Pesquisadores lançam livro sobre comunidades amazônicas
“Como lidar com uma Amazônia sensível” propõe reflexões e um novo olhar para a compreensão da realidade de populações ribeirinhas e quilombolas do Pará
O livro “Como lidar com uma Amazônia sensível: identidades, direitos e qualidade de vida em comunidades urbanas, rurais, ribeirinhas e quilombolas no Pará”, organizado pelos pesquisadores João Cláudio Arroyo, Hilton Silva e Poliana Bentes, foi lançado na noite de terça-feira (15), na UNAMA – Universidade da Amazônia, campus da Alcindo Cacela, em Belém.
O professor e mestre em Economia João Claudio Arroyo diz que a obra propõe a reflexão sobre o papel dos amazônidas no processo de desenvolvimento. Para isso, ele entende que é necessário refletir também sobre o que significa esse desenvolvimento. “É só crescer a produção ou é a qualidade de vida, saúde, educação das pessoas?”, questiona.
O professor explica que, se focarmos no nível e na qualidade de vida das pessoas, é possível perceber que esse processo é fundamental no cotidiano delas. “É impossível pensar o desenvolvimento da Amazônia sem a inclusão das comunidades rurais e urbanas”, afirma.
Arroyo ressalta que o desenvolvimento econômico pressupõe a inclusão das comunidades e aprendizados com os valores e com a cultura delas, para que haja a compreensão de que a qualidade de vida desses povos não pode ser elevada sem a interação. “Essa é a principal mensagem no nosso livro”, destaca.
Apesar de ter sido organizada por três pessoas, a obra foi escrita por 15 autores – pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), da UNAMA, do Sindicato das Indústrias Minerais do Pará (Simineral) – e conta com o apoio do UNICEF, reunindo aprendizados com quilombolas, indígenas, ribeirinhos e comunidades urbanas. “Esse livro expressa esse ponto de maturidade como cientistas deste grupo de autores”, diz o professor.
Arroyo diz ainda que, para o Programa de Pós-Graduação em Gestão de Conhecimentos (PPGC) da UNAMA, o livro também é muito importante por apontar o caminho de prestação de serviço para a sociedade e de diálogo com os tomadores de decisão. “Não podemos mais insistir em coisas que não deram certo. Então, é o compromisso da UNAMA e do PPGC, em particular, levar soluções para a sociedade”, afirma.
A pesquisadora Poliana Bentes, mestre em Gestão de Conhecimento para o Desenvolvimento Socioambiental, conta que foi uma honra poder organizar essa obra que apresenta tantas experiências e vivências, principalmente de grupos que são muito vulneráveis. “Poder ter esse olhar e levar esse conhecimento para a sociedade é muito gratificante”, relata.
A respeito da contribuição do lançamento do livro para o desenvolvimento do PPGC, Poliana afirma que acadêmicos devem produzir e levar cada vez mais informações para que elas não fiquem somente na universidade. “Que elas possam chegar a ter acesso e que as pessoas possam também conhecer essa realidade”, diz.
A assessora de comunicação do UNICEF na Amazônia, Ida Oliveira, esteve no evento e explica que o lançamento do livro foi uma oportunidade muito importante de dar visibilidade a uma comunidade que era e continua sendo invisível. “Os quilombolas no Pará, como na Amazônia de uma maneira geral, são invisíveis. Há uma impressão de que Amazônia é indígena, mas Amazônia é negra e certamente até mais que indígena”, afirma.
Ida ressalta que há uma mistura de etnias, cores e de culturas na região amazônica que poucas pessoas conhecem. “O registro disso, o conhecer isso, possibilita que a gente possa de fato contribuir para outra Amazônia. Uma Amazônia em que os direitos dessas populações, de crianças e adolescentes possam ser respeitados e de fato realizados”, reforça.
Além disso, Ida acrescenta que a obra também contribui para que essas comunidades tenham capacidade e competência para escrever a própria história. “Não teria sentido a gente apoiar o fortalecimento comunitário, a construção dessa identidade, dessa visibilidade, se a própria comunidade não fosse ela mesma protagonista da sua história, então eu fico muito feliz de o UNICEF ser parte disso”, enfatiza.
O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, também esteve presente no lançamento e parabenizou a UNAMA pela vitória do saber científico. Para ele, o livro não se resume a um manual. “É um conjunto de artigos que tentam captar a alma daquela comunidade, o seu modo de relacionar com a natureza, os modos de viver naquele lugar, os modos de relação entre as pessoas, e que se expressam na cultura, no trabalho, nos sonhos”, afirmou.
Edmilson Rodrigues destacou que a grande contribuição do livro é incentivar a sensibilidade e permitir que as pessoas aprendam sobre a essência da Amazônia, que é a sua natureza e o seu povo na sua diversidade.
“São muitos povos na Amazônia, são muitas línguas, muitas culturas. E estudar com foco na antropologia, na economia solidária, em uma comunidade quilombola é realmente a possibilidade de estabelecer uma revolução para aquela comunidade e para todas as demais que possam se apropriar desse conhecimento”, conclui.
Por Isabella Cordeiro.