Aprovação é ordem em escolas públicas, diz professor

De acordo com docente, escolas não reprovam para alcançar índices de qualidade

por Nathan Santos dom, 17/06/2012 - 09:12
Nathan Santos/LeiaJáImagens Há 31 anos lecionando, professor Joy Luiz Ramos teve problema com aluno e diretora por causa de nota baixa Nathan Santos/LeiaJáImagens

Há alguns anos, a figura do professor em sala de aula era extremamente respeitada pelos alunos e por outros educadores. Os estudantes viam no docente um exemplo de profissional, compartilhando experiências e vivências entre eles. No entanto, atualmente, os educadores não são valorizados como deveriam ser, tanto em relação às condições de trabalho e financeira, bem como na contato com alguns estudantes.

Não é novidade o surgimento de casos de atritos entre professores e alunos. Violência contra os educadores, humilhação em sala de aula, entre outros fatos são problemas que os docentes sofrem e às vezes adquirem doenças emocionais que os marcam por bastante tempo e os prejudicam no cotidiano e no trabalho.

O professor Joy Luiz Ramos se diz vítima de alunos e até mesmo de outros educadores. Há 31 anos lecionando português, no ano de 2007, numa escola pública do município pernambucano de Igarassu, o profissional afirma ter passado por problemas com um aluno. “No mês de julho esse aluno chegou para estudar o primeiro ano do ensino médio, e ele era muito amigo da diretora da escola. O jovem quase não ia as minhas aulas“, relata Joy.

No final das aulas, houve um conselho de classe entre os professores do estudante e a diretora para discutir as notas do aluno. De acordo com o professor Joy, o estudante tinha notas boas em quase todos os professores, exceto na disciplina dele e de mais dois educadores. “Para muitos alunos de hoje, professor bom é aquele que mal dá aula e coloca nota alta na caderneta. Eu sempre trabalhei correto, e aplico a nota que o estudante merece”, comenta o educador.

No conselho, a diretora interrogou o professor sobre a nota baixa do aluno, que era em torno de dois. De acordo com o docente, ela queria de toda maneira que o aluno passasse de ano. Pela falta de comprometimento do estudante, Joy disse que não podia aprovar um aluno naquele nível. “Eu contei para ela que eu não ia criar nota boa”, diz o profissional. Ele também conta que nas poucas vezes que o estudante ia as aulas dele, havia muitas discussões entre eles, por desrespeito do jovem. 



Sofrimento de um educador



Segundo o professor Joy, no primeiro dia de aula do ano seguinte, um policial foi de encontro  a ele na sala de aula e pediu que o educador se retirasse do local, porque ele não fazia mais parte da escola. “Fui reprimido por não aprovar um aluno que não tinha condições de passar. Na escola estadual é assim, o aluno tem que passar de todo jeito”, afirma Joy. De acordo com ele, as escolas primam pela aprovação dos alunos a qualquer custo para alcançar índices de qualidade, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Após o episódio, Joy foi submetido a um conselho de julgamento na Secretaria de Educação (SE), e lá, ele conta que os educadores que participaram da reunião pediram para que ele deixasse a escola. “Eu não pedi para sair e fui para justiça procurar meus direitos. Dali em diante me tornei um profissional melhor, pois honrei pela minha ética”, conta.

Até hoje o processo continua na justiça. Joy, conta que a SE o encaminhou para vários profissionais de saúde, como psicólogos e psiquiatras. Ele se diz muito triste pelo fato e critica o desrespeito contra os professores. “Na educação, tudo o que acontece é o professor que faz, principalmente as coisas ruins”, reclama.

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