Desacreditados, eleitores não temem votar em comediantes

No Brasil e no exterior há exemplos de figuras da comédia que surgiram na política e causaram um verdadeiro rebuliço no quebra-cabeça eleitoral

por Pedro Bezerra Souza sex, 19/04/2019 - 14:04
Reprodução/Facebook/Tiririca na Web Em 2010, o humorista Tiririca foi eleito o deputado federal mais bem votado do Brasil Reprodução/Facebook/Tiririca na Web

“Vote em Tiririca, pior que tá, não fica”. Foi com esse slogan Francisco Everardo Oliveira Silva, ou apenas Tiririca, se elegeu deputado federal pelo estado de São Paulo, em 2010, pelo PR. Tiririca não foi apenas eleito, ele se consagrou o deputado federal mais votado do Brasil, com mais de um milhão de votos. Atualmente, o parlamentar já segue em seu terceiro mandato na Câmara Federal, apesar de já ter pensado em largar a política.

 O caso de Tiririca é um forte exemplo para a discussão nacional - e internacional - sobre a presença de figuras oriundas da comédia em ambientes estritamente políticos. E sabe qual foi a estratégia do deputado para conseguir suas eleições? Utilizar o tempo do horário eleitoral não para apresentar propostas, mas sim para fazer imitações.

 Na eleição de 2018, Tiririca apareceu na televisão e falou no rádio, durante campanha eleitoral, imitando personalidades como a funkeira Jojo Todynho e o atacante Neymar. Além de fazer sátiras e brincadeiras com a Operação Lava Jato. Ele conseguiu tirar o eleitor de uma zona de tensão e descrença trazida pela política e conseguiu angariar votos através do humor.

 “Essa realidade de humoristas ocupando cargos políticos mundo afora pode ser vista de duas percepções: o eleitor que já está desacreditado e resolve jogar o voto fora ou o eleitor que não está muito preocupado com os rumos da política e vota pela piada, pela diversão. Esses cenários, claro, são referentes ao comediante que está fazendo campanha só pela comédia. O comediante que não se desvencilha do seu papel de humor para fazer política”, explica o cientista político Felipe Gomes.

 Essa prática parece ter caído na graça do povo e a conjuntura vivenciada ultimamente é essa: em vez de políticos agirem como comediantes - o que, ainda, por vezes é normal -, os humoristas que tomaram o lugar dos políticos. Eles encontraram uma parcela da população desiludida e disposta a lhes darem um voto de confiança - ou de desilusão.

 Seguindo essa lógica, a Itália tem um caso de sucesso quando o assunto é comediante na política. Beppe Grillo é um comediante e blogueiro italiano que, em 2013, começou a ascender no cenário político do país europeu. Porém, antes disso, em 2009, ele fundou o Movimento 5 Estrelas, que posteriormente se transformou na terceira maior potência política italiana.

 Grillo, que tem 70 anos, sabe usar bem a internet e seu favor e consegue manter uma comunicação direta com seus eleitores e seguidores através da rede. Ele decidiu entrar na política motivado por seu conflito pessoal com o líder italiano Silvio Berlusconi. Grillo teve identificação e empatia do povo italiano e colheu o sucesso que carrega consigo até os dias atuais.

 “Essa síndrome e humorísticos políticos é algo que, como sabemos, já existe em muitos lugares, mas que vai ganhar força e estar muito mais presente em anos futuros. Não estou falando de um futuro distante, mas em uma realidade próxima. Nas próximas eleições federais ou municipais, certamente já encontraremos mais figuras como essas no cardápio eleitoral espalhadas pelos quatro cantos do Brasil”, acredita Felipe Gomes.

 Nos Estados Unidos, há o exemplo do comediante Al Franken, conhecido no país através do programa “Saturday Night”. Em 2008, o então comediante foi escolhido para uma cadeira no Senado serviu ao estado norte-americano. Trabalhando por Minnesota, Al Franken lidava com o desafio de ser sério para fazer política nos EUA.

 Membro do Partido Democrata, Al Franken derrotou por uma estreita maioria o senador republicano Norm Coleman. Empossado como senador no dia 7 de julho de 2009, o parlamentar afirmou que iria renunciar oito anos depois, após uma série de escândalos envolvendo seu nome. No dia 2 de janeiro de 2018, Al Franken saiu oficialmente do cargo de senador.

 “A comédia é uma eficiente arma de comunicação e, por isso, alguns humoristas engajados podem ser bem quistos por um eleitorado entediado. Mas, é necessário que o político leve o seu trabalho a sério em tempo integral. Só desta forma poderá perdurar o seu tempo dentro da política de forma coerente”, comenta Felipe Gomes.

 Sendo assim, outros Tiriricas, Al Franken e Beppe Grillo devem surgir nesta perspectiva eleitoral. Cabendo, desta maneira, aos eleitores fazerem uma avaliação sistêmica do que eles querem para o futuro e o que essas figuras da comédia podem oferecer a curto e longo prazo.

COMENTÁRIOS dos leitores