Pesquisadora alega desrespeito do Ministério da Saúde

Profissional se queixa de condutas em relação à assinatura do Programa Nacional de Imunização

por Lara Tôrres qua, 16/12/2020 - 17:47
Pixabay Profissional se queixa do Programa Nacional de Imunização Pixabay

Ethel Maciel, pesquisadora e enfermeira com pós-doutorado em epidemiologia que participou da elaboração do Programa Nacional de Imunização (PNI) junto ao Ministério da Saúde, fez críticas e se disse desrespeitada por representantes da pasta.

A primeira queixa foi em relação ao documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ministério que citou seu nome (e o de outros cientistas) sem autorização e, nesta quarta-feira (16), elevou o tom das críticas após uma reunião do ministério. 

Além de ter sido citada de modo inapropriado, Ethel afirmou nem ela nem os demais profissionais que estão assessorando o Ministério da Saúde viram o documento enviado ao STF, apesar de seus nomes serem citados. Ela se pronunciou através do Twitter na última sexta-feira (12), quando alegou também que a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) elaborou uma nota pública sobre o tema. 

Ethel deu entrevista ao canal Globo News afirmando ter ficado incomodada com a exclusão de certos grupos prioritários no programa de vacinação. "Algumas discussões que nós tínhamos feito em dias anteriores, com documentos técnicos e evidências científicas sobre as populações prioritárias, mais vulneráveis, que precisariam entrar, não estavam ali. Inclusive algumas que a gente já tinha acordado, como as populações privadas de liberdade, foram retiradas", criticou ela. 

“Então aquilo realmente foi um choque, eu me senti bastante desrespeitada por ter o meu nome em um documento que foi ao STF que eu sequer vi antes, até para dizer se eu gostaria de ter meu nome ali ou não", afirmou a pesquisadora. 

Já nesta quarta-feira (16), Ethel fez uma postagem alegando que a equipe foi chamada a uma reunião. “Fomos convidados para uma reunião sobre o plano de vacinação amanhã às 8h - 9h. O mesmo plano de vacinação que ninguém sabe qual é e que teoricamente será lançado às 10h. O que pensar sobre isso?” questionou a pesquisadora. Também nesta quarta o governo fez um comunicado com informações sobre o PNI sem que houvesse comunicação sobre o evento. 

"A gente foi convidado para uma reunião. Esperava até que a gente tivesse formalmente um pedido de desculpas depois de tudo que aconteceu. A gente esperou segunda-feira, terça, e aí a reunião foi desmarcada. Foi remarcada para hoje de manhã. Por razões que eu tinha outros compromissos, eu não pude participar e também fiquei assim 'mas pra que, né?'. E aí fiquei sabendo também pela imprensa do lançamento do plano. A gente também não foi avisado que esse plano seria lançado. Eu já participei de diversos governos, em outros planos de combate a doenças. Eu trabalho com doenças infecciosas há 25 anos e nunca tinha vivido essa situação. Então parece inacreditável, mas essa é a história", disse Ethel. Após as críticas, o governo federal retirou os nomes dos pesquisadores do documento final de elaboração do PNI. 

Termo de consentimento

Nesta semana o governo anunciou que pedirá a algumas pessoas para assinar um termo de consentimento antes da aplicação de vacinas que foram registradas apenas para uso emergencial, medida criticada por Ethel, explicando que após a aprovação do imunizante, a medida não é necessária. 

O termo de consentimento livre, que a gente chama, é um termo utilizado nas pesquisas clínicas, tanto de fase um, de fase dois e de fase três. Então isso é comum num protocolo de pesquisa. Numa situação de campanha vacinal, ainda que o registro seja emergencial na Anvisa, a Anvisa tem que avaliar sim todos os riscos e benefícios. A Anvisa só pode liberar qualquer composto, seja vacina ou medicamento, se ele for seguro e eficaz. E quando a Anvisa libera, a Anvisa tem que garantir pra sociedade que essa vacina é segura e eficaz", declarou Ethel.

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