Coletiva promove letramento para mulheres do Bode, no Pina
A iniciativa é realizada porta a porta, sempre aos sábados, e contabiliza cerca de 12 alunas
Com atuação territorial na Comunidade do Bode, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, a Coletiva Cabras, formada integralmente por mulheres, nasceu durante o período mais grave da pandemia de Covid-19, em agosto de 2020. As ações emergenciais durante a crise sanitária foram direcionadas, principalmente, às jovens e mulheres (cis e trans) da localidade, que é uma das primeiras comunidades pesqueiras do Brasil, e abarcaram distribuição de kits da primeira infância (com itens para bebês), sopa, cestas básicas, promoção de mutirão de vacina e oficinas. Sem remuneração ou financiamento, as 10 integrantes do grupo iniciaram em 2021, ainda em meio ao cenário pandêmico, um projeto de letramento porta a porta para mulheres, mães solos e periféricas.
A iniciativa conta apenas com uma professora, que também coordena o letramento, Yana Texeira. As aulas são realizadas sempre aos sábados a cada 15 dias, com duração entre 40/50 minutos. De acordo com Paula Menezes, Diretora Executiva e Cofundadora da Coletiva Cabras, a ação contabiliza cerca de 12 alunas, que recebem material de estudo em uma bolsa confeccionada por uma estudantes do projeto e, quando possível, cestas básicas. “A gente começou com a distribuição das cestas como forma de incentivo. Nem sempre a gente consegue, porque demanda investimento. Mas, mesmo assim, elas continuam a querer as aulas”, frisa a cofundadora da coletiva. O processo de letramento vai muito além do aspecto conteudista e oferece às jovens e mulheres da comunidade o acesso às informações e Educação política.
Letramento porta a porta realizado pela Coletiva Cabras na Comunidade do Bode. Foto: Thalita Fernanda/Coletiva Cabras
A professora e coordenadora da iniciativa, Yana Texeira (ao centro) entrega kits com materias escolares. As bolsas são produzidas por uma aluna do projeto. Foto: Thalita Fernanda/Coletiva Cabras
Uma dessas estudantes do projeto é Cláudia Souza, mulher trans, moradora do Bode e, após ser assistida pela Coletiva e participar de um curso de liderança compartilhada, passou a ocupar o cargo de coordenadora no grupo. Ao LeiaJá, Cláudia, que estudou até a 4ª série do ensino fundamental 1, conta que as ações e conversas foram importantes para retornar à sala de aula. “Estudei até a quarta série porque tive que trabalhar, né? (sic) Eu acho ótimo ser na casa da gente, porque dá para fazer as coisas, organizar melhor o dia. Eu não posso estudar em outro canto no momento”, disse. À reportagem, ela afirma que tem planos para dar continuidade aos estudos, à noite, em uma instituição de ensino.
Paula Menezes (camisa roxa), Thalita Fernanda (ao centro) e Ana Karla (camisa preta) fazem parte da Coletiva Cabras. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Cláudia Souza é aluna do letramento e uma das coordenadoras da Coletiva Cabras. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Mãe de quatro filhos e prestes a ser avó pela segunda vez, Mirella Santana também é uma das participantes da iniciativa educacional. Ocupando desde cedo uma posição de cuidado, como a maioria das mulheres, assim como Cláudia, Mirella estudou até a 4ª série. Ao LeiaJá, ela ressalta que a flexibilidade do letramento porta a porta permitiu a retomada dos estudos. Segundo Paula Menezes, para que Cláudia, Mirella e outras mulheres da Comunidade do Bode frequentem uma escola, em uma turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA), é necessário deslocamento para outras comunidades, o que implica em gastos com transporte público, uma logística com os filhos e segurança. “A única escola que tinha EJA está fechada”, comenta Paula.
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