Os profissionais que passaram a preferir o home office
Comodidade é um dos aspectos que atraem os trabalhadores às atividades em casa
Os primeiros meses de pandemia do novo coronavírus no Brasil exigiram que Estados e municípios adotassem medidas restritivas. Muitas empresas precisaram se adaptar e mudar a dinâmica laboral por causa do isolamento social, logo, passaram a aplicar o regime de trabalho home office ou remoto.
Popular em outros países, mas nem tanto no Brasil, trabalhar em casa demandou, em um primeiro momento, adaptação, organização e, em alguns casos, colaboração dos demais integrantes da família. De acordo com um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2020, 11% dos trabalhadores brasileiros adotaram o trabalho em casa.
“O momento exigiu que, além das empresas, os trabalhadores, as famílias se adaptassem a uma nova realidade de uma forma brusca. O home office em outros locais tem planejamento, ponderações. Por aqui, foi algo emergencial, pessoas estavam adoecendo e morrendo rapidamente por causa de um vírus, até então, desconhecido por muitos. Não tivemos tempo hábil para realizar esta mudança de forma planejada”, ressalta Cíntia Braga, especialista em Recursos Humanos e consultora de carreiras.
Adaptação e planejamento passaram a ser palavras de ordem para a professora Karen Nascimento, que se viu em casa com o marido, a filha e nove turmas on-line do ensino fundamental II. Ela conta para o LeiaJá que o início foi difícil, principalmente, por desconhecer a plataforma adotada pela instituição de ensino onde trabalha para manter o ano letivo. “Foram muitos dias vendo tutoriais, pedindo ajuda ao meu marido e colegas até consegui me adaptar ao sistema. Errei bastante, mas sempre queria aperfeiçoar e trazer coisas novas para os alunos”, diz.
A docente afirma que após o primeiro mês trabalhando de casa, já não apresentava dificuldades, mas, os desafios passaram a ser a participação dos estudantes nas aulas, as demandas da casa e a filha, que também estudava em caráter remoto.
“Muitas vezes, entrava na sala virtual e todas as janelas estavam fechadas. Muitos alunos não ligavam a câmera nem interagiam. Foi algo complicado, porque na sala de aula física a dinâmica é outra. Fora isso, ainda tinha que auxiliar minha filha nas aulas e atividades”, explica.
Mesmo assim, Karen afirma que o tempo em home office foi positivo e uma das melhores experiências de trabalho que teve. Atualmente, ela ministra aulas de forma híbrida, ou seja, presencial e remoto.
“O home office me proporcionou acompanhar mais de perto a minha filha, além de, finalmente, conhecer alguns pais e responsáveis. Trabalhar em casa me deixou segura, menos exposta neste período de pandemia, além da questão da mobilidade. Reconheço meu privilégio, pois, sei que muita gente não teve essa oportunidade”, observa.
Diminuindo distâncias
O mesmo pensamento é do publicitário Everton Nunes. Morador do município de Itamaracá, litoral pernambucano, ele trabalha em uma agência de comunicação situada na área central do Recife. Antes da pandemia, Everton acordava às 4h para conseguir chegar no horário.
“Todos os dias, antes da covid, eu dormia tarde e acordava muito cedo. Chegava sempre cansado e não tinha tanto tempo para me recuperar. Sem falar no transporte e trânsito, um horror”, aponta.
Ao LeiaJá, o publicitário afirma que o home office o deixou mais focado, organizado e criativo. "Como não me sinto muito cansado, isso aumentou meu desempenho e refletiu na minha criatividade. Passei a produzir mais e melhor e isso me deixa muito feliz. Sempre via as startups com esse tipo de modelo e me questionava se realmente dava certo. E dá mesmo", fala.
Questionado se sente falta do trabalho presencial, Everton Nunes é taxativo: "Gosto do meu ambiente de trabalho e da convivência com os amigos e colegas da agência, mas prefiro essa dinâmica mais flexível e sem trânsito". E complementa: "No momento, não me vejo de volta ao presencial e a empresa já decretou home office até o final do ano. Isso é uma alívio porque a pandemia ainda não acabou".
Chegou para ficar?
A especialista Cíntia Braga explica que muitas corporações, em um primeiro momento, não eram favoráveis ao trabalho remoto. Uma das justificativas apontadas por ela é a questão da produtividade.
"Por total desconhecimento, acredito que muitas empresas relutam em adotar o sistema home office. Ainda se tem o pensamento que para ser produtivo o profissional deve estar no escritório e às vistas do gestor ou dono da empresa", aponta.
Para ela, após o período de adaptação, o home office passou a ser visto de forma positiva pelas instituições e sua adesão deve ser permanente em alguns casos. "Passado o momento de adaptação e reorganização laboral, as empresas começaram a ver resultados positivos no rendimento da equipe e qualidade do trabalho. Acredito que o trabalho remoto é o presente e futuro e tem tudo para ser adotado por muitos lugares".