Covid ou virose? Crescem quadros respiratórios em crianças
Sintomas podem confundir os pais; especialista explica diferenças entre as principais doenças circulantes
Em Pernambuco, as unidades pediátricas públicas e privadas têm lidado com uma superlotação no setor das emergências. As ocorrências são várias: viroses, infecções, resfriados leves. Com a Covid-19 ainda em alta no Estado, pais e responsáveis podem ficar confusos quanto ao diagnóstico e tratamento dessas doenças, cuja sintomatologia pode ser bem semelhante e em alguns casos, como os de infecção por coronavírus, a doença pode até mesmo ser silenciosa.
Como crianças são dependentes, é preciso que os adultos estejam alerta aos sintomas e que busquem manter o ambiente domiciliar sempre limpo, livre da poeira, do acúmulo de água parada. Higienizar as superfícies de objetos também ajudam a prevenir a proliferação do coronavírus.
A pediatra do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira - Imip, Danielle Rodrigues, conversou com o LeiaJá a fim de esclarecer dúvidas sobre as doenças circulantes no Estado atualmente, e que são acentuadas pela presença do inverno e da intensa mudança climática. Circulam em grande abrangência os tipos enterovírus, que tem como principal meio de replicação o trato gastrointestinal, e rinovírus, associado aos resfriados comuns.
“Com a não restrição das crianças em casa, tivemos mais aglomerações em escolas e creches, e então, a disseminação de vários vírus. Nós vemos muitos quadros clínicos de resfriados e gripe. Atualmente, temos identificado alta presença de rinovírus. No Imip, estamos fazendo um painel viral. A influenza tem pouca incidência atualmente, o que pode ser justificado pela vacina da gripe. O resfriado é um quadro mais leve, com coriza, febre e estado geral não tão decaído. Enquanto a gripe é mais intensa, causa desidratação, dor no corpo, calafrios, febre alta e o estado geral fica mais decaído do que no resfriado comum”, comenta a médica ao iniciar a explicação.
Pernambuco também possui incidência alta do Vírus Sincicial Respiratório (VSR) em bebês, segundo a pediatra. O VSR preocupa pois, sem as medidas preventivas ou precoces necessárias, pode levar à internação. A doença é comum em crianças nos primeiros meses de vida. Como as vias aéreas dos bebês são finas, eles podem apresentar quadro obstrutivo com pouca secreção.
“O VSR causa um quadro característico de bronquiolite viral. O que é isso? Começa com sintomas parecidos com os de resfriado, como coriza, secreção nasal, espirros e lacrimejamento, e depois começam os sintomas mais graves, de tosse e desconforto em um quadro mais intenso. Normalmente bebês pequenos, abaixo de um mês ou em lactentes de dois até três meses, muitas vezes precisam ficar internados para fazer oxigenoterapia, lavagem nasal e medidas de suporte”, continua Danielle.
Outra síndrome em circulação é a “mão-pé-boca”, causada pelo vírus coxsackie e que dá febre, rinorréia, tosse e aftas na faringe posterior. A criança infectada enfrenta queda na imunidade e fraqueza no estado geral de saúde. Os sintomas dessas viroses podem se confundir com os da Covid-19, porque os sintomas de Covid são inespecíficos, logo, “tudo pode ser a doença”, diz a pediatra. Não é possível diferenciar os sintomas sem testagem, mas é válido prestar atenção em alguns sinais, como o cansaço ou qualquer sintomatologia diferente.
“Os cuidados para evitar transmissão continuam sendo os de higiene, evitar aglomerações, ajudar na lavagem das mãos e verificar objetos contaminados. O quadro de Covid em crianças é bastante assintomático. Mas chama atenção aquela criança com uma lesão de pele e que pode ter um quadro viral associado; uma criança que tenha sinais de asma ou cansaço, e que nunca teve antes. Essas especificidades de um quadro que não se repete é que podem chamar atenção se a criança tem Covid ou não”, elucida ainda, reafirmando que os casos de Covid-19 têm sido menores que os das demais doenças.
E completa: “Nesse período de inverno há muitas influências que pioram o quadro respiratório. Nesse momento, todas as emergências que atendem muito esse quadro têm uma superlotação nesse momento, seja no IMIP ou nas unidades municipais. Não é só o inverno, são também as aglomerações, o contato com a poeira, o contato com pessoas que trazem o resfriado da rua para casa. Mas o fator climático importa sim, essa alteração de chuva, sol, frio e calor aumentam a atividade dos brônquios e facilitam o quadro respiratório”.
Não existe tratamento específico para os vírus, mas terapias de suporte. É importante reconhecer os sinais de alerta, como sonolência e irritabilidade, causados principalmente pela desidratação. A orientação é de que os pais e responsáveis se dirijam precocemente à unidade hospitalar quando houver descontrole dos sintomas mais graves, como vômito e diarreia, para evitar um internamento. É importante hidratar a criança e evitar que ela chegue ao hospital já desidratada, prevenindo também a perda de nutrientes e eletrólitos. Na dúvida, a procura por um médico deve ser imediata.
Cuidados que devem ser tomados
- Manter o ambiente doméstico limpo e organizado, priorizando a higienização de superfícies com as quais a criança tem contato constantemente;
- Deixar fora do alcance das crianças produtos químicos e/ou que possam causar reações alérgicas;
- Eliminar focos da dengue - é preciso lembrar que além da Covid e das viroses há, simultaneamente, surtos de dengue e chikungunya no estado;
- Prestar atenção em sinalizações no corpo da criança, como manchas vermelhas, brancas, desidratação da pele e corpo, cansaço e tosse;
- Não fazer autodiagnóstico e não fazer intervenção medicamentosa por conta própria;
- Não usar medicamentos de tratamento precoce para a Covid-19 como tratamento para sintomas graves de viroses, dengue e outras doenças;
- Insistir em uma boa hidratação da criança;
- Prestar atenção na cor das fezes e secreção da criança;
- Procurar um médico imediatamente, caso os sintomas não consigam ser contornados em casa.