Marília diz que não está enfrentando o PT nas eleições

Candidata ao Governo de Pernambuco, Arraes diz entender que o ano político exige movimentações atípicas, mas que não é coerente para o seu projeto estar junto ao PSB na disputa

por Vitória Silva seg, 06/06/2022 - 14:12
Reprodução/YouTube Marília Arraes durante sabatina da UOL Reprodução/YouTube

Sempre mantendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso, a candidata ao Governo de Pernambuco, Marília Arraes (SD), amenizou suas divergências com o diretório estadual do Partido dos Trabalhadores, do qual saiu recentemente, já enquanto pré-candidata ao Executivo pernambucano.

Em sabatina de uma parceria da UOL com a Folha de São Paulo, na manhã desta segunda-feira (6), a postulante reiterou seu respeito pelo PT, mas esclareceu que não era coerente com o seu projeto dividir palanque com o PSB, partido que “destruiu Pernambuco”, na opinião da ex-parlamentar. 

“Tenho todas as convergências ideológicas coincidentes com o PT, mas localmente, seria inviável apoiar um projeto ruim para Pernambuco. A gente está vendo a saúde do estado doente. Recentemente, foi notícia a questão das tragédias e desabamentos, mas a saúde está abandonada há muito tempo. A Restauração, um dos principais hospitais do estado, está com a estrutura terrível, teto caindo, a enfermaria cheia de água, porque não há investimento na infraestrutura. Não seria coerente da minha parte apoiar esse projeto”, justificou Marília. 

A pré-candidata continuou, afirmando que compreende que o ano eleitoral é atípico e a necessidade de união política fomenta movimentos nunca antes vistos: “Entendo as articulações nacionais que Lula precisa fazer. Mas muitas vezes o PSB esquece do país para tentar se perpetuar no poder aqui em Pernambuco”. 

Para ela, seu mal estar com o PT-PE não passou de uma divergência de “estratégia político-eleitoral”. Na época, a resposta pública do PT criticou Marília por sua saída, apontando para uma possível ingratidão por parte da candidata, que foi acolhida pelos petistas após passar pelo PSB. 

“Atritos existem até dentro da nossa própria casa. Na verdade, houve divergência na estratégia político-eleitoral. Eu entendo as alianças que o presidente Lula precisa fazer e digo sempre que, por mim, todos os candidatos apoiariam Lula. O que interessa a mim é que a gente volte a crescer o Brasil, combatendo a desigualdade. Essa questão acho que já foi superada. Os debates internos que o PT faz não me interessam mais. A gente tem que conversar sobre Pernambuco”, afirmou. 

Questionada sobre a resposta do PT à sua saída e a possibilidade de expulsão de dirigentes petistas que apoiassem o seu projeto, Arraes desviou da pergunta e voltou a dizer que não enfrenta o PT. “Eu não estou enfrentando o PT, tivemos uma divergência tático-eleitoral. Uma parte considerável de lideranças petistas declarou apoio ao nosso projeto. Tenho respeito ao PT”, finalizou, no assunto. 

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Oligarquia e relação com João Campos 

Durante a sabatina, Marília foi questionada sobre sua relação com o primo e adversário, João Campos, e também sobre a candidatura da sua irmã, Maria Arraes, que disputará um assento no Congresso, como deputada federal pelo Solidariedade. As duas se filiaram ao partido no mesmo dia. Arraes foi questionada sobre os rumores de décadas quanto à oligarquia Campos-Arraes e como ela avaliou a indicação da própria irmã à vida política. 

"Ela teve essa intenção de entrar na política. Eu não poderia deixar de apoiá-la. Respeito muito essa decisão. Ninguém pode ser penalizado pelo sobrenome que tem", declarou. "Eu tenho muito orgulho de não somente ser neta de Arraes, mas ter convivido, aprendido com ele”. Marília, que mencionou diversas vezes ter a paridade de gênero como um dos pilares do seu governo, disse que é preciso “mostrar firmeza” e abrir portas “para outras mulheres”. 

Em relação à família e ao primo, Marília se colocou como uma figura fora da curva e desinteressada em “perpetuar” o “império” do PSB em Pernambuco. "Não faço da política um assunto de família. Tenho minha militância própria, trajetória própria. Ele é um adversário como qualquer outro. Representa o mesmo projeto de continuidade do PSB", disse Marília sobre João Campos. 

Alianças 

Sobre estar no Solidariedade e contar com uma aliança com o PSD, que é um partido mais de centro-direita, ela disse que mostra "uma capacidade de diálogo" e que "não vivemos um momento normal do país", por isso quer montar essa frente ampla, como a de Lula. "O Brasil está precisando dessa unidade. Estamos com a democracia cotidianamente ameaçada por Bolsonaro. Estamos num momento em que é necessário unir quem é a favor da democracia." 

Marília Arraes aproveitou a sabatina para destacar que o apoio do PSD foi importante à sua campanha e que aprendeu, com a vida política, que apoio “não se rejeita”. Questionada sobre o perfil mais conservador de André de Paula, com relação a pautas que são divergentes com o projeto de Marília e de Lula, a candidata usou como exemplo o avô, Miguel Arraes, e disse que “todas as chapas vitoriosas de Arraes tinham gente do centro e da centro-direita, assim como Lula está fazendo. Seu maior adversário local em São Paulo sempre foi o PSDB, representado por Alckmin, que hoje é seu vice. Nesse momento o Brasil e PE precisam dessa unidade”, afirmou. 

Sobre apoiar ou receber apoio dos demais candidatos ao Governo de Pernambuco em um possível segundo turno, Marília disse que não pensa no assunto, mas que aceitaria apoio, só que sem flexibilizar o seu programa. 

“Estamos em um momento de ampliação dos apoios e alianças, nossa candidatura tem total condição de ir para um segundo turno. Podemos até ganhar o primeiro turno. Não fico analisando os “se”. Apoio não se rejeita, sempre aprendi isso, é importante que a gente receba, mas sem flexibilizar o nosso projeto, que é alinhado ao presidente Lula. Não só por apoio, mas porque nossas propostas e visão de sociedade são parecidas. Eu não tenho problema pessoal com ninguém, trato meus adversários com muito respeito. Quem quiser apoiar é muito bem-vindo”, concluiu. 

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