Psicóloga alerta para cuidados com a saúde mental no luto

As perdas ocasionadas pela pandemia deixam milhares de famílias sob forte impacto emocional

sex, 23/04/2021 - 18:28
Arquivo pessoal Psicóloga Sofia Cardoso alerta para o perigo do luto patológico Arquivo pessoal

Com o avanço da covid-19 pelo território nacional e o número cada vez maior de mortes diárias causadas pela doença, muitas famílias brasileiras enfrentam a difícil tarefa de ter que lidar com o falecimento de seus entes queridos e de seguir em frente em tempos tão complicados. O luto tem afetado diretamente a saúde das pessoas.

A psicóloga paraense Sofia Cardoso diz que a procura pelo auxílio psicológico aumentou durante a pandemia. "As perdas na pandemia não foram apenas de pessoas, mas também da nossa liberdade de ir e vir, de empregos, de relacionamentos, em decorrência ao distanciamento social. Lógico que as perdas mais significativas foram as mortes de pessoas e quem não conseguiu lidar com essas situações precisou de um apoio profissional para fortalecer o emocional", disse a psicóloga.

Ela chama atenção também para o luto que pode acabar se transformando em uma possível depressão. "O luto pode sim transformar-se em uma depressão, principalmente se não for vivido em todas as suas fases. Em um primeiro momento vem a negação, depois vem a raiva, o terceiro é um estado depressivo e por fim a aceitação, então é necessário passar por todas essas fases e elaborá-las para que isso não se torne um processo depressivo e não se transforme em um luto patológico", afirmou Sofia.

Para uma estudante universitária que não quis se identificar, a fase do luto tem sido um difícil momento para ela. "É um processo, tem seus estágios, mas ele nunca acaba. Perdi um dos meus melhores amigos e, depois de uma semana e alguns dias, perdi meu pai e para mim foi algo inexplicável. É uma dor insuportável, a gente não se acostuma a não ver, não ouvir, não ver uma mensagem no celular. Tem dias piores do que outros, mas a dor não passa e a saudade é algo difícil de se explicar", relatou.

A estudante conta também que, após essas situações, notou uma grande mudança na sua fé e um fortalecimento dela. "Minha fé mudou muito, eu era bastante católica, mas depois do falecimento do meu pai, encontrei consolo no espiritismo. Eu já sabia que tinha um nível de mediunidade, mas nunca tive muita certeza. Fui entendendo melhor sobre a doutrina e quanto mais eu estudava, mais eu tinha fé", expôs.

Sofia atentou para a importância de um acompanhamento psiquiátrico aliado ao tratamento terapêutico em alguns casos. "Tem situações de luto que geram muita ansiedade, muita tristeza, dificuldades para dormir, e um remédio é bem-vindo, podendo ajudar. É um tratamento que possui início, meio e fim, mas muitas pessoas sentem medo de recorrer a isso com medo de uma possível dependência, porém são algumas situações que necessitam de um coadjuvante."

A terapeuta falou também sobre como a sociedade buscou se manter mentalmente saudável nesse contexto. "Eu acho que cada pessoa é uma pessoa e nós usamos os recursos que temos. Foi, num primeiro momento, uma adaptação complicada, ter que lidar com o distanciamento físico, com o medo da morte e a preocupação com aqueles que estão distantes, isso mexeu com todo mundo. Eu acho que cada um se voltou para seus interesses, algumas pessoas fizeram cursos on-line, outras choraram, algumas dormiram, cuidaram das plantas, mas isso foi pra quem já é mais estruturado, porque quem não é, foi muito mais penoso se manter bem psiquicamente nessa situação", contou a psicóloga.

Na prática, assinalou Sofia, o que mais ajuda dentro de casa é a relação com os familiares, o apoio presente ali e manter, na medida do possível, uma rotina. "Para evitar algumas regras e hábitos de uma rotina comum e tirar a sensação de férias que fica presente", continuou a terapeuta.

Sofia destacou a relevância das terapias virtuais em meio ao conturbado momento da pandemia. "Mesmo sem aquela energia do presencial, as psicoterapias on-line foram muito importantes para manter a saúde mental, até para aqueles que não conseguiam imaginar uma consulta virtual", finalizou Sofia.

Por Haroldo Pimentel e Roberta Cartágenes.

 

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