Grande Recife: cerca de 121 mulheres são baleadas por ano

De acordo com levantamento do Instituto Fogo Cruzado, um total de 487 mulheres foram vítimas da violência armada nos últimos 4 anos

por Marília Parente ter, 08/03/2022 - 11:28
Paulo H. Carvalho/Agência Brasília Mulher mostra mão com xis vermelho, sinal de socorro para vítima de violência doméstica Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Nos últimos quatro anos, cerca de 487 mulheres foram baleadas no Grande Recife. De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, dentre as vítimas, 240 morreram e outras 247 ficaram feridas. Os dados apontam para uma média de 121 mulheres atingidas por armas de fogo por ano. 

A coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco, Edna Jatobá, explica que embora as estatísticas mostrem que as mulheres são menos alvos de tiros do que os homens, elas são vítimas diretas e indiretas da violência armada, estando sujeitas ao risco de feminicídio, homicídio ou balas perdidas. 

Por vezes, elas são baleadas e nem sequer sabem de onde o disparo partiu. “Quando não são alvos diretos dos tiros, como nos casos de feminicídio, ou de crimes de patrimônio, as mulheres se tornam vítimas muitas vezes por estarem acompanhadas dos alvos diretos, como companheiros, filhos, conhecidos”, afirma Jatobá.

Por meio de nota, o Fogo Cruzado lembra que a maior parte dos feminicídios no Brasil acontece por meio de armas de fogo, conforme constatou o Instituto Sou da Paz. “Elas estão sob risco: recentes medidas de ampliação de ofertas de armas e munições vêm facilitando o acesso da população a armamentos. Sem uma fiscalização séria por parte do governo federal, armas compradas para se defender acabam sendo usadas para atacar mulheres, em casos de ameaça e assassinatos”, diz o posicionamento.

Em maio do ano passado, Maria Mirelly Alves do Nascimento, de 27 anos, foi morta a tiros dentro de casa, no bairro de Campo Grande, na Zona Norte do Recife. Ela estava grávida de seis meses. De acordo com as investigações, o principal suspeito pelo crime é seu ex-companheiro, de 20 anos. 

O caso de Maria Mirelly não é exceção. De acordo com o Fogo Cruzado, nos últimos quatro anos, 48 mulheres foram baleadas em casos de feminicídios ou tentativas de feminicídio, das quais 37 morreram e 11 ficaram feridas. 

Assim, nem dentro de casa as mulheres estão seguras. Ao todo, 126 mulheres foram baleadas dentro de casa no Grande Recife, tendo 71 delas morrido e outras 55 ficado feridas.

A violência armada também atinge mulheres de todas as idades. Nos últimos quatro anos, 17 meninas com menos de 12 anos foram baleadas: quatro das crianças morreram e 13 ficaram feridas. O

Outras 41 adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos, foram baleadas. Dentre elas, 18 morreram e 23 ficaram feridas. Além disso, 14 mulheres idosas (mais de 60 anos) foram atingidas por armas de fogo: quatro delas morreram e outras 10 ficaram feridas. 

SOBRE O FOGO CRUZADO

O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida. 

Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 20 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e, em breve, em mais cidades brasileiras.

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

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