Bolsonaro silencia para amenizar desilusão dos apoiadores

A postura controversa do presidente desde o resultado das eleições surge como única opção para evitar o esvaziamento do bolsonarismo

ter, 13/12/2022 - 10:56
Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Bolsonaro se afastou do seu público e deixou de fazer as lives semanais desde a derrota para Lula Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A postura enérgica de Jair Bolsonaro (PL) esmoreceu desde o resultado das eleições que cravou sua saída da Presidência. Desaparecido por dias, o ainda presidente já não é mais tão ativo nas redes sociais e vem comovendo apoiadores com lágrimas em suas aparições públicas. Criticado por não ser mais objetivo em sua forma de se comunicar, - seja para incentivar ou rechaçar movimentos antidemocráticos- lhe restou adotar uma estratégia ambígua para evitar ainda mais danos à imagem do bolsonarismo.  

 Até as cenas de destruição do conflito entre seus apoiadores e a Polícia Federal em Brasília, na noite dessa segunda-feira (12), não foram suficientes para abalar a reclusão do presidente. As lives semanais que marcaram sua trajetória no Palácio já não eram mais transmitidas e os ataques quase diários à esquerda também deixaram de ser publicados.  

Nas suas últimas semanas como chefe de Estado, Bolsonaro se equilibra entre uma corda bamba uma futura responsabilização judicial por sustentar manifestações golpistas e o esvaziamento do seu movimento político com a insatisfação dos seus admiradores, que esperavam mais ímpeto contra a definição do pleito. 

O Governo Bolsonaro foi caracterizado por uma comunicação mais direta com seu eleitorado. Reprodução/Redes Sociais

“A postura do presidente deve-se ao fato de não existir nenhum ganho político ou estratégico em se posicionar nesse momento. Afinal, as eleições foram concluídas, os vencedores foram definidos de qualquer fala do presidente que venha tocar em aspectos políticos pode representar uma não concordância com o resultado do processo”, observou o cientista político Caio Sousa, que também percebe a postura apagada de Bolsonaro como uma reação pessoal ao desgaste da derrota. 

Em um primeiro momento, esse silêncio serviu como estímulo aos manifestantes que bloquearam rodovias e montaram acampamentos em frente a quartéis por todo o país. O entendimento desses manifestantes era de que o Capitão planejava uma virada de mesa sem chamar atenção. “O silencio permite que as ideias venham a divagar e as pessoas possam criar uma série de possibilidades. No entanto, ele é presidente da República e não cabe a ele ficar constantemente ficar corrigindo pessoas que dizem o apoiar", comentou o cientista. 

 Os dias se passaram e a realidade se manteve até que Bolsonaro voltou a movimentar as redes com um vídeo em que pedia o debloqueio das rodovias. A reação após muita pressão foi necessária, mas sucinta diante do que se esperava e deu margem a interpretações equivocadas do texto constitucional por parte dos bolsonaristas, que intensificaram o clamor por um golpe de Estado.  

Bolsonaro precisa virar a chave para se manter como líder da extrema-direita. Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Para Caio Sousa, Bolsonaro pensa a longo prazo. A ideia é não contrariar grupos extremistas mais acalorados e focar na reestruturação da oposição após o período natural de lua de mel do futuro governo. “Não criar opositores quando você tem cerca de 49% dos eleitores contrários ao presidente Lula. Então, não é politicamente inteligente você se opor aos apoiadores que você conseguiu. Ao mesmo tempo, você não precisa concordar com o posicionamento deles, acho que o silêncio reside mais nessa concordância em não criar opositores", avaliou.  

De figura combativa a uma figura desanimada, Bolsonaro chegou à Presidência e passou de um parlamentar do baixo clero a principal liderança política do país quando foi combativo. Passado o período de reclusão, mesmo sem cargo eletivo, ele vai precisar se reposicionar no cenário se quiser assumir a postura de líder da oposição. Para isso, o futuro ex-presidente precisa se manifestar para ocupar esse espaço. A não ser que queira abrir margem para o surgimento de uma nova liderança da extrema-direita. 

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