Bomba no Complexo do Curado aterroriza moradores da região

Explosão na unidade prisional Marcelo Francisco Araújo aconteceu na madrugada deste sábado (5) e danificou a estrutura física de muitas residências do entorno

por Eduarda Esteves sab, 05/03/2016 - 12:17

"Um estrondo muito forte, muita fumaça e cacos de vidro caíram sobre a gente", relatava Sheila Souza, que mora na Avenida Liberdade na frente da unidade prisional Marcelo Francisco Araújo (PAMFA), no Complexo do Curado, Zona Oeste do Recife. Na madrugada deste sábado (5), uma nova explosão atingiu um dos muros do Complexo do Curado abrindo uma cratera de dois metros embaixo de uma guarita de segurança.

O artefato explosivo danificou o muro, que já foi reparado, veículos que estavam estacionados nas proximidades e as estruturas das residências localizadas em frente à unidade. O incidente aconteceu por volta das 3h da manhã e de acordo com o secretário Executivo de Ressocialização, Eden Vespaziano, não houve fuga de nenhum detento e ninguém se machucou.

Assim como o atentado no dia 23 de janeiro, desta vez a suposta bomba também foi colocada no muro da unidade prisional, embaixo de uma guarita e de uma câmera de segurança externa do presídio. O secretário Executivo da Secretaria de Ressocialização (Seres) informou que a área onde colocaram os explosivos é direcionada apenas a guarita e a área administrativa da unidade. "No momento da explosão nós tínhamos um agente na guarita, mas ele não chegou a ver nada. Quem fez isso ficou esperando que o deslocamento do guarda para agir no momento que ele olhasse para dentro do presídio", explica Eden Vespaziano, que na manhã deste sábado estava no Complexo para apurar o ocorrido. 

O cenário na frente da unidade prisional é de muito prejuízo, não só físico, mas também psicológico. Edna Bezerra, que mora em frente ao complexo prisional, conta que na hora da explosão dormia com as suas duas filhas. "Eu abri os olhos e queria entender o que tinha acontecido. Chamei pela minha filha de 13 anos e ela estava em estado de choque, muito nervosa, pensei que estava tendo uma convulsão. A minha casa está destruída, caiu parte do teto do quarto das minhas filhas, o vidro da porta da minha casa foi completamente estilhaçado", lamenta. Ela também relatou que constantemente ouve barulho de tiros vindo do presídio e tem muito medo de ser atingida. "A gente já vive trancado, eu e as minha filhas. Tenho muito medo de bala perdida. Tenho vontade de me mudar, mas é difícil a gente não consegue vender nossa casa por uma valor alto por causa do presídio", conta.

O morador Lucas Bezerra conta que também estava dormindo no momento em que a bomba explodiu. "Eu estava dormindo e ouvi uma estrondo muito forte, nem imaginava que fosse algo no presídio. Quando eu fui olhar, não vi ninguém fugindo, só consegui enxergar muita fumaça na frente do presídio", relatou. Assustado, o jovem de 28 anos conta que cresceu naquela casa, mas que agora quer se mudar 'mais do que nunca'."A explosão danificou muito a estrutura da minha casa. Minha mão ficou muito nervosa. As paredes estão rachadas, o gesso da casa está completamente destruído, os vidros das janelas também quebraram", lamentou. 

Os desdobramentos da explosão ainda estão sendo apurados pela Secretaria de Ressocialização do Estado. Até o momento, ainda não se sabe quem teria deixado no local os artefatos explosivos e qual seria o objetivo da explosão, podendo não ser com o intuito de fuga, como ressalta a moradora Sheila Souza. "Eu acho que a explosão aconteceu muito mais porque eles (criminosos) queriam mostrar que estão podendo e ainda dominam a área", avalia. Trabalhadora de uma Casa Lotérica, localizada em frente a guarita que foi atingida pelos explosivos, ela fez uma crítica ao policiamento no local. "A gente vê muito que apesar de ter a guarita, muitas vezes não tem o guariteiro. Eles ficam andando de lá pra cá", disse Sheila.

De acordo com Eden Vespaziano, o que estaria ocasionando os atentados é o reforço de segurança nos presídios do Estado. "Isso está ocorrendo porque o governo tem aumentado o teor de segurança nas unidades prisionais. Estamos fazendo uma reforma estrutural, implantando mais disciplina na área interna, melhorando a segurança e comprando novos equipamentos de trabalho para o agentes penitenciários. Esse trabalho estimula essas possibilidades de tentativas de fugas e de baderna", argumenta. Segundo ele, o policial que fazia a vistoria da guarita atingida passa bem e deverá ser ouvido para as investigações. 

Os danos estruturais das casas próximas ao Complexo do Curado serão avaliados pelo Estado, informou Vespaziano. "O Instituto de Criminalista (IC) já esteve nos locais que foram danificados e fez um levantamento. Vamos analisar cada caso para fazer o ressarcimentos", contou. Apesar disso, a falta de informações sobre como serão indenizados ainda assusta alguns moradores. "Até agora, com toda essa situação delicada, só um homem da perícia veio olhar a minha casa, tirou umas fotos e fez um trabalho bem genérico. Nenhum órgão veio até aqui para avaliar os nossos danos, nos tranquilizar, nos informar se vão nos indenizar e o que devemos fazer", lamentou.

Apesar do tumulto provocado pela explosão da bomba no Presídio Marcelo Francisco Araújo, uma das três unidades que compõem o Complexo do Curado, as visitas íntimas, que são realizadas nos dias de sábado, não foram canceladas e permamecem normalmente no mesmo horário.

Crise no Sistema Penitenciário 

A situação dos complexos prisionais do Estado passa por muitas complicações desde o início do ano de 2016. Em janeiro, foram realizadas duas tentativas de fuga em massa no Presídio Frei Damião de Bozzano, que também faz parte do Complexo do Curado e na Penitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá, litoral norte de Pernambuco. Na época mais de 40 presos escaparam do Frei Damião, após a destruição do muro. Dois detentos foram mortos e o restante capturado. No Barreto Campelo, foram 53 detentos que fugiram da unidade e muitos ainda não foram capturados.

Ainda na manhã deste sábado, um preso foi morto na Penitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá. De acordo com informações da Seres, o preso José Anildo Silvestre da Silva foi agredido por uma arma branca e veio e faleceu dentro da própria unidade.

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