O futuro do jornal impresso: reinvenção ou morte

Projeto experimental da concluinte de Jornalismo Yasmim Bitar, da UNAMA - Universidade da Amazônia, levanta a discussão sobre a imprensa, plataformas e produtos. Acompanhe a série de reportagens.

sab, 02/02/2019 - 10:54

Quantas pessoas você conhece que ainda usam discos de vinil para ouvir música? E quantas você conhece que ainda leem jornal impresso? Essas duas invenções passaram (ou passam) por intensas crises causadas por novas tecnologias. Os vinis não ocupam o mesmo espaço na sociedade que tinham na década de 1940, quando foram criados. Hoje, são uma moda que voltou à tona basicamente por ser um aparelho clássico no mundo da música e pelo carinho daqueles que viveram essa época. Mas qual é a real situação dos jornais impressos? 

Esse meio de comunicação tão antigo vem sofrendo muitas mudanças com as novas concorrências digitais. Existem inclusive rumores de seu fim, mas alguns profissionais da área não concordam com essa hipótese.

Orlando Carneiro trabalha com jornalismo desde os 16 anos, quando implorou à mãe para autorizar que atuasse como locutor na rádio Guajará. Hoje, com 75 anos, acredita ser uma grande testemunha das mudanças que esse ramo sofreu, sem se referir aos seus dois metros de altura, mas à intensa bagagem de histórias e aprendizados. Durante esse percurso, Orlando escreveu crônicas para jornais impressos, foi apresentador do telejornal Factoramana na TV Marajoara, publicou 10 livros e vivenciou outras aventuras, como ele mesmo denomina.

Para ele, o charme de trabalhar com comunicação é saber que os dias não se repetem, já que diariamente novos desafios terão que ser vencidos. Mas e se parte deste todo simplesmente sumir?  Decepcionado, Orlando admite que “o jornal impresso é muito interessante como analítico, mas como informativo inegavelmente está perdendo a razão de ser”. De acordo com ele, as notícias factuais que são publicadas nos jornais impressos, em sua maioria, já estão disponíveis nos jornais digitais desde o dia anterior. “Então para que o leitor vai comprar um material cheio de informações que ele já possui gratuitamente no próprio celular?”, Orlando se pergunta.

O debate que existe sobre a expectativa de vida desse tipo de produção é tão complexo que nem a ciência consegue chegar a uma conclusão. A professora doutora em comunicação Ana Prado assegura que não existe um consenso entre as pesquisas feitas sobre o tema, mas que é certo que cada vez que uma nova forma midiática surge, ela impacta nas formas anteriores. “É óbvio que o jornalismo digital impactou os jornais impressos”, acrescenta ela. Mas apesar das pessoas acharem que o surgimento de uma novidade sepulta a antiguidade, Ana Prado explica que essa tendência esquece que os rádios e cinemas superaram a ameaça televisiva e hoje continuam nos carros e shoppings, o que pode se repetir com os jornais impressos nas bancas de revista.

Apesar da queda de circulação, os jornais de papel ainda estão presentes da vida das pessoas. Talvez isso seja explicado pela crença de Valdo Ferreira, funcionário há 32 anos do jornal O Liberal, em Belém, e hoje diretor de contas da empresa. Para ele, os jornais impressos ainda oferecem muito mais credibilidade que as plataformas digitais, já que os leitores ficam sabendo das informações antecipadamente por elas, mas sempre buscam a confirmação nos tradicionais jornais de papel.

Valdo notou o crescimento das mídias informativas digitais quando a tiragem do jornal impresso começou a cair. De acordo com ele, na década de 2000, o jornal vendia cerca de 100 mil exemplares aos domingos e hoje esse número caiu aproximadamente 50%. Ele ainda diz o mesmo sobre as vendas semanais, que antes alcançavam um público médio de 60 mil leitores e hoje chegam a cerca de 25 mil pessoas diariamente.

Mas assim como os colecionadores de discos de vinil, os jornais impressos ainda cativam um público fiel. Valdo conta que quando, por algum imprevisto, um jornal não chega na casa de um assinante, o cliente imediatamente liga para o jornal para saber o que aconteceu. Ele ainda ressalta como é notório que a indagação não se deve ao valor financeiro, mas porque esse tipo de leitor não abre mão de poder folhear o jornal impresso todos os dias.

Lázaro Morais, editor chefe de O Liberal, diz que com a velocidade dos jornais digitais as notícias ficam ultrapassadas cada vez mais rápido, já que novas atualizações estão sempre disponíveis e que por isso as informações anteriores logo perdem a importância. Ele também acredita que muitos jornalistas ainda não estão preparados para acompanhar as mudanças tecnológicas que vêm ocorrendo no jornalismo. “É preciso entender que a notícia no jornal impresso não precisa ser extensa em termos de tamanho, mas precisa ser profunda em termos de alcance”, explica. 

Já para o editor executivo há seis anos do Diário do Pará, Adaucto Couto, os jornais impressos não mudaram a forma de produzir seus conteúdos com as influências digitais. Otimista, ele ainda se arrisca a dizer que essas novas plataformas não chegam a ser ameaças à sobrevivência dos jornais de papel. Adaucto as enxerga apenas como um tipo de evolução dos meios informativos.

Desencorajando a opinião de Adaucto, os dados do Índice Verificador de Comunicação (IVC), publicados no portal Poder 360, demonstram como os jornais digitais afetaram os impressos. De acordo com eles, de 2015 até 2017, os índices de tiragem dos jornais brasileiros apresentaram constantes e intensas quedas. Durante esse período, a circulação média diária de jornais caiu em 520 mil exemplares. Em dezembro de 2014, a tiragem impressa total dos 11 principais jornais do Brasil era de mais de um milhão de exemplares em média por dia. Já em dezembro de 2017, o número havia caído para aproximadamente 700 mil, ou seja, houve uma redução de 41,4%.

Por outro lado, enquanto o jornal impresso despencava, o número de assinantes digitais aumentava. De acordo com os dados do IVC, o crescimento do público de jornais digitais cresceu em mais de 31 mil assinantes de 2015 a 2017.

Por Yasmim Bitar.

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