo.

Por João Paulo Jussara.

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