Julgamento do escândalo da carne de cavalo inicia em Paris

Direção-Geral da Concorrência, do Consumo e da Repressão das Fraudes (DGCCRF), acredita que a carne imprópria foi parar em 4,5 milhões de pratos cozidos, vendidos em 13 países europeus

por Victor Gouveia seg, 21/01/2019 - 11:38
Reprodução/ Pixabay Além de lasanha e hambúrguer, um dos principais produtos com carne de cavalo era o merguez Reprodução/ Pixabay

Após seis anos do descobrimento do escândalo de carne de cavalo vendida como carne bovina na Europa, o julgamento de quatro suspeitos, incluindo dois ex-executivos da empresa Spanghero, se inicia nesta segunda-feira (21), com previsão até 13 de fevereiro, em Paris. A fraude veio à tona no início de 2013, após uma inspeção na Irlanda do Norte revelar problemas de rotulagem e embalagem em um estoque de insumos congelados.

As redes de supermercado Tesco, Islândia e Lidl descobriram que seus bifes continham carne de cavalo. Com isso, muitas fábricas agroalimentares europeias começaram a testar os produtos. No fim de janeiro, o grupo sueco Findus alertou o grupo francês de congelados, o Comigel, “sua lasanha está contaminada, chegando a 100% em alguns casos”.

O Comigel prepara refeições para cerca de 28 empresas em 13 países, incluindo grandes distribuidores, como Picard, Carrefour, Auchan e Monoprix. Seu fornecedor de carne também é francês, a Spanghero, estabelecida na região de Occitânia. Mesmo que a carne de cavalo encontrada em “carne pura” não tenha passado por esta empresa, ela é acusada por ter ciência da fraude.

Os quatro suspeitos de envolvimento no escândalo são: o ex-executivo da empresa de processamento de carne, Jacques Poujol; o ex-diretor do site, Patrice Monguillon, e dois comerciantes holandeses, Johannes Fasen e Hendricus Windmeijer. Há a suspeita que os acusados tenham enganado a Tavola, filial luxemburguesa do grupo Comigel Pratos congelados, entre 2012 e 2013, através da venda de mais de 500 toneladas de carne de cavalo comercializadas como carne bovina. Além desse fato, a própria Spanghero vendeu mais de 200 toneladas de cavalo em forma de merguez e diversas refeições preparadas.

Rótulos alterados

Johannes Fasen vendeu os produtos da Spanghero excluindo qualquer referência à espécie animal nos documentos apresentados, com exceção de um código aduaneiro. Ele havia acabado de ser sentenciado em 2012, na Holanda, por envolvimento em outra fraude com carne de cavalo.

Já a Spanghero é acusada de comercializar a carne como "carne desossada", sabendo que era de cavalo, já que o valor de mercado é mais barato. Além disso, ela modificou os rótulos do produto. A empresa de alimentos preparados ainda é acusada de negligência.

O escândalo alimentar revelou a complexidade do abastecimento e processamento europeu. Hoje, os matadouros não vendem carcaças, mas destrincham os animais para aproveitar ao máximo todas as partes. Eles também fabricam o famoso "minério", uma massa aglomerada de 10 a 25 kg de restos de corte e tecidos gordurosos, que se tornou matéria-prima para refeições prontas em centros industriais.

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