Brasil na Cúpula foi ‘sucessão de erros’, diz especialista
De acordo com o cientista político, o pedido de ajuda nas eleições de Bolsonaro a Biden foi uma atitude de desespero
O presidente Jair Bolsonaro esteve nos Estados Unidos na última semana para participar da IX Cúpula das Américas. Na quinta-feira (9), Bolsonaro teve uma conversa com Joe Biden, presidente dos EUA, que durou de 40 a 50 minutos e, dentre os temas, o presidente brasileiro pediu para Biden rever as taxas sobre aço por causa da sobretaxa criada por Donald Trump em 2018.
Ainda no encontro, Bolsonaro chegou a pedir ajuda a Biden para vencer o ex-presidente Lula (PT) nas eleições de outubro. De acordo com fontes, Bolsonaro chegou a retratar Lula como um perigo para os interesses dos EUA e, enquanto isso, Biden destacou a importância de preservar a integridade eleitoral do Brasil e mudou de assunto quando se deu conta do pedido.
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Ao classificar o pedido de Bolsonaro como “uma atitude de desespero”, o doutor em ciência política pela UFF e professor do curso de ciência política da Unicap e do curso de relações internacionais da Faculdade Damas, Antônio Lucena, informou que foi, “de certa forma”, um crime de lesa-pátria, que é um crime contra a pátria, em que ela foi ofendida ou atentado.
“Você está pedindo que outro país interfira nas eleições para derrotar um opositor. Isso é o suprassumo de você ter uma interferência dentro de um processo eleitoral que se propõe a ser transferência pacífica de poder. Bolsonaro, além de não ter trato político, de ter endossado a questão das fraudes eleitorais nas urnas com Trump e Biden, ainda pede para Biden, que já tem pouco apreço por Bolsonaro, para interferir nas eleições aqui do Brasil”, expressou o especialista.
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Para ele, a ida do presidente aos EUA foi uma “sucessão de erros e escândalos”. “Também pode ser visto, de forma política, como desespero, porque tudo caminha para que 2022 seja o último ano do governo Bolsonaro”.
Ainda sobre o desempenho de Bolsonaro no evento, Lucena afirmou que “não houve qualquer ganho para o Brasil”, o que é ruim, tendo em vista que um dos objetivos da Cúpula era o diálogo, sobretudo sobre as taxas do aço. “É para ficar atento como isso vai se desenrolar no futuro, mas esse era um dos objetivos e terminou não tendo [o diálogo]. A Cúpula das Américas também foi uma forma de trazer para a órbita dos Estados Unidos pelo menos o Brasil, que se não fosse ao encontro, ficaria esvaziado. O Brasil foi lá, participou, mas os ganhos não foram palpáveis”, observou.