'Venda Direta' atrai jovens com lucro de até R$ 100 mil
O negócio em sua essência visa oferecer incentivos de vendas e ganhos, a partir da comercialização de produtos e recrutamento de novos integrantes à rede de relacionamento
Em meio à crise, os brasileiros que têm vontade de empreender em algum tipo de negócio estão optando em seguir uma carreira independente, por meio da venda direta. Para esse público - milhares de pessoas - a ideia de estar ligado ao padrão empregatício através da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) não é relevante. O que realmente importa são os ganhos financeiros e a qualidade de vida, segundo muitos profissionais. Alguns deles chegam a receber mais de R$ 100 mil mensalmente e veem esse modelo de trabalho como uma oportunidade para mudar de vida.
Conhecido e intitulado como Marketing de Rede, Marketing Multinível ou Venda Direta, o negócio em sua essência visa oferecer incentivos de vendas e ganhos, a partir da comercialização de produtos e recrutamento de novos integrantes à rede de relacionamento. O estilo de comercialização utilizado é o Plano de Negócio Binário, ou seja, ao ingressar, as pessoas cadastram novos consultores na rede de negócios e os ganhos são proporcionais às vendas realizadas a aos novos consultores indicados.
Segundo o professor, consultor em marketing e pesquisador da cultura de consumo, Thiago Ianatoni, a prática de negócio, intitulada pelo mercado de venda direta, Marketing Multinível ou Marketing de Rede, está se tornando cada vez mais comum. Ele ressalta que esta mudança se deve à vários fatores. “É importante lembrar que essa prática sempre existiu, mas ultimamente as pessoas podem recorrer ao tipo de negócio para complementar uma renda, empreender ou até mesmo pela crise”, diz Ianatoni.
O pesquisador aponta ainda que a cultura de aquisição das pessoas ao escolher ou comprar produtos pode está mudando, o que pode favorecer ao mercado de venda direta. “É interessante que os consumidores demonstram assumir um consumo mais consciente e até valorizam mais o vendedor de porta-a-porta. Muitos deles ficam mais satisfeitos porque o vendedor vai a sua casa. Ele não precisa ir aos centros de compras e há a questão da confiança do amigo que está indicando”, explica.
No Brasil existem várias empresas de venda direta, porém, nem todas são de Marketing Multinível. A grande diferença entre elas são os ganhos. As empresas que adotam o Multinível aplicam o sistema binário e o que difere uma das outras, muitas vezes, são as porcentagens de lucro. Existem várias organizações que adotam esse tipo de negócio, como a americana Mary Kay; a brasileira Hinode e a pernambucana Cidiz.
Exemplos do mercado
Criada há 27 anos, a Hinode aderiu ao Marketing Multinível de 2012. Segundo um dos consultores independentes, Júlio Miranda, 25, que atingiu o nível 'Triplo Diamante' na empresa e recebe mais de R$ 100 mil por mês, todo valor conquistado é por mérito. "A ideia do negócio é a meritocracia, ou seja, vou ganhar esse dinheiro a partir da minha dedicação e trabalho. Se eu consigo manter a minha rede e a incentivo, continuo com a média desse valor, caso eu consiga expandir, consequentemente, receberei mais", explica o consultor, que se dedica a esse tipo de negócio há quase dois anos.
O jovem empreendedor ainda destaca que no Brasil, o Marketing Multinível ainda é pouco conhecido e explorado. "A maioria dos brasileiros não tem a cultura de empreender e isso não é ensinado e nem estimulado nas escolas. Na prática, as pessoas não querem trocar a 'estabilidade' da carteira assinada para investir na carreira de venda direta e principalmente o Marketing de Rede, que ainda é muito desconhecida pela população", diz Miranda. Mesmo com a ausência da popularização do negócio, ele ainda aponta que nos últimos meses a procura tem aumentado. "Acredito que com a crise e com o desejo de mudar de vida, as pessoas procuram outras fontes de renda", opina.
Há dez meses na Hinode, Nikácia Moura (à direita na foto ao lado) relata que deixou a atividade de comércio em shopping para ingressar como consultora, mas para isso, pesquisou durante um ano, até chegar à conclusão. "Analisei bastante e vi várias empresas. O que me chamou atenção na Hinode foi a forma de ganho, que pode chegar até 35% do valor da venda e do recrutamento de novas pessoas", conta ela, que atualmente ganha aproximadamente R$ 10 mil em sua rede, juntamente com Alessandra Lubambo.
