Pindukinha mantém acesa a tradição do carimbó

Filho de Pinduca fala sobre a trajetória musical que uniu a família em torno do patrimônio imaterial cultural do Pará

seg, 07/11/2016 - 10:13

Aurino Quirino Gonçalves é conhecido pelo talento para se expressar. Há anos ele valoriza a cultura paraense com muita música. Afinal, “é disso que o povo gosta, é isso que o povo quer”, como esse artista paraense costuma se referir em seu programa de rádio. Quem conhece o nome até pode estranhar e se perguntar: será que esse Aurino Quirino é o rei do carimbó?. O Pinduca? O Pinduca tem programa de rádio e eu não sabia? Não, não é Vossa Majestade. De fato, o homem do chapéu colorido continua com seus sucessos tocados em emissoras AM e FM. O personagem aqui trata-se de Aurino Gonçalves Filho, o Pindukinha. “É com ‘k’ mesmo para ficar com estilo”, diz o radialista às gargalhadas. O que é fácil na vida dele: sorrir. “Sou de bem com a vida”, resume.

Pindukinha é filho mais velho do rei do carimbó. Ele já acompanhou quase toda a trajetória do pai desde quando, nos anos 60, decidiu apostar no ritmo que chegou a ser proibido pelo Código de Postura de Belém, cidade onde o músico e a família passaram a morar enquanto o artista, natural de Igarapé-Miri, interior do Pará, alimentava o sonho de ser cantor. O que se realizou, mas teve percalços: “Meu pai foi vaiado. Lembro de quando falavam mal dele na vizinhança, mas ele apostava nesta música que ele ouvia e dançava desde a infância. Eu, minha mãe e meus irmãos gostávamos das roupas coloridas dele e até brincávamos de roda de carimbó nas reuniões em nossa casa”, recorda.

Desde a adolescência, Pindukinha passou a acompanhar o pai em rodas de carimbó. “Como dançarino ou músico pude acompanhar meu pai gravando o primeiro LP, ‘Carimbó e Sirimbó do Pinduca’. Foi quando ele se tornou conhecido e a música dele passou a ser mais aceita no início dos anos 70”, afirma.

O bairro do Guamá, na capital paraense, onde Pindukinha e família residem até hoje, passava a respirar o carimbó dançante, influenciado pelos ritmos latinos, com vocais rasgados e guitarra elétrica. “E foi assim que vi meu pai influenciar ao cantores paraenses modernos. Da lambada, o tecnobrega, calypso, com suas guitarras, têm a influência da forma que tocamos o carimbó. Fizemos a junção de uma música regional com a guitarra elétrica”, conta.

A sonoridade regionalista de Pinduca já se tornou tese de doutorado até no Rio Grande do Sul. O trabalho atenta para os anos 70, quando a música se manteve fora do olhares da censura na Ditadura Militar. Além disso, o tino comercial tornou o som mais atrativo para o mercado. “Foi quando nossa vida começou a melhorar. Começamos a contratar dançarinos e montar uma estrutura de palco para as apresentações”, reconhece o filho admirador do pai. “Esta modernidade foi determinante no sucesso de meu pai. Além disto, a escolha de temas do dia a dia também reforçou esta aceitação popular, até hoje, como ‘Bicho Papão’ sobre o Paysandu e a ‘Marcha do Vestibular’, sem contar outros sucessos.”

Por Toni Gonçalves Carapirá.

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