França declara guerra à magreza extrema
'não voltaremos a ver nas revistas da França modelos ou fotografias de modelos extremamente magras', afirmou o ex-deputado Olivier Véran, autor da proposta
Uma lei aprovada esta semana na França busca lutar contra a magreza extrema que impera no mundo da moda.
"Assim que forem adotados os decretos de aplicação, não voltaremos a ver nas revistas da França modelos ou fotografias de modelos extremamente magras", afirmou o ex-deputado Olivier Véran.
Meses atrás, ele apresentou uma emenda a partir da qual se proibiria em território francês trabalhar com modelos desnutridas. Esta lei, aprovada definitivamente nesta quinta-feira na Assembleia Nacional, prevê que, para trabalhar na França, as modelos terão que apresentar um atestado médico que comprove que "seu estado de saúde, levando em conta, principalmente, o Índice de Massa Corporal (IMC), é compatível com o exercício da profissão".
"Lutamos contra a desnutrição que se impõem, ou que, às vezes, é imposta a algumas jovens para que possam trabalhar", explicou Véran.
As revistas ou agências que não respeitarem a lei poderão ser punidas com até seis meses de prisão e multa de 75 mil euros.
"Agora, terão que apresentar um atestado, e iremos exigi-lo", afirmou à AFP Ralph Toledano, presidente da Federação Francesa de Costura.
- À la Kate Moss -
"O mais importante deste texto é que, agora, estas jovens terão acompanhamento médico", comentou Nathalie Godart, psiquiatra para adolescentes no Instituto Mutualista Montsouris, em Paris.
"Mas além da saúde das modelos, devemos estar atentos à imagem divulgada pela mídia do que deveriam ser as formas normais de uma jovem. Quando se tomam como referência pessoas em estado de magreza patológica, criamos uma situação prejudicial às adolescentes", assinalou.
Entre 30 mil e 40 mil pessoas, 90% delas adolescentes, sofrem de anorexia mental, uma das patologias psiquiátricas com maior índice de mortalidade.
Mas este tema continua sendo um tabu no mundo da moda, onde as modelos ultramagras à la Kate Moss continuam sendo a regra.
"Ninguém quer ver mulheres gordas nas passarelas", declarou em 2013 o estilista Karl Lagerfeld, adepto de declarações polêmicas sobre o tema.
No mundo da moda, teme-se que esta lei resulte na determinação de um IMC mínimo para se poder desfilar.
"É melhor que este índice não conste da lei, porque pode ser uma armadilha", teme Isabelle Saint-Félix, secretária-geral do Sindicato Nacional das Agências de Modelos (Synam), que reúne cerca de 40 agências.
"Imagine que, um dia, fique decidido que, abaixo de um certo IMC, as modelos não poderão trabalhar. Seria catastrófico para as agências francesas, e poderia ser considerado discriminatório", estimou.
Este passo já foi dado por Israel, um dos primeiros países a aprovar uma lei que proíbe modelos muito magras. A lei, que entrou em vigor em 2013, determina um IMC mínimo de 18,5 para as modelos em revistas e desfiles.
Espanha, Chile, Itália e Bélgica também tomaram medidas legais ou regulamentares para lutar contra a magreza extrema.
"Fico tão aborrecida quando alguém me diz que eu tenho que perder peso", comentou a top Cara Delevingne. "Se não me querem como modelo, não me importo!"