Fé Digital: como as igrejas se adaptaram à quarentena

Missas e cultos passaram a ser transmitidos em ‘lives’ de Instagram, YouTube e Facebook. A internet, assim como suas redes sociais, se tornaram aliadas do evangelho durante o isolamento social

por Katarina Bandeira qua, 03/06/2020 - 12:12
Júlio Gomes/LeiaJáImagens Igreja de Nossa Senhora do Livramento, em Jaboatão dos Guararapes, é uma das que passaram a fazer transmissões ao vivo Júlio Gomes/LeiaJáImagens

O presbitério iluminado da Igreja de Nossa Senhora do Livramento, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife (RMR), é o único elemento que revela que, ali, haverá uma celebração religiosa. No lugar dos fiéis, sentados à espera do sermão, fotos de quem - por conta da quarentena - tenta se fazer presente mesmo à distância. Em frente à nave, dois smartphones estão preparados para transmitir a missa liderada pelo Padre Damião Silva, responsável por levar virtualmente, a Palavra de Deus às casas de seus seguidores. Os dispositivos são apenas uma parte dos elementos eletrônicos que viraram a ponte entre líderes religiosos e seus rebanhos, em uma época que os templos cristãos precisam evitar aglomerações para diminuir a possibilidade de contágio do novo coronavírus. 

“A gente fazia a missa para a comunidade e, quando podia, transmitia pelo Facebook da paróquia, mas era assim meio descomprometido. Quem quisesse entrar que entrasse, não tinha aquela 'investida' como a gente está fazendo agora”, conta o Padre, que precisou pedir ajuda aos fiéis, via WhatsApp, para divulgar os canais da congregação aos seus grupos de amigos e familiares. “No começo eram números bastante pequenos, mas com o decorrer do tempo e das missas a gente pedia 'você que está participando da missa, faz o teu link para outros grupos, para outras pessoas' e pouco a pouco essa corrente foi se firmando. Hoje, a gente tem em média duas mil pessoas, que eu chamo de famílias. Porque mesmo que seja uma pessoa ‘linkada’ ali, é uma casa que está recebendo a mensagem. Você não está sendo alcançado por essa mensagem sozinho”, afirma.

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Do outro lado da RMR, na capital pernambucana, a cena é reproduzida na Igreja Episcopal Carismática do Brasil. O templo, que fica no bairro dos Aflitos, Zona Norte, abrigava cerca de três mil fiéis todo domingo. Com a chegada da pandemia, os membros da congregação passaram a assistir ao culto dominical, além de outras atividades comuns à rotina da igreja, através de lives de Instagram, Facebook e YouTube.

“O que a gente tem feito aos pouquinhos é ensinar como se usa a tecnologia. Quando o idoso ou a pessoa que não tem muito acesso a tecnologia tem alguém em casa, um filho, um neto, facilita. Quando não tem, por telefone explicamos como acessar para poder ter aquele conteúdo. Não é fácil, mas a gente tem feito”, conta o reverendo Ivan Rocha.

Por ser uma igreja grande, com mais de cinco mil membros, a congregação conta com uma estrutura maior. São três câmeras dispostas para dar a impressão de que o culto estaria ocorrendo como antes, além de computadores que inserem informações ao longo da transmissão. Para seguir as normas da quarentena, a equipe não ultrapassa 10 pessoas, entre responsáveis pelas câmeras, internet, músicos e pastores. 

 

Do outro lado da tela

Mas a mudança não atinge apenas as congregações. Os fiéis, que frequentavam as celebrações semanalmente, também tiveram que se adaptar ao isolamento e às transmissões via redes sociais. É o caso de Maria de Fatima Cavalcanti, de 63 anos. Frequentadora assídua da missa dominical, a aposentada encontrou nas transmissões uma forma de continuar reforçando sua fé, mas garante que, apesar da facilidade, não é a mesma coisa.

“A gente está acostumada a estar ali na frente do padre, falando com o padre, assistir a multidão e todo mundo junto. Pela televisão eu já tinha o costume de assistir [a missa] e nesse período que com as igrejas não estão abertas, há missas todos os dias, aí eu assisto. Ponho aqui no YouTube e coloco na televisão, mas não é como a gente está lá na igreja, pessoalmente”, diz.

Acostumada a assistir às celebrações conduzidas pelo Padre Damião Silva, ela explica que  - por ter o contato dele no WhatsApp, sempre é avisada quando haverá a transmissão de alguma missa. “Muitas vezes a gente não está com disposição para sair e se a gente pode assistir pela internet é muito bom. Mas não deixo de participar da missa dominical.  Até pela comunhão, que na internet a gente não tem”, conta.

Quem a ajudou a dar os primeiros passos foi a neta, que mostrou como era possível conectar a TV ao YouTube. “Eu comecei com Maria Clara que antes eu não sabia nem como acessava. Antigamente, a televisão era para a gente assistir somente os programas, hoje, você tem tudo lá. As missas ficam gravadas. Se na hora você não puder assistir, daqui a meia hora você assiste”, conta. Quando perguntada se pretende voltar à igreja assim que acabar a quarentena, dona Maria de Fátima é cautelosa. “Eu vou dar um tempinho mais, esperar as coisas se acalmarem, que a gente está vendo que um dia diminui [o número de casos de coronavírus], outro dia aumenta. Eu estou louca para sair, ir para a rua, mas por enquanto não vou”, finaliza.

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