Recapitulando os dois anos de pandemia no Brasil

País vê queda na letalidade do vírus e índices de vacinação regulares, mas segue sem respostas para o futuro da pandemia a nível local

sab, 26/02/2022 - 08:59
Rafael Bandeira/LeiaJáImagens Uso de máscara é obrigatório no transporte coletivo desde 2020 Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Há exatos dois anos, o Ministério da Saúde do Brasil confirmava o primeiro caso da Covid-19 no país. Em 26 de fevereiro de 2020, um paulista de 61 anos com histórico de viagem para a região da Lombardia, na Itália, onde se concentrou o início da primeira onda da doença no mundo, deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein e teve quadro clínico positivado para a Covid, de acordo com a equipe médica. Menos de um mês depois, aconteceu a primeira morte pela doença no Brasil. 

Durante todo esse período, os brasileiros passaram por picos e quedas da circulação do coronavírus. Uma convivência confusa e descentralizada através das regiões do país foi considerada, quase em unanimidade entre especialistas, uma das principais razões para a permanência e a força com a qual o vírus se alastrou. Em 2021, com a chegada das vacinas, a emergência sanitária encontrou uma forma mais eficaz de contenção. Foi através da ciência que o Brasil obteve uma chance de aliviar os leitos e emergências hospitalares. 

Até hoje, 26 de fevereiro de 2022, o Brasil pôde recuperar 25.994.566 brasileiros infectados pela Covid-19, de 28.670.24 casos confirmados; os não recuperados seguem em observação. No entanto, a trajetória do vírus no país também foi marcada por muitas perdas: 648.160 mortos no Brasil, 770 óbitos apenas nas últimas 24 horas, em um quadro considerado em queda há duas semanas. A média móvel de mortes no país agora está abaixo de 800. 

Relembre os principais momentos destes dois anos da pandemia 

Meses iniciais e restrições 

Após o Ministério da Saúde publicar a portaria confirmando a transmissão comunitária do coronavírus em todo o Brasil em março de 2020, os estados passaram a se organizar para a criação do que viria a ser o Plano de Convivência com a Covid ou Planos de Contingência, que inicialmente estabeleceram o lockdown nas principais cidades brasileiras. Só era permitido sair de casa apresentando documentação que comprovasse o motivo da saída de forma cotidiana. Supermercados e farmácias passaram a lotar pelo pânico da população de uma futura escassez de recursos.  

No início de abril, o Congresso Nacional aprovou e o presidente Jair Bolsonaro sancionou o auxílio emergencial de R$ 600 por mês, a fim de diminuir o impacto socioeconômico do isolamento social. No entanto, internamente, uma crise instaurada no Governo estava prestes a implodir no Ministério da Saúde, o que culminou na primeira saída de um chefe da pasta, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, substituído por Nelson Teich no dia seguinte; o substituto deixou o cargo exatamente um mês depois. O general Eduardo Pazuello assumiu a pasta interinamente após isso. 

Produção de vacinas 

Em junho, o Brasil deixou o brasileiro sonhar: a produção de vacinas estava sendo negociada. O Instituto Butantan anunciou que produziria uma vacina contra o novo coronavírus em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech. No mesmo mês, o Ministério da Saúde anunciava acordo entre a Fiocruz e a empresa biofarmacêutica AstraZeneca para a compra de lotes e transferência de tecnologia de vacina desenvolvida em conjunto com a Universidade de Oxford. 

O Governo de São Paulo recebeu apenas em novembro, no dia 19, as primeiras 120 mil doses da CoronaVac, ainda no aguardo dos dados de eficácia e liberação pela Anvisa. Quatro dias depois, os resultados preliminares dos estudos clínicos da Fase 3 da vacina da Universidade de Oxford indicam eficácia de 90%. O sucesso foi crucial para aquele momento da saúde no Brasil, que confirmou seu primeiro caso de reinfecção pelo coronavírus no mês seguinte.  

Embed:
 

O ano de 2021 

A esperança diante das vacinas e os 10 meses passados de convivência com o vírus não tornaram 2021 um ano menos desafiador sanitariamente. Ainda mais conturbado que o anterior, o ano foi marcado pela presença de variantes novas da Covid-19, picos de mortalidade pela doença e um colapso generalizado do sistema de saúde público e privado. 

Ainda em janeiro, o estado do Amazonas decretou toque de recolher, em crise por falta de oxigênio em hospitais. Em janeiro e fevereiro, estados como Pará, São Paulo e Bahia também adotaram medidas de restrição de circulação em várias cidades para tentar impedir o avanço da doença. Diante da crescente de casos, por unanimidade, os cinco diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovaram o uso emergencial da CoronaVac e da vacina de Oxford contra a Covid-19. 

- - > LeiaJá também: 2021: o ano da tragédia da falta do oxigênio em Manaus 

No mesmo dia (17 de janeiro) em que a Anvisa aprovou o uso emergencial da CoronaVac, a primeira dose foi aplicada no país. A primeira vacinada foi a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos. Dois dias depois, a vacinação contra Covid-19 começou em todo o país. 

