Prefeitura instala grades para inibir carroças no Centro
Segundo a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano, em janeiro de 2019 os ambulantes do entorno do Mercado São José serão transferidos para um mercado no Cais de Santa Rita
Uma ação da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano tem dividido opiniões dos ambulantes que trabalham no Centro do Recife. É que a Secretaria instalou diversas grades e ferros em ruas do comércio da área central da capital pernambucana. O objetivo, segundo a pasta, é inibir a presença de carroças na região, mas alguns vendedores informais alegam que estão perdendo clientes e mercadorias por conta da medida.
“A gente dependia dessas ruas de entrada e saída. Antes, eu ficava circulando pela [Rua] Duque de Caxias, agora fico parado esperando algum carro parar para comprar as mercadorias”, relata um vendedor de frutas que preferiu não se identificar. Com uma barraquinha estacionada na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no bairro de Santo Antônio, ele afirma que o prejuízo com as frutas é de cerca de 100 reais diariamente, já que o material acaba estragando.
Quem também reclama é a vendedora de água Sebastiana Maria, de 38 anos. Deficiente visual, ela usa o dinheiro das vendas para sustentar a casa onde mora com a filha. Acostumada a vender mais de 10 pacotes do produto diariamente, ela relata que, por conta da fiscalização rigorosa, esse número baixou para 4. “Hoje eu saio andando nas ruas e vendendo, já que não posso ficar parada em lugar nenhum. Já cheguei a ser agredida por conta disso”, relata a ambulante.
Segundo ela, a agressão partiu de um fiscal da Prefeitura do Recife no dia 11 de novembro, no Pátio do Livramento. A comerciante foi até a Delegacia da Mulher, no bairro de Santo Amaro, e registrou um boletim de ocorrência. “Espero ter alguma resposta. Aqui não tem bandido, tem vendedor e a gente quer ganhar dinheiro para sustentar a nossa família”, desabafa. Sebastiana conta, ainda, que tentou se cadastrar na Prefeitura do Recife, mas não conseguiu.
Já Weydson Alves, 23 anos, até consegue colocar a sua barraquinha em frente ao Mercado São José, mas apenas em um horário pré-determinado. “Os fiscais só deixam à tarde. Pela manhã, tenho que ficar em outro ponto. Pra mim, foi péssimo porque acabo ficando em lugares mais escondidos que não têm tanto movimento, então tenho prejuízo”, afirma o ambulante que usa o dinheiro das vendas de hambúrguer, salsicha, queijo e alho para manter a casa em que mora com a esposa e dois enteados no Alto da Bondade, na Zona Norte da Capital.
Por outro lado, tem quem comemore a medida. Alguns vendedores informais consideram que as grades deixaram o espaço mais organizado. “Antes isso aqui era uma bagunça. Havia muita carroça, vendedores espalhados e isso atrapalhava. Agora, está tudo certinho, ficou ótimo”, afirma o vendedor de coco Clemilson Alves que é cadastrado e tem um ponto fixo na Rua Duque de Caxias.
Também com o cadastro em dia, o vendedor de relógios Rodrigo Oliveira, 24 anos, comercializa os seus produtos há dois anos na Avenida Nossa Senhora do Carmo. Para ele, a medida foi benéfica para os vendedores que têm o cadastramento. “Aqui era muito desorganizado, muita gente circulando, muito vendedor, então ficava aquela bagunça. Isso acabava atrapalhando as nossas vendas também, porque era muita gente. Depois que a prefeitura colocou essas grades e começou a fiscalizar, melhorou muito e ficou bem mais organizado”, conta.
O LeiaJá.com conversou com o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, sobre as críticas dos ambulantes. Em relação à implantação das grades, o secretário afirmou que foi necessário para inibir as carroças na área central da cidade. "O que mais complica a mobilidade das pessoas é a ocupação desordenada das carroças. Então, nós colocamos essas barreiras para facilitar o trabalho dos nossos fiscais. Além disso, dentro do espaço dessas barreiras, só pode ficar os ambulantes autorizados. Faremos nas ruas o que for necessário. Esse é começo de um projeto que queremos finalizar até o final de 2019 para organizar todo o centro da cidade", disse.
Sobre a dificuldade para o cadastramento, Braga disse que esse cadastro foi feito por volta de 2014/2015. “Não tem como deixarmos esse cadastro aberto o tempo todo, não teria condições de regularizar tanta gente. Entendemos que o desemprego é grande, as dificuldades aumentaram, mas não podemos abrir mão dos cadastros e também não temos como cadastrar todo mundo. A gente tem sido mais tolerante e ainda há ruas onde essas pessoas sem cadastro podem ficar”, explica. O secretário também prometeu que em janeiro de 2019 será entregue um espaço no Cais de Santa Rita destinado aos ambulantes cadastrados que atuam no entorno do Mercado São José.
Questionado sobre a truculência dos fiscais relatada pelos ambulantes, João Braga reconheceu que isso, de fato, pode acontecer. “Não nego que isso exista, mas muitas vezes as pessoas insistem em ficar no local e, depois de repetidas notificações e pedidos para se retirar, em um certo momento existe uma abordagem mais rude, mas a gente tenta evitar. Mas para o tamanho da cidade, esse número é mínimo. E a gente só faz depois de muito pedido, muito diálogo para sair do local”, afirma.