Na ONU, Damares elogia governo e não menciona Ucrânia
Reunião com representantes mundiais foi voltada à defesa dos Direitos Humanos e abordou diretamento o conflito no Leste Europeu; discurso brasileiro focou em enaltecer ações do Governo Bolsonaro
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, representou o Brasil na 49ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, realizada nesta segunda-feira (28), em Genebra, na Suíça. No evento, onde líderes mundiais fizeram balanços de ações voltadas a problemas diplomáticos, iniciativas em prol da humanidade e questões emergenciais, o discurso da brasileira chamou a atenção por ter silenciado a crise diplomática envolvendo Ucrânia e Rússia.
O “governo Bolsonaro sempre promoveu e defendeu a paz […] Sempre defendeu a paz para todos os países e para todos os continentes”, disse a ministra, sem mencionar os países em conflito. O momento da discussão abordou o ferimento aos direitos humanos no Leste Europeu e as mortes ocorridas entre ucranianos e russos, o que foi apontado por outros ministros de Estado.
Como anunciado por Damares em suas redes sociais, o seu discurso se baseou na “defesa da vida desde o nascer”, o que cumpre seu posicionamento contra o aborto e a liberdade reprodutiva, assim como anunciou políticas que teriam sido bem-sucedidas na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Ao falar da Covid-19 e da quantidade de vacinas aplicadas no país, errou o número total. "Em pouco mais de um ano, foram aplicadas 380 doses da vacina", disse, referindo-se às 380 milhões de doses aplicadas; o erro não foi corrigido.
“Priorizamos os grupos mais vulneráveis como os povos indígenas, 85% deles já estão completamente imunizados. Lamentamos, cada morte decorrente da pandemia do novo coronavírus. Neste período, atuamos muito para proteger a população, e mitigar os efeitos sociais e econômicos desta crise", continuou a chefe de pasta.
Ainda em seu discurso Damares, comentou sobre a conclusão de obras como a transposição do Rio São Francisco, que segundo ela, estavam paradas há mais de uma década.
"Estendemos nossos serviços de atendimento de denúncia de violação de direitos humanos, para as comunidades isoladas, especialmente na região da Amazônia, onde barcos itinerantes hoje percorrem as regiões ribeirinhas para levar cidadania e serviços públicos. A propósito da Amazônia, trabalhamos na proteção da floresta, e sobretudo, das mais de 30 milhões de pessoas que vivem nela", pontuou.
Neutralidade
O Governo Bolsonaro tem obtido retornos negativos por escolher se manter neutro diante do conflito Rússia-Ucrânia. Historicamente, pela sua relação comercial com países europeus, e pela boa relação diplomática globalmente, o Brasil se mantém neutro em conflitos armados intensos como o que tem ocorrido na Europa. No entanto, o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro não soou convincente para o governo ucraniano. Boa parte das grandes potências condenou o ataque russo na última semana.
"A posição do Brasil não é de neutralidade, é de equilíbrio. Não dá para ter a posição da OTAN, da Rússia, da China: a nossa posição é a posição do Brasil", pontuou o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
No entanto, para o governo ucraniano, não há espaço para neutralidade no momento atual. “Todos precisamos nos levantar para defender nossos princípios básicos'', disse a embaixadora da Ucrânia na ONU, Yevheniia Filipenko, à imprensa.