Hormônio do exercício pode inibir a Covid-19
Pesquisa sugere que a irisina pode ser a chave para compreender a ação da doença entre pessoas idosas ou obesas
A irisina, hormônio liberado pelo organismo durante a prática de exercícios físicos, pode ser um aliado na luta contra a Covid-19. Um estudo preliminar liderado pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) sugere que a substância do sistema endócrino pode ser capaz de moldar genes de células que armazenam maior potencial de energia e gordura (adiposas), para inibir a multiplicação do novo Coronavírus (SARS-CoV-2) no corpo humano.
De acordo com os pesquisadores, a aplicação de irisina em células adiposas reduziu a expressão de ao menos oito genes que regulam o gene ACE2, considerado essencial para a replicação do novo Coronavírus em grupos celulares.
O ACE2 é o responsável por reunir a proteína que o vírus utiliza para se ligar a células humanas e invadi-las. Outra evidência positiva observada no estudo mostra que a irisina triplicou níveis de transcrição do gene TRIB3. Segundo os cientistas, é comum que idosos tenham diminuição de TRIB3, o que pode ser um dos indícios da multiplicação dos casos de Covid-19 entre pessoas acima de 60 anos de idade.
Em entrevista à agência de notícias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisadora Miriane de Oliveira, da Faculdade de Medicina da Unesp, vê os resultados como sinais positivos, mas alerta que o estudo é mais uma diretriz na busca de novas perspectivas no combate à doença.
“É preciso ressaltar que se trata de dados preliminares, uma sugestão do potencial terapêutico da irisina para casos de COVID-19. Estamos indicando um caminho de pesquisa para comprovar ou não o efeito benéfico do hormônio em pacientes infectados”, comenta a cientista.
Covid-19 e a obesidade
Além da análise prévia sobre a efetividade da irisina na modulação dos genes, a pesquisa abriu novos caminhos na investigação do armazenamento do novo Coronavírus no organismo. Segundo Miriane, o empenho dos pesquisadores notou que, de maneira aparente, o tecido adiposo se mostra como principal depósito do SARS-CoV-2.
“Isso ajuda a entender por que indivíduos obesos têm maior risco de desenvolver a forma grave da COVID-19. Fora isso, tendem a ter níveis menores de irisina, assim como maiores quantidades da molécula receptora do vírus (ACE2), quando comparados a indivíduos não obesos”, ressalta.
O artigo científico foi publicado (em inglês) na revista Molecular and Cellular Endocrinology. Para ler o documento, clique aqui.