Viúva de garçom morto pela PM nega confronto
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo confirmou que Filipe não possuía antecedentes criminais
A viúva de Filipe do Nascimento, garçom de 22 anos e uma das 16 pessoas mortas pela Polícia Militar durante a Operação Escudo na Baixada Santista, afirmou ter mudado de Estado após a morte do marido. Em entrevista ao Fantástico deste domingo (6), ela refutou a versão de que o assassinato teria resultado de um confronto entre o marido e os policiais.
"O vizinho falou assim para mim: 'eu vi quando o policial pegou teu marido, jogou lá dentro da casa e lá deram três tiros", disse a viúva ao programa. Segundo ela, policiais militares estiveram no barraco em que ela vivia com Filipe, na comunidade Morrinhos 4, no Guarujá (SP), olharam os documentos do marido e depois voltaram ao local.
Filipe teria sido executado em outro barraco, a cerca de 30 metros do local onde morava, segundo a versão da viúva. Ela afirma que ele não possuía arma de fogo e que foi capturado quando pegou uma bicicleta para ir ao supermercado comprar macarrão.
"Eu vi um policial pegando a bicicleta e jogou dentro do mangue. Eu falei: 'Policial, essa bicicleta é minha'. A gente era pobre, mas não era traficante. A gente não era ladrão. A gente não era assassino", afirmou ela.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo confirmou que Filipe não possuía antecedentes criminais. Ele era de Pernambuco, trabalhava como garçom em um quiosque da Praia das Astúrias, no Guarujá, e sonhava em ser influenciador.
"A gente ficava tirando um barato, ficava falando que ia ser famosinho. Não chegava problema dele pra mim", afirmou o ex-patrão de Filipe, Douglas Brito, também ao Fantástico.
Operação Escudo
A Operação Escudo foi iniciada no último dia 28, em resposta ao assassinato do soldado Patrick Bastos dos Reis, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Desde então, ela resultou em 16 mortes causadas por policiais e já é a mais letal do Estado desde 2006.
A ação policial na Baixada Santista tem sido alvo de uma série de denúncias de agressões e torturas, que ainda estão sendo apuradas. A quantidade de relatos chama a atenção de órgãos de controle. Na última semana, a Defensoria Pública do Estado pediu o "fim imediato" da ação policial no Guarujá e que todos os agentes envolvidos nas 16 mortes de civis sejam temporariamente afastados.
A versão da SSP afirma que as mortes decorreram de conflitos e que os casos são investigados. Em um balanço parcial divulgado neste domingo, a pasta informou que a Operação Escudo já resultou em 160 prisões e na apreensão de quase 480 quilos de drogas ilícitas.