Para ingressar, os interessados precisam investir de R$ 299 a R$ 2.200, que são revertidos em produtos. "O lucro do valor pago é de 100%, ou seja, se um produto tem o custo de R$ 50, revendemos por R$ 100, além dos incentivos de venda quando um novo membro entra e as porcentagens dos produtos comercializados por eles", fala a empreendedora, que ressalta também que o 'plano B', que era a venda direta, virou o 'plano A'. Atualmente, a Hinode possui 100 mil consultores e apresenta o lucro anual de R$ 1 bilhão.
Em Pernambuco, a empresa de moda Cidiz é uma opção também para quem quer investir no Marketing de Rede. Criada há quase três anos por três amigos, a marca já iniciou o negócio como Marketing Multinível. O consultor Emanoel Florêncio, que era vendedor da Loja Narciso, no Centro do Recife, acreditou no novo estilo de ganho e hoje lucra aproximadamente R$ 20 mil por mês. “Estou a quase dois anos na Cidiz e eu não tenho dúvida que o plano de negócio vai se tornar tendência e estimular outras empresas a aderir. Estamos falando de meritocracia, ganhos justos e significativos para a empresa e os consultores”, avalia.
De acordo com Florêncio, a Cidiz fatura mensalmente R$ 6 milhões e possui mais de 35 mil associados no Brasil, sendo 15 mil ativos. Ele fala também que a procura pelo negócio surpreendeu nos últimos meses, a partir da estimativa de expansão da empresa. “Para o final de 2015, estávamos prevendo um aumento de 200% do número de associados, mas já atingimos o índice de 300%. Esses números mostram que muitas pessoas estão mudando o modo de querer empreender e a crise também pode ter intensificado essa procura”, conclui.
Integrante da Cidiz há quase um ano, a estudante Rhayana Fernandes diz que conheceu o negócio através do amigo Rodrigo Carvalho, e que não se arrepende de ter deixado o emprego para se dedicar, integralmente, à venda direta. “Atualmente ganho bem mais com a venda direta e tudo a partir do merecimento, da dedicação e do trabalho”, fala. Emocionada, ela lembra como tudo aconteceu. “Recordo-me como se fosse hoje. Era final de 2014 e eu pedi a Deus um caminho, foi quando o meu amigo Rodrigo me apresentou o negócio e analisei por um período e entrei”, finaliza. Para ingressar na rede, os interessados precisam investir de R$ 400 a R$ 2 mil em produtos.
EUA
Conhecida por conceder vários incentivos, inclusive o famoso carro cor de rosa e por fornecer rendimentos que podem chegar a R$ 150 mil, a empresa Mary Kay, de cosméticos, com sede na Dallas, chegou ao Brasil em 1998 e já possui várias consultoras independentes. Só em 2014, o faturamento estimado foi acima de R$ 3,5 bilhões - numero atingido em 2013.
>>Mary Kay: colaboradoras ganham carros e viagens por vendas<<
Com incentivos como viagens, carro e premiações, a empresa oferece vários níveis de carreira independente, que atraem milhares de empreendedores, como Elaine Aquino, a consultora independente que já está na empresa há mais de um ano. Ela conquistou vários níveis de carreira: iniciou como consultora de beleza e passou por vários níveis como consultora sênior, iniciadora estrela, líder de grupo e atualmente está como Diretora Executiva Elite. De acordo com Aquino, a Mary Kay é uma empresa de venda direta e que oferece níveis igualitários para todos que ingressam. “Todos começam a partir do mesmo nível, o crescimento vai depender exclusivamente do trabalho e dedicação dos consultores. Resumindo, o resultado só vem com o trabalho”, explica.
Segundo o consultor de marketing Thiago Ianatoni, as pessoas que desejam empreender nesse tipo de negócio devem ficar atentas a alguns critérios. “O importante é conhecer como funciona o sistema de cada empresa e também como elas estão trabalhando a imagem da sua marca, sua posição no mercado e do produto, para obter segurança”, alerta. Ele ainda lembra que essas empresas possuem várias fases e que, normalmente, quem ingressa no início tem maior chance de crescer.