Eduardo Campos: cinco anos de silêncio trágico e precoce
O ex-governador morreu no dia 13 de agosto de 2014, três dias após seu aniversário de 49 anos e do Dia dos Pais, deixando um forte legado político aos pernambucanos
O dia 10 de agosto de 2014 foi marcado por uma comemoração dupla para o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). O socialista celebrava, simultaneamente, o Dia dos Pais e o seu aniversário de 49 anos. Em uma rotina atipicamente acelerada, pois ele naquele momento fazia campanha para sua eleição à Presidência da República, Campos conseguiu um tempo para estar com a família naquele domingo.
O que ninguém podia prever é que três dias depois, na quarta-feira, dia 13 de agosto, o destino embaralharia todas as peças de um quebra-cabeça que tinha sua montagem de modo contínuo e organizado. No fatídico dia de sua morte, Campos entrou em um avião modelo Cessna 560XL com outros quatro assessores, além dos dois pilotos. O embarque foi no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e o destino final era o Guarujá, em São Paulo.
Porém, por volta das 10h, quando o avião se preparava para o pouso, problemas técnicos aconteceram e levaram à queda do meio de transporte. As sete pessoas que estavam a bordo morreram no acidente que comoveu o Brasil e influenciou nas eleições federais e estaduais que aconteciam naquele momento. Em um dos seus melhores momentos políticos, saindo do maior poder executivo pernambucano com ótimas avaliações, Eduardo Campos deixou o cenário de forma drástica no mesmo dia da morte do seu avô, Miguel Arraes, que faleceu no dia 13 de agosto de 2005.
A tragédia aconteceu menos de dois meses antes das eleições que aconteceram em outubro. Marina Silva (Rede), então candidata à vice-presidência na chapa de Campos, assumiu o posto de candidata oficial e trouxe Beto Albuquerque (PSB) para ocupar o lugar como seu vice. Entretanto, o nome de Eduardo Campos, que era um forte candidato e possivelmente daria dor de cabeça à reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT), não conseguiu transferir todas suas intenções de votos para Marina e a ambientalista viu sua popularidade cair com força na corrida presidencial, mesmo com toda comoção causada devido ao acidente.
“Muito se acreditou que Marina alavancaria na disputa pelo Planalto após a morte de Eduardo, mas as pesquisas não foram mostrando essa realidade. Isso aconteceu porque, na verdade, o candidato popular e que falava com o povo era Eduardo. Marina continuou tentando a presidência em 2018, mas o desempenho foi ainda menos favorável do que em 2014. O segundo turno daquelas eleições, entre Dilma e Aécio (Neves, pelo PSDB), foi potencializado após a morte do pernambucano. Muitos votos deles foram transferidos para a petista e, ainda assim, ela ganhou por pouca diferença. Essas perspectivas nos levam a crer que, se estivesse vivo, Eduardo faria acontecer um segundo turno diferente”, analisa a cientista política Sofia Trajano.
Eduardo Campos, que deixou cinco filhos - entre eles o atual deputado federal João Campos (PSB) - e a viúva Renata Campos, fez uma participação na noite anterior ao seu acidente no Jornal Nacional, da TV Globo. O noticiário fazia uma rodada de entrevistas com os candidatos à Presidência e a vez do pernambucano foi exatamente um dia antes de sua morte.
Esse fato isoladamente pode não significar muita coisa, mas o fato dele ter dado uma entrevista nacional ao telejornal de maior audiência no país horas antes de morrer causou uma repercussão considerável. Incrédula, a população não acreditava que aquele homem, que há pouco tempo estava ao vivo sendo entrevistado na televisão, estava, agora, morto após seu avião cair.
“É válido ressaltar que não foi só na eleição para presidente que Eduardo participava em 2014. Recém-saído do cargo de governador de Pernambuco para disputar o Planalto, Campos também trabalhava duramente, mesmo que de forma mais passiva, na campanha do seu sucessor, o atual governador Paulo Câmara (PSB). Naquela altura Campos tinha um árduo trabalho: transferir sua popularidade para um candidato que nunca havia ocupado cargo político e era pouco conhecido no estado”, detalha Trajano.
Diferentemente das eleições para Presidente, onde a morte de Eduardo mudou todo um cenário que vinha se desenhando. No âmbito estadual o acidente não trouxe grandes mudanças, só reforçou o nome do candidato socialista. Por ser o escolhido para suceder o neto de Arraes, Paulo Câmara já liderava as pesquisas de intenção de voto. A dúvida seria se ele já ganharia no primeiro turno ou se iria disputar o segundo com Armando Monteiro (PTB).
Após o falecimento de Eduardo, a vitória de Paulo Câmara praticamente se deu como certa. Ele crescia vertiginosamente nas pesquisas e o resultado não saiu do esperado: venceu no primeiro turno com 68% dos votos. A partir daí, assumiu o comando do executivo estadual com Raul Henry (MDB) como seu vice e, mesmo não sendo a ‘versão 2.0’ de Eduardo Campos, se reelegeu em 2018. Desta vez, com Luciana Santos (PCdoB) ocupando a posição de vice-governadora.
“Eduardo morreu de forma muito precoce. Ele tinha uma ambição do bem e se não ganhasse as eleições de 2014, certamente seria um dos principais nomes para 2018, principalmente porque provavelmente ele teria o apoio direto do ex-presidente Lula (PT). Mas não foi só a política que perdeu com sua partida, foi também toda uma legião de pernambucanos que acreditavam piamente em seu trabalho. Ele se despediu do governo de Pernambuco com um elevado índice de aprovação e satisfação. Ele era um bom articulador e sabia fazer bem o jogo da política”, comenta a cientista política Sofia Trajano.
Enterrado ao lado do seu avô no cemitério de Santo Amaro, no Recife, o corpo de Eduardo Campos arrastou milhares de pernambucanos até os últimos minutos de sua despedida. Entre choros de incertezas futuras e de gratidão pelo o que foi feito, o ex-governador de Pernambuco se despediu muito antes do esperado, mas deixou um legado vivo na memória de todos que o admiravam e seguiam seus passos.