Um sonho na ponta dos pés. Bolshoi fará seleção em Belém.

Tradicional escola de balé russa, com filial em Joinville, firma parceria com Studio de Dança por Lucinha Azeredo, da capital paraense, para selecionar bailarinos

por Mirelly Pires qua, 29/06/2016 - 16:04

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Croise devant, croise derriere, epaule, ecarte, plié, demi-plié. Essas palavras fazem parte do dia a dia dos bailarinos do Studio de Dança por Lucinha Azeredo, em Belém. São expressões comuns para jovens que têm o sonho do balé estampado nos olhares. Este ano, a escola foi escolhida para uma parceria com a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. No dia 30 de julho, a importante escola de dança russa fará uma pré-seleção com bailarinos paraenses nascidos entre 1998 a 2007. Os dançarinos que se inscreveram terão a oportunidade de participar de uma aula com professores da Bolshoi e serão avaliados. Os mais bem colocados vão participar da seleção final, em Joinville.

Pensando nisso, o Studio de Dança da professora Lúcia realizará um curso de verão. Serão três dias intensos de aulas de balé e, logo após, será realizada a pré-seleção de alunos para ingressar na Bolshoi, em Joinville. “Eu falo para eles: vocês não vão ser ricos, não vão ser milionários, mas podem viver bem. E viver bem fazendo o que a gente ama é a melhor coisa que tem”, diz a professora Lúcia Azeredo, que coordena os alunos no estúdio de dança e ensina para eles não somente balé, mas também sobre a perseverança para seguir carreira na dança. Segundo ela, ser bailarino em Belém e no Brasil é muito difícil. “As pessoas dizem: tu sempre levas teus alunos para fora do Brasil. Eu respondo: claro, é lá que eles são reconhecidos”, diz. Ela comemora o avanço dos estudos da arte na cidade, como os cursos de dança da UFPA. Mas, para ela, muito ainda precisa ser feito para que os sonhos, como os dos alunos que ela recebe no estúdio, sejam realizados.

As turmas do estúdio são variadas. Indo de crianças pequenas até adultos. Ariany dos Anjos tem 17 anos. Esse é o último ano que ela pode participar da pré-seleção da escola Bolshoi. Ela está ansiosa. “Quando eu danço balé, eu me sinto mais livre, eu consigo transmitir para as pessoas aquilo que eu guardo no meu coração de melhor”, diz.

Abraão Hugo tem 16 anos e dança há três anos no estúdio com a professora Lúcia. Ele foi contemplado com uma bolsa de estudos para dança clássica na escola. “Hoje em dia eu virei bailarino e estou aqui”, explica. “Comecei a dançar, fui me aprofundando e a professora me passou todos os conhecimentos”, afirma. “Dançar é uma necessidade hoje em dia. É uma coisa que eu preciso para viver.”

Julia Menezes, 15 anos, dança desde os 3 anos de idade. “Eu me sinto bem livre quando eu danço. Parece que quando eu danço, algo mágico acontece no meu coração que eu não sei explicar. Eu sinto coisas que eu não sinto normalmente, parece que algo flui. O meu objetivo sempre é tocar as pessoas quando eu danço.”

No balé, é muito comum que as meninas comecem desde muito cedo. Segundo a professora, a jornada do bailarino não é nada fácil. Esse grupo treina todos os dias, pelo menos uma hora por dia. Segundo eles, há ensaios aos sábados, domingos, feriados, dias santos. O balé vem em primeiro lugar. Eles participaram do Belém Dance, que ocorreu no mês de junho na capital paraense e, sozinhos, levaram cerca de metade dos troféus.

Louise Pimentel tem 14 anos e dança há uma década. Ela participou do primeiro curso de verão oferecido pelo estúdio em 2013. “Foi uma experiência maravilhosa, ainda mais para mim que tinha 11 anos. Foi o meu primeiro contato com professores de fora e foi muito gratificante, porque completamente diferente do que eu estava acostumada. Foi mais puxado, com mais adrenalina, foi mais empolgante”, explica. Dois professores da escola em Joinville participaram.

A bailarina já recebeu uma bolsa para participar de um curso intensivo de cinco semanas no American Academy of Ballet, em Nova York. “Foi uma experiência incrível. Tanto para a minha carreira como bailarina, quanto para a minha vida. Eu amadureci muito quando voltei de lá.”

No estúdio de dança, uma família se formou. Todos são amigos e apoiam uns aos outros. Para a pergunta se “essas pessoas são a segunda família de vocês”, a resposta saiu unânime: sim! “É um suporte. Porque, às vezes, a gente encontra no outro o que não encontramos dentro de casa”, diz Ariany dos Anjos. “Eles passam mais tempo aqui do que em casa”, diz a professora Lúcia.

Com apoio de Julyanne Forte, Marcella Salgado e Letícia Aleixo.

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