NE: temperaturas mais baixas parecem atípicas, mas não são

Presença das massas de ar frio é mais intensa este ano e temperaturas podem baixar ainda mais em agosto

por Vitória Silva sab, 03/07/2021 - 08:25
Júlio Gomes/LeiaJá Imagens/Arquivo Chuvas provocam alagamentos no Recife, em Pernambuco. Júlio Gomes/LeiaJá Imagens/Arquivo

A região Nordeste é famosa por muitas coisas, como sua cultura, culinária e praias, frequentemente associadas a dias longos e ensolarados. Com uma noção de frio muito diferente da que existe no Sul do país, quaisquer 24ºC já são suficientes para que muitos nordestinos tirem o casaco do guarda-roupa. Em várias cidades, essa tem sido a realidade: dias nublados, muita ventania e temperaturas baixas. O inverno chegou no último dia 21, só deve ir embora quase no fim de setembro, e vem esfriando municípios do interior ao litoral.

Em todo o litoral, que comporta as capitais nordestinas, as temperaturas têm caído por influência das massas de ar frio. No entanto, em cidades do interior, onde as temperaturas costumam cair durante a noite, devido à maior altitude e afastamento do nível do mar, é esperado que os termômetros esfriem ainda mais.

Ainda nesta semana, a capital baiana, Salvador, registrou sensação térmica de 17,5ºC. E essa nem é a menor temperatura de 2021, a mais baixa tendo sido no último sábado (26), com 20,2ºC e sensação de 17ºC. Nas regiões do Maciço de Baturité, Ibiapaba e do Cariri cearense, todas na parte serrana do estado, foram registradas as menores temperaturas do ano, variando entre 15°C e 18°C, nas últimas 48 horas.

Em Pernambuco, do Litoral Sul à Zona da Mata, as temperaturas têm sido diferentes. A capital Recife tem mantido a média dos 20ºC. No Agreste, cidades como Angelim, Garanhuns e Canhotinho batem os 17ºC independente do turno. A tendência é que a região interiorana sinta mais frio ainda em julho.

Apesar de parecer muito incomum à região, as temperaturas estão dentro do esperado para o inverno, que pode ser menos chuvoso e mais frio este ano. Pela proximidade à Linha do Equador, o Nordeste tem como inverno característico o período de chuvas torrenciais e com termômetros em temperaturas amenas, geralmente por volta dos 21ºC aos 25ºC, a depender. O LeiaJá conversou com o gerente de Meteorologia e Mudanças Climáticas da Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac), Patrice Oliveira, para elucidar dúvidas sobre o período e porque o nordestino tem estranhado tanto dormir sem ventilador.

“A partir do início do inverno tem-se uma entrada maior de massas de ar frio associadas a frente frias que passaram pelo Sul do país e atingem a região Nordeste. A ocorrência desses sistemas meteorológicos é comum, só que em alguns anos chega com maior intensidade. As temperaturas ficaram acima de 19°C e abaixo de 20 °C apenas duas vezes em junho de 2021. Em 17 dias registramos temperatura menor que 21 °C e maior que 20 °C. A temperatura mínima média do mês foi de 21,3 °C. Desde 2018 a temperatura não caía manos do que os 20 °C a média das temperaturas mínimas em junho de 2018 foi de 21,2 °C”, explica o meteorologista.

O especialista em Recursos Hídricos também esclarece que o frio no Sul chegou com mais força esse ano e é inevitável que essa corrente influencie o clima em todo o país, mas não há possibilidade do Nordeste registrar temperaturas parecidas. A região Sul do Brasil teve três dias consecutivos (segunda-feira, terça e quarta) com registro de neve, o que não acontecia há 21 anos. Os registros mais intensos foram feitos na quarta-feira (3), na região do Planalto Sul, em Santa Catarina.

“No inverno, que tem seu início no final de junho e vai até setembro e temos nos meses de junho, julho e agosto a ocorrência das menores temperaturas registradas do ano na região. Isto ocorre devido ao hemisfério Norte estar mais quente que o Sul, as massas de ar conseguem atingir a parte mais próxima do Equador, sendo assim, provocar temperaturas mais baixas”, continuou.

Segundo Patrice, até o mês de agosto, as temperaturas não devem subir e é esperado que as chuvas com perfil torrencial estejam mais controladas até lá.

“No trimestre julho, agosto e setembro, são esperados, para faixa leste do estado de Pernambuco, Agreste, Zona da Mata e RMR, chuvas próximas da média (intensas), com uma possibilidade de algumas localidades terem chuva um pouco abaixo da média. Quanto às temperaturas, são esperadas que fiquem dentro da média, lembrando que o mês de agosto é o mais frio, podendo ter uma média em torno dos 20°C e ocorrendo temperatura abaixo desse registro, embora seja raro ocorrer. No entanto, já aconteceu: a menor temperatura já registrada neste mês tenha ocorrido em 1965, 15,3°C em Recife”, concluiu Oliveira.

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