Comissão discute formas de viabilizar o Carnaval no Recife

Reunião na Câmara realizou escuta do setor cultural como primeira etapa do planejamento para a realização ou não-realização da festividade

por Vitória Silva qui, 02/12/2021 - 14:21
Júlio Gomes/LeiaJá Imagens Mesa da Comissão Especial do Carnaval-São João 2022 Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Na manhã desta quinta-feira (2), foi realizada, no Plenarinho da Câmara Municipal do Recife, uma audiência pública que convocou o setor artístico-cultural da capital pernambucana para debater as próximas festividades de grande expressão na cidade: o Carnaval e o São João.

A reunião foi promovida pela Comissão Especial, composta por nove parlamentares e presidida pelo vereador Marco Aurélio (PRTB). Essa é a primeira etapa da discussão, que deve ser traduzida em um primeiro relatório, entregue no próximo dia 21.

No geral, os vereadores buscam formas de promover o Carnaval e o São João de maneira segura, mas podendo, também, ser em proporções diferentes das já conhecidas pelos recifenses. Por esta razão, autoridades sanitárias irão integrar os próximos debates.

Carnaval e economia

A primeira discussão focou nas necessidades do setor cultural e, no caso de não haver realização do Carnaval promovida pela Prefeitura do Recife, quais seriam as formas de assegurar a categoria do ponto de vista econômico.

“Hoje estamos discutindo com o eixo artístico-cultural, os que estão mais calejados neste momento, mas teremos um dia específico para debater somente o eixo-sanitário. O vereador Tadeu (Calheiros), que faz parte da Comissão, está cuidado dessa parte, convidando os órgãos de controle e a Fiocruz está envolvida. A gente quer ouvir os especialistas. Sabemos que após o Carnaval tem gripe, resfriado, conjuntivite. Se a gente achar que dá para ter o Carnaval, se recebermos o ok de que as vacinas estão dando certo, por que não ter? É isso que queremos discutir: como é que vai ser? Depois da pandemia, as coisas não são como antes. Temos que buscar alternativas para que todos estejam seguros, preservando as vidas, mas também permitindo que possam trabalhar”, explicou o vereador Marco Aurélio ao LeiaJá

 O parlamentar reafirmou o tom que foi predominante na reunião. O desejo dos vereadores é de conseguir viabilizar a festividade e estão sendo buscados, agora, caminhos para possibilitar a realização.

“Não havendo - e não é o desejo da gente - o que faremos pelo setor? Esse setor (cultural) gerou, no último Carnaval, R$ 2,3 milhões em receita para o estado, então precisamos, sim, da proposta sanitária, mas também da econômica”, completou Aurélio.

Vacinação

A fala do presidente foi reforçada pela de Tadeu Calheiros (Podemos), que é médico e trabalha na linha de frente contra a Covid-19 desde o início da pandemia. O vereador centralizou o seu discurso na cobertura vacinal, e disse acreditar que a vacinação da população é o caminho mais eficaz para a retomada da normalidade. 

“É importante que façamos um discurso paralelo a isso aqui, para ampliar a cobertura vacinal. Quanto mais avançar a cobertura vacinal, maior será a facilidade para a volta de uma vida pré-pandêmica. Precisamos ampliar o debate, é importante debater à luz da ciência. Isso é uma questão dinâmica: muda a cada fato novo. Poucos dias atrás não tínhamos a variante Ômicron, que pode causar mudanças um pouco mais a frente. A gente precisa ouvir para chegar a um consenso onde podemos contemplar segurança e saúde”, afirmou Calheiros ao LeiaJá.

Na próxima semana, a Câmara ouvirá o setor econômico. Posteriormente, será reunido o eixo sanitário. A Casa também promoverá uma reunião com câmaras municipais de outras cidades que têm o carnaval como uma festividade expressiva, como Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Belo Horizonte.

De acordo com os vereadores, de forma unânime, o ideal é que todos os beneficiados, impactados ou interessados nas duas festividades participem e contribuam com a pauta, pois é necessário conciliar tempo e consenso: faltam menos de três meses para o período carnavalesco que o Recife conhece. 

“É muito ruim quando as decisões são tomadas através de canetadas. O intuito dessa comissão é propiciar o debate trazendo as falas dos envolvidos. Essa luta é desde o início da pandemia, em todos os segmentos. A gente não pode deixar essa decisão ser canetada porque as pessoas que sobrevivem da cultura precisam saber qual será a alternativa, se sanitariamente for decidido que não haverá Carnaval”, acrescentou a vereadora Ana Lúcia (PDT), integrante da Comissão.

Carnaval elitista 

O vereador Ivan Moraes (Psol) acrescentou à discussão um ponto mencionado por todas os integrantes do setor cultural ouvidos na Casa. Atualmente, os protocolos sanitários já permitem a realização de eventos fechados de até 7.500 pessoas. Além disso, no Recife e na Região Metropolitana (RMR), já é possível acompanhar festas de rua com aglomerações há alguns meses. Para o parlamentar, decidir proibir o Carnaval sem considerar o histórico da população com a festa popular e as permissões já existentes agora, é mudar o sentido da celebração e promover um Carnaval elitista. 

“A gente não pode ser taxativo, dizendo que não pode ter Carnaval, como se a existência do Carnaval fosse única e exclusivamente de autoridade do estado. Nós conhecemos o Carnaval e ele é uma festa popular. Se você botou o pé para fora do Recife nos últimos meses, se foi em Olinda ou no Recife Antigo à noite, você já vê o Carnaval na rua. Já há possibilidades reais de haver festas pequenas em que algumas estratégias estão sendo tomadas. Pelo decreto sanitário de hoje, já é possível fazer festa para 7.500 pessoas. Se as autoridades sanitárias, que têm responsabilidade de tomar essas decisões, entendem que é possível colocar 7.500 pessoas num local fechado, por que não posso colocar 500, 1.000 num local aberto?”, indagou. 

E continuou, mencionando a existência de pequenos blocos de carnaval e festas de bairro: “Quando a gente pensa em Carnaval, sempre pensa em Galo da Madrugada, Carnaval de Olinda, Homem da Meia-Noite, mas o Carnaval é muito diverso. O Bloco da Ilha de Deus arrasta 300 pessoas, o da Reforma Urbana arrasta 200. Há possibilidade de agremiações menores, com medidas sanitárias, fazer algum tipo de festa. A questão não é vai ou não ter carnaval, mas como podemos fazer algum Carnaval com algum controle sanitário”. 

O parlamentar também reforçou a necessidade de barreiras sanitárias; se não possíveis de forma nacional, uma vez que o Governo Federal não exige passaporte sanitário para a entrada no Brasil, que seja de forma local, através das autoridades estaduais.  

E o adiamento?

“É uma das discussões, estamos querendo pautar isso aqui e ouvindo quem faz parte da cadeira produtiva. Quem sabe, não podendo fazer em fevereiro ou março, poderíamos colocar para julho. Iremos escolher a alternativa mais segura para todos”, afirmou o vereador Marco Aurélio sobre a possibilidade de adiar o Carnaval tradicional de fevereiro e março para uma data posterior, mais viável sanitariamente. 

No entanto, para o vereador Ivan Moraes, a medida é ineficaz e “duplicaria o problema, pois haveriam dois carnavais: um em julho e outro em fevereiro e março. As pessoas ainda sairiam de casa. Chegar numa ladeira onde tem frevo tocando e gente bebendo, já é carnaval. Nas ruas do Recife já está havendo Carnaval”.

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