A campanha de vacinação, ainda dando os seus primeiros passos, disputava espaço com uma crescente na letalidade do coronavírus. O mês de fevereiro foi marcado pelo avanço da Covid-19 e de suas novas variantes. Em 26 de fevereiro, o Boletim Observatório Covid-19 trouxe a informação de que a ocupação das unidades de terapia intensiva (UTIs) dedicadas a infectados pelo novo coronavírus chegou ao pior nível desde o início da pandemia, que começou em março de 2020. Em 12 estados e no Distrito Federal (DF), mais de 80% dos leitos Covid-19 estavam ocupados. 

Com cerca de 1,5 mil mortes diárias, diversos governadores resolveram retomar medidas mais drásticas como o toque de recolher e o lockdown. Fevereiro se tornou o segundo mês mais letal da pandemia no Brasil. Nos 28 dias, foram registradas 30.484 mortes provocadas pela Covid-19 em todo o país. 

CPI, epicentro, 4 mil mortes: o mês de abril 

À época, Pazuello já havia sido efetivado como ministro da Saúde e era alvo constante de críticas, da oposição e mesmo de governistas, pela sua gestão à frente do órgão mais importante do Brasil nesse período. O país seguiu sem um plano unificado nacional, ou seja, as medidas de enfrentamento à Covid-19 permaneceram descentralizadas e de forma autônoma, o que iniciou as discussões sobre o passaporte vacinal. O então ministro foi alvo de uma investigação parlamentar que seria instaurada a seguir. 

Foi criada, então, em 13 de abril, a CPI da Pandemia, pelo Senado Federal. Apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o documento (requerimento da CPI) estipulou que a comissão parlamentar de inquérito investigasse ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia e o colapso da saúde no estado do Amazonas no começo do ano. 

- - > LeiaJá também: Governo age para reduzir danos de CPI da Covid 

No mesmo período, o Brasil ultrapassou a infeliz marca de quatro mil óbitos diários pela primeira vez. Foram 4.211 mortes por Covid-19 em 24 horas. Com isso, a média móvel de mortes no país ficou em 2.775 na mesma semana. Em comparação à média de 14 dias anteriores, a variação foi de +22%, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença. Àquela altura, o país já era considerado o novo epicentro da doença. Pouco depois, em circulação, já havia quatro variantes propriamente identificadas (Alfa, Delta, Gama, Beta) e outras sob investigação. 

Ômicron 

A Fiocruz Rondônia e o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen/RO) identificaram a variante Ômicron em circulação em Rondônia. Após análises realizadas a partir de amostras provenientes de 11 municípios do estado, foi identificada a presença da variante de preocupação em 53 amostras. Os primeiros casos foram notificados em novembro. Em dezembro, a OMS publicou nota alertando que a variante já estava presente e dominante em 57 países, incluindo o Brasil. 

Vacinação infantil no posto UFPE, no Recife. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Vacinação infantil 

Após meses de discussão e oposição pública à vacinação infantil, o Governo Federal resolveu seguir a tendência mundial e deixou o sinal verde para que as primeiras doses pediátricas pudessem ser administradas no país. O Ministério da Saúde incluiu crianças de cinco a 11 anos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO); adolescentes com 12 anos ou mais já estavam autorizados a se vacinar. A vacinação infantil não foi obrigatória, mas ganhou boa adesão nacionalmente. 

As primeiras vacinas contra Covid-19 destinadas a este público chegaram ao Aeroporto de Viracopos, em Campinas, em 13 de janeiro. Foram 1,2 milhão de doses do imunizante da Pfizer, utilizada como imunizante padrão para a vacinação infantil e também para administração da terceira dose (ou dose de reforço) adulta. A vacinação infantil para o público mais novo foi iniciada em 14 de janeiro, seguindo orientação do Ministério da Saúde de priorizar os grupos com comorbidades. 

Atualmente 

Hoje, o Brasil tem 86,09% (172.315.519) da população vacinável (cinco anos de idade ou mais) parcialmente vacinada. Ou seja, pessoas que receberam, ao menos, uma dose de imunobiológico. Até o momento, três doses estão disponíveis à toda a população, ou duas, no caso de quem toma a dose única da Janssen somada à dose de reforço; mas é preciso estar atento aos intervalos entre as vacinas.  

De acordo com o consórcio dos veículos de imprensa, 154.696.282 pessoas estão totalmente imunizadas. Este número representa 72,01% da população total do país. A dose de reforço foi aplicada em 63.534.929 pessoas, o que corresponde a 29,57% da população. 

A dose de reforço foi aplicada em 39,27% (63.534.929) da população com 18 anos de idade ou mais, faixa de idade que atualmente pode receber o reforço da vacinação. 

Apenas o Amapá não divulgou dados de doses aplicadas em crianças até o momento. No total, 8.585.480 doses foram aplicadas em crianças, que estão parcialmente imunizadas. Este número representa 41,88% da população nessa faixa de idade que tomou a primeira dose. 

COMENTÁRIOS dos leitores