No 50º jogo de Tite, Brasil enfreta o Peru
Ida para Lima acontece em uma operação inédita contra a Covid-19, que além de cumprir as recomendações da Conmebol, se dá pela preocupante situação da pandemia no Peru
A seleção brasileira vai enfrentar o Peru, nesta terça-feira, às 21 horas (de Brasília), em Lima, pelas Eliminatórias Sul-Americanas, dentro de um esquema preparado pela CBF que lembra uma "bolha". Atenta os riscos de contaminação do coronavírus, e seguindo o protocolo sanitário definido pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), a delegação permanecerá por pouco mais de 30 horas no país.
A operação, inédita, além de cumprir as recomendações da Conmebol, se dá pela preocupante situação da pandemia no Peru. O país que receberá o jogo da seleção é, afinal, o que atualmente tem a maior taxa de óbito no mundo, com 1.002 casos por milhão de habitantes, segundo aponta a organização Worldometers, que compila estatísticas de órgãos oficiais sobre o coronavírus.
"Nos foi orientado pela coordenação da CBF, de seus médicos, a condução dessa forma. Seguimos o que o protocolo médico quer com o máximo rigor possível. Sei que não tem segurança total, mas se for humanamente possível nós vamos fazer", afirmou o técnico Tite, que viu, assim, a preparação da equipe para o 50º jogo sob o seu comando ficar em segundo plano, com a prioridade sendo evitar ao máximo qualquer possibilidade de contrair a virose.
O Brasil, afinal, tem adotado um esquema especial de isolamento desde a apresentação em Teresópolis, na Granja Comary, para os jogos contra a Bolívia e Peru, o que inclui o fechamento de todas as atividades, a realização das refeições em turnos diferentes e até a indicação de que os banhos sejam tomados apenas nos hotéis. A delegação também passou por testes na chegada ao seu CT, antes dos dois jogos e depois da goleada por 5 a 0 na estreia nas Eliminatórias.
Para o duelo em Lima, a seleção realizou toda a sua preparação no CT do Corinthians, tendo embarcado ao Peru às 17h de terça-feira, em um voo fretado, apenas 28 horas antes do apito inicial. E, assim, não fez o tradicional treino de reconhecimento do gramado dos jogos, nesse caso, do Estádio Nacional ou concedeu entrevista coletiva no local. Com isso, só terá algum contato com a casa da seleção peruana, na chegada lá, que também será poucos momentos antes do duelo - a equipe deixará o hotel onde está concentrada às 19h15.
A delegação, que precisou apresentar testes PCR negativo para viajar, aliás, ficou restrita ao hotel desde a chegada, sem autorização para deixá-lo. E, ao fim do compromisso, voltará direto ao Aeroporto Internacional de Lima, retornando ao Brasil. Daqui, cada atleta convocado por Tite seguirá para seu respectivo clube.
Apesar do cenário preocupante no Peru, a federação local tentou liberar a presença de 5 mil torcedores no estádio, algo que foi vetado pelas autoridades. Anteriormente, inclusive, o início da partida foi antecipado em duas horas por causa do toque de recolher na capital do país.
Mas as preocupações da seleção em Lima não estão restritas ao extracampo. Afinal, após uma fácil vitória sobre a Bolívia, a seleção terá o seu primeiro "verdadeiro" teste nas Eliminatórias, tanto que o Peru foi o último adversário a superar o Brasil, em amistoso disputado em setembro, se juntando a uma seleta lista, que só contava, até então, com Argentina e Bélgica.
O Peru também foi a única seleção visitante a não perder na estreia nas Eliminatórias, tendo empatado por 2 a 2 com o Paraguai. E está em sua maior série invicta na história do qualificatório. São nove jogos, com quatro vitórias e cinco empates, algo que foi fundamental para a classificação à Copa do Mundo da Rússia.
O confronto, assim, poderá ser um interessante teste para a nova dupla de volantes usada por Tite contra a Bolívia, composta por Casemiro e Douglas Luiz. E outra chance para Roberto Firmino conquistar uma vaga que vem sendo cativa de Gabriel Jesus, lesionado e fora dos primeiros compromissos do Brasil nas Eliminatórias.
O atacante do Liverpool, afinal, marcou duas vezes na goleada. E espera aproveitar a melhor condição física de Neymar, que chegou a ser dúvida para o duelo com a Bolívia por causa de dores nas costas, para ampliar a sua artilharia. Para isso, vai atuar novamente mais fixo no setor ofensivo do que acontece no seu clube. "No Liverpool eu volto um pouco mais, gosto de estar envolvido com o jogo e ajudando com assistências. A meta é dar o meu melhor, sempre", disse.
Firmino e Neymar terão a companhia de Everton Cebolinha e Coutinho no quarteto ofensivo que tentará levar o Brasil a ganhar a estreia como visitante nas Eliminatórias desde 2006 - empatou com a Colômbia (0 a 0) no qualificatório de 2010 e perdeu para o Chile (2 a 0) no de 2018. E um novo resultado positivo deixaria a seleção em boas condições logo na largada para ir ao Catar e ainda ampliaria os ótimos números de Tite no qualificatório - são 11 vitórias e dois empates.
O Peru, aliás, mesmo tendo sido a última seleção a derrotar o treinador, traz mais lembranças boas para ele. Afinal, foi diante dele que o Brasil faturou a Copa América em 2019, com vitória por 3 a 1, depois de uma goleada por 5 a 0 na fase de grupos. E também triunfara nas Eliminatórias, também em Lima, em 2016, por 2 a 0.
A seleção peruana não tem a sua maior estrela, Guerrero, lesionado, mas os dois gols marcados por Carillo diante do Paraguai lhe dão esperança para algo inédito: derrotar o Brasil nas Eliminatórias - são sete derrotas e quatro empates. E o time deve ter uma mudança, com Cueva, lesionado, sendo substituído por Christofer Gonzales. "O desafio é diferente, com uma equipe de nível técnico superior, físico superior, e um desafio para nós: buscar repetir um padrão. Talvez não com a mesma força técnica. Vamos enfrentar um adversário mais forte em circunstâncias mais fortes", alertou Tite.