Mulheres avançam em profissões dominadas por homens
Luísa, Herica, Samantha e Talita mostram que gênero não define ocupação que se deseja seguir
O dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, marca a luta por direitos iguais entre homens e mulheres. Durante muito tempo, a mulher foi subjugada na sociedade, educada para o casamento, servir ao marido, cuidar dos filhos e ser dona do lar. Hoje, com a construção do protagonismo feminino, assumindo profissões consideradas “masculinas”, elas mostram que lugar de mulher é onde ela quiser.
Segundo a antropóloga Rachel Abreu, com a Lei do Divórcio em 1977, o fim último que era o casamento não se sustenta mais, e a mulher começa ter a emancipação e ser inserida no mercado de trabalho. “Nos dias atuais, o panorama de profissões é abrangente. As mulheres estão indo cada vez mais longe e conquistando patamares inimagináveis”, diz a antropóloga. “Mulheres são jogadoras de futebol, dirigem coletivos, estão em gestão de empresas, em cargos altos, na construção civil e na ciência, espaços que antes eram predominantemente masculinas”, complementa.
Luísa Dias Barros, geóloga, é a primeira mulher assumir a gestão do curso de Geologia da Universidade da Amazônia – UNAMA. Segundo ela, nas décadas de 1960 a 1980 havia poucas mulheres no curso de geociências, uma em cada turma. “Na minha geração, os comentários machistas são menores. Atualmente, por exemplo, nós temos a primeira mulher paraense na Agência Nacional de Mineração como gerente e a Associação Brasileira de Mulheres na Geociência”, afirma.
“A maioria das mulheres sente-se reconhecida por ocupar cargos predominantemente masculinos. É gratificante estar nesse posto mostrando que não é questão de gênero e, sim, de postura profissional. Acho legal servir de exemplo para meninas”, declara a geóloga.
De acordo com dados do estudo “Estatística de gênero: indicadores sociais das mulheres do Brasil”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mulheres trabalham, em média, três horas a mais por semana que homens. Apenas 39,1% dos cargos gerenciais são ocupadas por elas – e o número diminui ainda mais conforme aumenta a faixa etária.
“Ser mulher e trabalhar com futebol masculino é ter sempre que fazer duas vezes mais. Produzir duas vezes mais, estudar duas vezes mais, fazer aquela foto diferente, ter um olhar mais sensível para então conseguir um destaque e ser reconhecida. No meu início foi assim, ninguém acreditava no meu trabalho. Demorei a encontrar alguém que quisesse pagar pelas minhas fotos”, declara a fotografa Talita Gouvêa.
“Já sofri vários tipos de preconceito e comentários machistas, que me deixavam para baixo, mas sempre procurava reerguer a cabeça. Fico feliz por ter vencido barreiras e conseguido trabalhar como frentista sendo uma profissão dominada por homens”, afirma a frentista Herica Nunes.
“É extremamente importante discutir sobre relações de gênero. Não é questão de força, e sim de justiça social. Assim como homens podem desempenhar atividades muito bem, as mulheres também”, reitera Rachel Abreu.
Para a tatuadora Samantha Marques, as críticas machistas sobre o estilo de desenho e traço mais “grosseiro para uma mulher” que trabalha sempre vão existir, mas ela procura absorver apenas as construtivas. “Sinto orgulho por tudo o que conquistei e a minha maior inspiração são outras mulheres artistas, seja de tatuagem ou não”, afirma. "Para o dia 8 de março, desejo mais empatia entre as mulheres, sejam elas cis, trans… Mais sororidade, que possamos nos apoiar e crescer sem pisar umas nas outras. Que as pessoas no geral vejam que mulher não é um objeto de posse. Que sejamos respeitadas em nossas escolhas.”
Por Amanda Martins.