Empreendedoras ocupam espaço em bares e restaurantes

Em Belém, mulheres se destacam à frente de negócios num setor até pouco tempo dominado por homens

ter, 02/08/2022 - 15:59

Embora a crise econômica causada pela pandemia de covid-19 continue assolando o Brasil, o setor de bares e restaurantes, junto com o setor de alojamentos, foi responsável por mais de 1,2 milhões de contratações de novos funcionários entre abril de 2021 até maio de 2022. Os estabelecimentos de alimentação respondem por 90% dessas novas vagas, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o que representa uma evolução de 29,2% na comparação com o primeiro trimestre de 2021.

O faturamento nos bares e restaurantes continua subindo em 2022. É o que mostra uma pesquisa da Abrasel com empresários em todo o país. Entre os estabelecimentos, 35% disseram ter trabalhado com lucro em abril, contra 28% que registraram prejuízo. Os números mostram que a retomada está em curso: em janeiro, eram 43% os que fizeram prejuízo e 22% os que trabalharam com lucro. E 73% disseram ter tido desempenho melhor em abril de 2022, quando comparado a abril de 2021.

Segundo Isabela Valle de Lima, 37 anos, presidente da Seção Pará da Abrasel, atualmente, após o declínio da pandemia, a associação conta com cerca de 70 bares e restaurantes integrantes e pretende dobrar esse número até o final de 2022. Ela ressalta o papel das mulheres nesse ramo. “Ao menos metade ou quase, dentre os associados, é capitaneada por nós mulheres. Ainda é um setor dominado por homens, principalmente na parte de gestão, mas existem exceções. Normalmente os cafés são geridos por mulheres, assim como a maior parte dos colaboradores de bares e restaurantes”, afirmou.

Se o mercado ainda é dominado por eles, essa não foi uma realidade na história de vida de Isabela. “Tive uma educação muito igualitária, principalmente em casa, mas no colégio também. Ser mulher nunca me limitou em nada. Nós temos um perfil mais desenvolvido de liderança, através de características que hoje em dia são muito mais valorizadas que conhecimentos técnicos. As chamadas ‘soft skills’, com maior facilidade de comunicação, escrita, empatia, organização, dentre outras”, disse.

Isabela é bacharel em Direito, mas há sete anos resolveu empreender no ramo de restaurantes. Atualmente é proprietária de um restaurante na capital paraense, sócia em outro, localizado em um hotel sofisticado da cidade, e comanda cerca de 70 funcionários diretamente. Abandonou totalmente suas atividades no setor jurídico e dedica-se integralmente aos seus empreendimentos, fonte de 100% de sua renda.

Retomada e contratações

A pandemia foi um período de recessão econômica, fechamento de empresas e adiamento de sonhos para muitos brasileiros. Foi o que ocorreu com Thays Ribeiro, 34 anos, advogada e empresária, que empreendia no setor de bares desde 2016. Após romper uma antiga sociedade, ela planejava abrir sozinha outro empreendimento. Com a chegada da pandemia, o sonho foi adiado por quase dois anos.

Se por um lado foi adiado, por outro foi tempo suficiente para planejar tudo em detalhes. Inaugurado há três meses em Belém, o atual empreendimento de Thays é um bar de coquetelaria sofisticada, que resgata os coquetéis clássicos, apresenta novas criações e já recebeu mais de três mil clientes, somente nesse primeiro trimestre de funcionamento. “Eu trouxe o conceito da coquetelaria clássica, só atendo as pessoas sentadas, música soft, drinks bem servidos, atendimento muito bem feito, e sempre zelo por isso, que a equipe chegue, se apresente, ofereça água, são os detalhes que fazem a diferença. A gente sabe que quando o negócio abre tudo se tem, depois vai se perdendo ao longo, e o que eu espero é que, enquanto o Azo estiver de portas abertas, não perder essa qualidade de atendimento”, observou.

A equipe do bar é formada 90% por mulheres, desde a cozinha, atendentes, caixa e “bar maids”. A empresária lembra que no início foi difícil conseguir mão de obra qualificada, por priorizar a contratação de mulheres. Para ela, isso tem muito a ver com a falta de oportunidades do mercado.

Thays ofereceu treinamento e qualificação para as mulheres contratadas e conta como foi começar do zero o contato com fornecedores, em sua maioria homens. “Os fornecedores homens têm uma mania de querer me explicar as coisas. Eu não pedia ajuda, mas eles achavam que eu precisava de ajuda. Não que eu saiba tudo, mas eles achavam que eu precisava de ajuda e que precisavam me ensinar as coisas”, relatou.

Outra curiosidade diz respeito à atitude de clientes, quando chegam ao bar e constatam que a proprietária é uma mulher. “É muito comum, aqui, durante o funcionamento, chegarem e perguntarem: ‘Ah, tu que és a dona? Deixa eu te dar umas dicas’. E eu já tive um sócio, no passado, que era homem, e não via no dia a dia as pessoas terem essa postura com ele”, disse.

Thays relata ainda que, apesar de o negócio estar dando certo, enfrenta muito preconceito, falta de credibilidade e até surpresa. “Acho que é um passo muito importante para as mulheres, não só empreenderem nesse, mas em todos os setores. Quando uma mulher abre as portas, ela tem que trazer todas as outras junto.”

Por Monique Leão (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

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