Villas Bôas quer 'segurar cachorros agressivos', diz Ciro
General disse que o atentado a Bolsonaro "materializa" o temor de que a intolerância afete a governabilidade do próximo presidente
Candidatos à Presidência da República reagiram às declarações do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada neste domingo (9). O general lamentou o clima de radicalismo no País e afirmou que "a legitimidade do novo governo pode até ser questionada".
"Quem for eleito, vai ter grande legitimidade", afirmou o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin. Segundo o tucano, as declarações do general "não podem ser tiradas de contexto". Alckmin falou no domingo, antes de participar do debate da TV Gazeta, Estado, Jovem Pan e Twitter promovido em São Paulo.
O presidenciável do PDT, Ciro Gomes, disse que ficou "incomodado" com a fala do comandante do Exército. "Tenho pelo general Villas Bôas um apreço pessoal. A mim incomoda muito esse tipo de declaração, mas sei que ele só faz isso para segurar os cachorros agressivos à sua subordinação", afirmou o candidato, que também participou do debate em São Paulo.
A entrevista de Villas Bôas também foi alvo de críticas do deputado estadual e candidato a senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro. "É a opinião dele. Eu não acho que o País está dividido. O País está, mais do que nunca, unido em torno de Bolsonaro e será no primeiro turno", disse Flávio, após discursar em evento do partido no Rio.
Villas Bôas disse que o atentado a Bolsonaro durante evento de campanha em Juiz de Fora (MG) "materializa" o temor de que a intolerância afete a governabilidade do próximo presidente. "Sobre o Bolsonaro, ele não sendo eleito, ele pode dizer que prejudicaram a campanha dele. E, ele sendo eleito, provavelmente será dito que ele foi beneficiado pelo atentado, porque gerou comoção. Daí, altera o ritmo normal das coisas", declarou o general.
"Eles queriam matar o meu pai para tirá-lo da disputa, mas não foi a facada, ele não vai ser eleito por causa da facada, ele tomou a facada porque já estava eleito", afirmou o filho do candidato a presidente do PSL.
O PT classificou a fala do comandante do Exército como "grave episódio de insubordinação". "É uma manifestação de caráter político, de quem pretende tutelar as instituições republicanas. No caso específico, o Poder Judiciário, que ainda examina recursos processuais legítimos em relação ao ex-presidente Lula", afirmou o partido, por meio de nota.
O general também questionou o parecer do Comitê de Direitos Humanos da ONU que defende a candidatura de Lula, condenado e preso na Operação Lava Jato, nestas eleições. "É uma tentativa de invasão da soberania nacional", afirmou Villas Bôas. "Depende de nós, brasileiros, permitir que ela se confirme ou não. Isso é algo que nos preocupa porque pode comprometer nossa estabilidade, as condições de governabilidade e de legitimidade do próximo governo", disse o comandante do Exército sobre o parecer.
"As Forças Armadas não têm que ser comentaristas de política", afirmou o candidato do PSOL ao Palácio do Planalto, Guilherme Boulos.
'Recado'
Oficiais generais das três Forças procurados pela reportagem do Estado evitaram fazer comentários sobre a entrevista, sob a justificativa de que "o recado já foi dado" e que não cabem mais declarações. "Quem é o PT para falar de democracia? O general Villas Bôas falou o que tinha de ter falado. Quem está ameaçando a democracia é quem está se negando a cumprir a lei e não quem está cumprindo a lei", disse um general quatro-estrelas.
Todos concordaram que o momento pede serenidade e que os ânimos precisam se "acalmar" para que se evite mais ódio. "O futuro presidente precisará de estabilidade, porque vai governar para os dois lados", declarou um deles. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.