FHC: 'Não importa o que ele pensa, mas o que vai fazer'

Para o ex-presidente, é preciso deixar o governo de Jair Bolsonaro (PSL) começar efetivamente para ver como será a condução do país

por Giselly Santos seg, 12/11/2018 - 12:06
 Wilson Dias/Agência Brasil Wilson Dias/Agência Brasil

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que a democracia está sempre em perigo, mas o país tem lideranças políticas e “instituições fortes” que não vão permitir que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) a protagonizar uma deriva antidemocrática do novo Governo. Em entrevista ao jornal El País, o tucano pontuou que era necessário aguardar o início efetivo da gestão Bolsonaro, por “não importa o que ele pensa, mas o que vai fazer” pelo país nos próximos quatro anos.

“A democracia esta em perigo em todas partes. Mas o Brasil tem instituições fortes, a sociedade é livre, a mídia é livre, a justiça é independente e o povo gosta da liberdade. Então eu acho que é preciso tomar cuidado. Está em perigo? Está mudando, está em perigo por todos lados, mas não há um perigo específico do Brasil. Não acho que a eleição do Bolsonaro ponha em perigo [a democracia], até porque ele ganhou pelo voto”, salientou.

Apesar disso, o próprio presidente eleito, por exemplo, vem estimulando que estudantes filmem professores que comentem sobre política nas aulas ou promova algo que o projeto Escola Sem Partido recrimina. FHC disse ter ciência do fato e ponderou ser contra, mas ao ser questionado que a sociedade brasileira seria forte o suficiente para rechaçar algum tipo de ação antidemocrática, ele ponderou que era necessário deixar o governo de Bolsonaro começar.

“A democracia tem que ser cuidada sempre e devemos contra-atacar essas coisas. Mas de momento ele nem tomou posse. Deixa ele tomar posse, vamos ver o que ele vai fazer, se vai nomear gente boa... Governar é difícil. Quem nunca governou pensa que é fácil. Eu torço pelo Brasil dar certo. A mídia está levando o presidente eleito a dizer que ele respeita a Constituição. Isso é um mecanismo já de contenção, é importante. Para a política não importa o que ele pensa, importa o que ele vai fazer. As palavras só se transformam verdadeiramente em um risco quando elas viram ato”, alertou o ex-presidente.

E acrescentou: “Não é que eu não leve a sério, eu acho que qualquer coisa dita por uma pessoa que tem importância política diz tem que tomar cuidado. Mas acho que isso não é suficiente para se sobrepor a nossa institucionalidade, a nossa vontade de manter a democracia. Mesmo que um ou outro tenha o impulso não democrático e as frases que foram ditas – que não são boas, e eu critiquei no meu Twitter – sejam contrárias ao espírito da democracia. Mas entre você falar e fazer tem uma diferença. Eu não estou dizendo que alguém não expresse atitudes antidemocráticas. Pode ser, existe isso no Brasil. Mas a despeito disso, nós temos forças democráticas que vão se contrapor a eventuais palavras e mesmo atos que sejam contrários à Constituição, à democracia e às leis”.

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