Vozes da Periferia: a Zona Oeste que se fez e faz ouvir

Em reportagem especial para o 'Voz da Periferia', fomos conhecer como, na região oeste do Recife, o underground divide espaço com o brega

por Paula Brasileiro sab, 29/09/2018 - 09:30
Chico Peixoto/LeiaJá Imagens Os músicos da Plugins e o rapper Zaca de Chagas são parte da cena da Zona Oeste Chico Peixoto/LeiaJá Imagens

Se pudessem falar, as ruas de bairros como Jardim São Paulo, Totó e Tejipió, na Zona Oeste do Recife, contariam muitas histórias sobre o intenso movimento musical que levou jovens de todas as partes da cidade para lá e, também, fez surgir muitas novas bandas. Como não falam, quem conta sobre o período, os idos do início dos anos 2000, são os músicos Zaca de Chagas e os integrantes da Plugins, ‘crias’ daquela região e também portadores das muitas 'Vozes da Periferia', que você conhece nesta série especial de reportagens do LeiaJá.

Era na casa de Sérgio Sombra, guitarrista da Plugins, que a ‘galera’ se encontrava para curtir os sons que vinham de fora. Lá funcionava um bar onde tocava Ratos de Porão, DFC, Mukeka de Rato, Sheik Tosado e Pavilhão Nove, entre outras bandas. Depois, os eventos começaram a pipocar - o primeiro foi promovido por Dona Silvana, mãe de Sombra: Festival Raízes, Caverna do Sombra, Galpão do Rock, Jardim Sonoro. “Na época não tinha internet pra registrar. Mas era uma efervescência muito grande aqui na Zona Oeste, os últimos bairros do Recife”, relembra Sombra.

Zaca tinha apenas 11 anos então, e foi estimulado pelos mais velhos a entrar na cena musical do bairro: “Era muito intenso o lance do rock'n roll, igual ao Alto Zé do Pinho. Eu acho massa isso, eu muito novo no meio da galera, conhecendo muita coisa. Tenho muitos amigos aqui que eram de banda”, relembra o rapper.

O movimento que reunia centenas de jovens foi essencial para o desenvolvimento artístico dos músicos, como diz Fabrício Felipe, vocalista da Plugins: “No começo foi mais uma questão de saber o caminho a seguir, na quebrada existem várias vertentes musicais, aqui a gente escuta todo dia o brega, o pagode, os MCs que moram aqui por perto, existe essa linguagem gigantesca, e vai de você escolher o seu direcionamento”.

Hoje em dia, a cena underground já não tem tamanha força na Zona Oeste:  “Hoje, a maioria (dos jovens) curte o brega, ficam na internet, cada um com seu som”, diz Sombra. Fabrício complementa o amigo citando o movimento de outra periferia, o Alto José do Pinho: “O Alto iniciou uma coisa da comunidade e ele permanece forte na comunidade. Aqui, a gente lutou até onde pôde para que as coisas continuassem. Hoje em dia a gente não tem mais o pico pra se encontrar como antes”.

‘Totólândia’

Todos concordam com a predominância da cultura do brega dentro da comunidade e fora dela, tendo se tornado, também, o estilo comercial da ‘quebrada’. Eles apontam que o modo de trabalhar dos artistas desta cena é diferente do deles, que atuam de forma independente: “Eles têm pessoas por trás, tem empresários que facilitam as coisas. Tem gente ‘da gente’ que não aceita essa parada. Isso também favorece muito para que a galera esteja na mídia, ter alguém de apoio por trás fazendo e indicando, fazendo a assessoria”, diz Zaca.

As temáticas abordadas nas letras e a forma de se apresentar também são diferenciais significativos, como aponta Fabrício: “Se você for num brega aqui a casa tá lotada, mas pra um show de rock e rap, com protesto como a gente faz, você colocar gente pagando dez conto, é complicado”. Sombra complementa: “O MC do brega saiu quebrando várias vertentes, do brega mesmo, aquele brega de banda, o clássico. Uma banda de brega é muito difícil gerar hoje. Levar um MC pra São Paulo é mais fácil que levar uma banda”.

Eles acreditam que parte do apelo desses artistas vem do pouco investimento que demandam em função de um retorno financeiro rápido que podem trazer. "Lógica de capitalismo”.

Resistência e referência

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“Existe muito esse foco de que a periferia é brega, a galera generaliza a quebrada. Quem quer entrar no brega, vai seguir nele, não tenho nada contra”, diz Fabrício sobre a predominância que o estilo tomou auxiliado pela grande mídia. Mas os tempos áureos de eventos e movimentos underground da Zona Oeste não deixaram só lembranças, eles continuam motivando artistas como Zaca de Chagas e a Plugins a se manterem na ativa, cantando suas periferias e servindo de influência para as novas gerações, como garante Fabrício: “Acontece até hoje porque a gente é resistência, a gente é chato e o cabelo ainda ajuda. Tem que gostar do que faz”.

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