Luna relata interferências de Bolsonaro na Petrobras
Militar e ex-presidente da estatal diz que se sentiu desrespeitado com críticas e acusações do presidente, além de alegar pressão para indicação de novos membros e alteração no preço de combustíveis
O ex-presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, contou à Veja sobre supostas interferências do presidente Jair Bolsonaro (PL) na estatal. O militar estava há cerca de um ano à frente da empresa, que teria sido alvo de pressões para indicar diretores e ainda para controlar os preços dos combustíveis. A declaração feita à revista foi publicada nesta sexta-feira (1º).
No último dia 29, Luna comunicou publicamente a demissão e disse que os motivos da saída eram “complexos”. Sua atuação no cargo está prevista para ter fim em 13 de abril.
“Não vendo minha alma a ninguém, não coloco meus valores em xeque”, disse. No começo de março, percebeu que sua relação com Bolsonaro estava desgastada quando o presidente declarou que a estatal “cometia um crime” contra a população e reclamou do último aumento do preço dos combustíveis, afirmando que “todo mundo no governo pode ser substituído”, disse o ex-presidente.
Silva e Luna foi informado de que deixaria o cargo após críticas severas da ala governista ao seu trabalho e até mesmo à sua remuneração. Bolsonaro chegou a culpar uma suposta corrupção na Petrobras pelo aumento no preço dos combustíveis. Ele considerou o anúncio desrespeitoso com a sua carreira.
“Tem coisas que para mim são sagradas, e a mais importante é a minha biografia. Quero minha reputação íntegra, para quem quiser olhar. Não aceito que ninguém jogue pedra nisso aqui e, por consequência, na própria empresa”, disse, segundo a entrevista à “Veja”.
Segundo o general, ele ainda sofreu "pressões crescentes" em torno do preço dos combustíveis e da troca de diretores. No último dia 10, a Petrobras reajustou o preço da gasolina em 18,77% e o diesel, em 24,9%.
"As pressões sempre foram crescentes. Em torno do preço dos combustíveis, por troca de diretores. Foram todas absorvidas, nunca cedidas. Nenhuma. Essas resistências foram crescendo, foram feitas algumas sinalizações públicas", afirmou Silva e Luna, dizendo que essas situações não o intimidavam, mas que ficou desconfortável.
Luna continuou: “Pressão nunca me intimidou. Passou a me incomodar quando começaram a falar coisas que não são verdadeiras, porque impactam a companhia. Tenho a responsabilidade de zelar pela imagem da empresa. Isso me incomodou. Disseram que ganho 200 mil reais mensais. Isso é mentira, não existe nada disso. Não é verdade, não ganhei nem metade disso”.
Silva e Luna também foi questionado sobre eventual vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais e o general afirmou que "gostaria que o resultado fosse outro". "Tenho dito de forma contundente que aqui não cabe aventureiro, hoje a governança da Petrobras não permite isso. Graças à governança, não vejo possibilidade para que aconteça algo parecido com o que ocorreu no passado", acrescentou.