Trump e Putin falam sobre Venezuela
A tensão entre a Casa Branca e o Kremlin aumentou nas últimas semanas sobre a Venezuela, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, onde o líder parlamentar Juan Guaidó desafia desde janeiro o presidente Maduro
O presidente americano, Donald Trump, e seu contraparte russo, Vladimir Putin, conversaram nesta sexta-feira (3) sobre a Venezuela, enquanto em Caracas, o líder opositor apoiado por Washington, Juan Guaidó, convocou novos protestos contra o presidente Nicolás Maduro, aliado de Moscou.
"Conversa muito produtiva!" - tuitou Trump após mais de uma hora de diálogo com Putin, no qual, entre vários temas, repassaram "especialmente" a crise venezuelana, afirmou o presidente americano.
O telefonema ocorreu três dias depois de um frustrado levante militar liderado por Guaidó, após o qual os Estados Unidos disseram que a Rússia dissuadiu Maduro de fugir para Cuba, outro de seus aliados. Moscou negou, acusando Washington de apoiar um golpe de Estado "que não tem nada a ver com a democracia".
Putin "não está buscando se envolver na Venezuela, além de que gostaria de ver algo positivo acontecer", disse Trump a jornalistas, ao reiterar que a conversa foi "muito positiva".
A tensão entre a Casa Branca e o Kremlin aumentou nas últimas semanas sobre a Venezuela, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, onde o líder parlamentar Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por meia centena de países, desafia desde janeiro Maduro por considerar "fraudulenta" a sua reeleição.
Segundo o Kremlin, o telefonema foi iniciativa de Washington.
"Putin afirmou que só o povo venezuelano tem direito a decidir o futuro do país", destacou um comunicado russo.
"A interferência em assuntos internos, as tentativas de uma mudança de governo em Caracas à força, minam as perspectivas de uma solução pacífica do conflito", acrescentou.
- Reunião no Pentágono -
A situação na Venezuela foi analisada nesta sexta-feira no Pentágono pelo secretário de Defesa interino, Patrick Shanahan, o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, o assessor de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, e o almirante Craig Faller, que encabeça o Comando dos Estados Unidos para a América do Sul (SouthCom).
Os Estados Unidos avaliam opções militares para a Venezuela "adaptadas" às circunstâncias no terreno, disse Shanahan, que lembrou as advertências reiteradas de Trump de que "todas as opções" estão sobre a mesa. "Tudo incluiria tudo", disse.
"À medida que mudam as condições, fazemos modificações e ajustes", avaliou, negando-se a especificar as operações previstas.
Os Estados Unidos, que consideram a Venezuela de Maduro "um Estado falido", insiste em que os dias do presidente estão contados, embora segundo analistas isto não seja tão evidente.
"Esperamos uma transição pacífica do poder", afirmou o vice-presidente, Mike Pence, à emissora CNBC, destacando a ampla gama de sanções econômicas impostas por Washington e prometendo aumentar a pressão diplomática a favor de Guaidó.
"Seus esforços desta semana são parte de um processo em que o presidente legítimo da Venezuela assume o controle", acrescentou.
- Passeatas no sábado -
Guaidó convocou novas mobilizações opositoras para o sábado, nas quais disse que será entregue "de forma pacífica" uma proclamação nas principais unidades militares exortando a tropa a dar as costas a Maduro.
O texto vai ratificar o compromisso do Legislativo, eleito em 2015 e de maioria opositora, com uma lei de anistia, disse, insistindo em que são mantidos diálogos secretos com autoridades que apoiam sua proposta de instaurar um "governo de transição" para organizar eleições presidenciais.
A convocação de Guaidó ocorre depois de ele liderar, com o também opositor Leopoldo López, o levante de um reduzido grupo de militares na base aérea de La Carlota, em Caracas, que Maduro denunciou como uma tentativa de "golpe de Estado".
A Espanha, que desde então abrigou López na residência de seu embaixador em Caracas, advertiu que o edifício não se tornará "um centro de ativismo político".
Mas quase simultaneamente, López compareceu perante a imprensa, antecipando "mais movimentos no setor militar" contra Maduro.
- Grupo de Lima convida Cuba -
O Grupo de Lima, formado por uma dúzia de países que reconhecem Guaidó como presidente interino, decidiu convidar Cuba e o Grupo de Contato Internacional (GPI) a participar na busca de uma solução para a crise na Venezuela, após uma reunião de urgência na capital peruana.
Cuba é apontada por Estados Unidos, e também pelo secretário-geral da OEA, Luis Almagro, como um importante aliado de Caracas. Trump ameaçou inclusive Havana nesta terça com um embargo "total" se não suspender seu apoio a Maduro.
O comunicado do Grupo de Lima foi assinado por Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Venezuela, representada por um enviado de Guaidó.
A Alemanha, França, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia e Reino Unido, assim como a Bolívia, Equador, Uruguai e Costa Rica integram o GCI, que promove "eleições livres" na Venezuela após uma saída negociada no impasse.