O fascínio de Eduardo Campos por Arraes

"Eduardo tinha um fascínio pela figura de Arraes e que sempre estava perto dele quando Arraes voltou do exílio", contou o ex-secretário de Imprensa de Eduardo Campos

por Taciana Carvalho qui, 15/12/2016 - 08:03
Dida Sampaio/Estadão Dida Sampaio/Estadão

O ex-secretário de Imprensa do ex-governador Eduardo Campos, neto de Arraes, Evaldo Costa conta que Eduardo tinha um fascínio pela figura de Arraes e que sempre estava perto dele quando Arraes voltou do exílio. “Eduardo sempre se oferecia para ajudar de alguma forma. Então, eles tinham uma relação de muita proximidade. Por ser aquele sertanejo não era muito efusivo, mas, eles se entendiam e construíram juntos uma caminhada em uma relação rica”. 

“Arraes nasceu no Sertão, Eduardo numa grande cidade brasileira. Eles eram diferentes no ritmo e na escolha do caminho, mas, extremamente iguais e coerentes com o resultado que buscavam. Os dois tinham compromisso fundamental com os que mais precisam, com as pessoas mais pobres, com as que precisavam de oportunidade. Divergiam no pontual, mas, concordavam no permanente. Foram dois grandes líderes”. 

Na opinião de Evaldo, Arraes não projetou Eduardo campos. “Arraes dizia que não tinha família na política. Arraes tinha dez filhos e nenhum foi político. O único que foi político foi Ana Arraes, mas, foi depois que ele saiu da política. Talvez por inspiração de Eduardo. Não foi o pai que colocou a filha. Foi o filho que botou a mãe. Arraes nunca teve sucessor e herdeiro. Eduardo se tornou herdeiro naturalmente pelo talento e brilho pessoal”.

                                                                                                                                                                         

“O interesse, o querer que fez. Arraes não fez por Eduardo. Arraes foi o exemplo, o guia, mas, Eduardo tinha inato o desejo de cumprir uma missão e de ser uma liderança política importante para Pernambuco, de seguir os passos de Arraes, talvez, até de superar Arraes. Os dois se completaram. Cada um, em um tempo. Cada um era a tradução das necessidades de um momento do tempo presente. Eduardo se fez sozinho do mesmo jeito que Arraes se fez sozinho”, acrescentou.

A caminhada de Eduardo Campos na política teria começado no segundo governo de Arraes, na campanha de 1987. Eduardo foi um dos militantes destacados da campanha com a função de coordenador de um grupo de juventude. Quando começou o governo, ele foi nomeado para um cargo de oficial de Gabinete. “Ele fazia tarefas e contatos recebendo as pessoas. Depois, em 1988, houve uma necessidade de fazer mudança na chefia de gabinete. A pessoa mais talhada, que estava pronto para assumir a tarefa, era Eduardo. Ele se tornou chefe de gabinete, conhecia profundamente a política do estado”, destacou.

“Eduardo já era uma espécie de secretário particular de Arraes desde a campanha. Era ele quem tomava conta da agenda e, no final do primeiro mandato de Arraes, ele precisou de um chefe de gabinete. Não foi Arraes que botou Eduardo na chefia de gabinete. Isso atendia mais uma necessidade do governo do que as necessidades de Arraes de favorecer, de alguma forma, o neto Eduardo porque nunca houve isso. Primeiro porque Eduardo não precisou. Segundo porque não era do feitio de Arraes. Arraes não fez pelos filhos porque faria isso por um neto?”, indagou. 

                                                                                               A MORTE DE ARRAES

                                                                                                                                Foto: Ricardo Stuckert/PR

Evaldo Costa também contou que Eduardo viveu de forma muito dura o falecimento do avô pela relação de muita proximidade que existia entre ambos. “A morte de Arraes foi sentida de uma forma extremamente dolorosa por Eduardo. Eu acompanhei, estava por perto o tempo todo e sei o quanto ele chorou e sei que o que aparentava era muito menos do que houve de fato na alma e no coração dele. O que era visível aos olhos de quem estava ali por perto era muito menos do que ele sentiu e viveu de fato”.

“O vazio que deixa Arraes e Eduardo é muito grande. Independente da crise política que vivemos e a crise econômica, dois quadros como Arraes e Eduardo faz falta em qualquer lugar do mundo. Eram pessoas talhadas para o trabalho e resolução do problema. Eram pessoas que tinham o sentimento do mundo como Arraes disse no seu próprio discurso. Fazem falta à família, amigos, aos partidos e ao Brasil. Cada um tinha um jeito de levar para o mesmo resultado. A ponderação de Arraes, o jeito tranquilo de buscar a construção de consenso de buscar alianças era fundamental no momento desse que olhamos para o Brasil e há uma divisão radical de um lado e do outro lado. Se Arraes estivesse aqui, certamente, teria um papel importante na construção no entendimento e diálogo”.

Eduardo e Arraes morreram na mesma data: 13 de agosto. Arraes morreu por infecção respiratória, agravada por insuficiência renal. Já Eduardo morreu em trágico acidente aéreo, no ano de 2014.

                                                                                                                                                                                                                                                                 Foto:Roberto Pereira/SEI

 

 

 

 

 

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