As espinhosas questões diplomáticas que aguardam Biden

O governo que tomará posse no dia 20 de janeiro já disse que sua maior prioridade é o combate à covid-19, mas também precisará enfrentar decisões em diversos assuntos mundiais

qua, 25/11/2020 - 20:50
CHANDAN KHANNA O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, apresenta sua equipe de política externa CHANDAN KHANNA

A equipe de política externa do presidente eleito Joe Biden entrou em cena com promessas de retornar à cooperação internacional e aos valores democráticos após os caóticos quatro anos de Donald Trump.

O governo que tomará posse no dia 20 de janeiro já disse que sua maior prioridade é o combate à covid-19, mas também precisará enfrentar decisões em diversos assuntos mundiais.

- China e Rússia -

Em seu último ano, o governo Trump deu uma guinada agressiva contra a China. Tachou como um fracasso os anos de comprometimento dos EUA com a segunda potência mundial e se envolveu em um grande confronto com Pequim, cujo governo ele culpou pela pandemia de covid-19.

Biden, que tem experiência diplomática nas relações com a China, concorda que os tempos mudaram e que a potência asiática deve ser tratada como concorrente.

No entanto, a equipe de Biden provavelmente vai moderar sua retórica. O secretário de Estado escolhido, Antony Blinken, disse que os Estados Unidos serão muito francos em relação aos direitos humanos e outras questões, mas também buscarão áreas nas quais possam trabalhar junto com Pequim, como o combate à pandemia e as mudanças climáticas.

Em contrapartida, Biden promete assumir uma posição mais dura com a Rússia, cujo presidente Vladimir Putin é admirado por Trump. Essa abordagem de Biden inclui a imposição de custos a Moscou por sua suposta interferência nas eleições dos EUA e o apoio a grupos pró-democracia de Belarus, aliada da Rússia.

Mas, embora Biden provavelmente não fale em "reajustar" as relações, como fez o presidente Barack Obama, muitos especialistas acreditam que ele não tem outra escolha a não ser um acordo com a Rússia.

Um dos primeiros testes para Biden poderia ser o tratado Novo START, que limita o número de ogivas nucleares e expira em 5 de fevereiro. Os líderes democratas concordam com Putin em prorrogar esse tratado por um ano.

- Virada no Oriente Médio -

Biden defende que a diplomacia volte a reinar nas relações com o Irã, país que tem sido alvo de sanções de Trump, mas é preciso considerar que qualquer negociação com Teerã será difícil.

Biden, Irã e países europeus ainda apoiam o tratado de desnuclearização negociado por Obama, ao qual o governo de Teerã aderiu, até que Trump retirou os Estados Unidos do pacto.

Biden pede que o acordo seja mais severo e extenso, mas o Irã já está jogando duro. Advertiu que não revisará as condições e que não apenas buscará amenizar as sanções impostas por Trump, mas também quer que Washington indenize o país pelos prejuízos sofridos.

Como fator de pressão para ambos as partes estão as eleições presidenciais no Irã, que serão realizadas em junho. Os favoritos são adeptos da linha-dura que argumentam que Teerã errou ao confiar nos EUA.

Biden também alertou que será enérgico com a Arábia Saudita, um aliado tradicional de Washington que foi cortejado por Trump apesar de seu histórico questionável nos direitos humanos, que inclui o assassinato brutal do escritor Jamal Khashoggi.

- Tropas no Afeganistão -

Biden herda de Trump um acordo com o Talibã, por meio do qual as tropas americanas deixarão o Afeganistão em maio e encerrarão a guerra iniciada há quase 20 anos. Trump já está acelerando o retorno dos soldados e planeja retirar cerca de 2 mil até meados de janeiro.

O Afeganistão é uma das poucas questões em que Biden concorda com Trump. Quando era vice-presidente de Obama, Biden questionou os compromissos militares assumidos por tempo indeterminado com Cabul.

Mas Biden, ciente da turbulência gerada no Iraque quando Obama retirou todas as tropas americanas, disse em setembro que deseja manter uma pequena força antiterrorismo no Afeganistão capaz de enfrentar extremistas do grupo Estado Islâmico.

- Fim do romance com a Coreia do Norte -

Um dos gestos diplomáticos mais incomuns de Trump foram seus três encontros com o líder norte-coreano Kim Jong Un, por quem ele disse ter "se apaixonado".

Biden, que foi chamado pela mídia estatal norte-coreana de um "cachorro louco" que deve ser "espancado até a morte", afirmou que não se encontraria com Kim sem condições pré-estabelecidas.

O presidente eleito acusa Trump de ter legitimado Kim, mas está aberto a negociações de nível baixo com Pyongyang.

- Mudança com a Venezuela? -

A equipe de Biden deu sinais claros sobre como vai lidar com a Venezuela depois que Trump tentou sem sucesso derrubar, por meio de sanções, o governo socialista de Nicolás Maduro.

Alguns analistas acreditam que Biden será mais moderado com Caracas e defenderá mais a mediação internacional para conseguir uma transição gradual para um novo governo venezuelano.

Maduro disse que espera um diálogo "decente" com Biden, mas o líder da oposição Juan Guaidó quer continuar contando com o apoio de Washington.

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