Mestre Verequete inspira novas produções culturais

Banda Cactos ao Luar resgata o ritmo que consagrou um dos mais importantes músicos tradicionais paraenses

seg, 07/11/2016 - 09:54

“No despertar do vento verequete anunciou. Maré faceira na areia, com o olhar da sereia encadeou.” Neste trecho da canção “Aos mestres”, criada pela banda Cactos ao Luar, fica nítida a referência musical a um grande personagem paraense: Augusto Gomes Rodrigues, o mestre Verequete, que é homenageado em 2016 pelos cem anos de história na cultura regional.

A banda Cactos ao Luar é mais um grupo musical que tem como principal inspiração em suas melodias o mestre Verequete. Cleiderson Freire, percussionista da banda, afirma que as composições têm nas suas raízes o carimbó deste ícone. “Eu cheguei a conhecê-lo em seus últimos anos de vida através de um cortejo em homenagem ao seu aniversário. Ele já estava bem idoso e debilitado, mas mesmo assim cantava e passava a sua energia para todos os presentes”, diz Cleiderson.

Os músicos do grupo se reúnem em um casarão histórico de Belém para cantar e mostrar um novo estilo de carimbó influenciado pelo antigo mestre. Bruno Barros, vocalista da banda, enxerga como principal contribuição cultural a tradição que Verequete passava em suas criações. “Nas nossas músicas eu canto sobre contos, magia, a floresta e misturo com coisas do cotidiano, é a nossa maneira contemporânea de pegar o tradicional carimbó e brincar com ele de diversas formas”, afirma o cantor de 38 anos.

A palavra “verequete” possui origem afrodescendente e tem relação direta com uma figura encantada da religião do Candomblé. O mestre, por ter grande aproximação com a afroreligiosidade, adotou esse personagem como seu próprio nome artístico. Para Alexandre Nogueira, professor de história e também percussionista da Cactos ao Luar, isso configura um caráter histórico na vida deste cantor, aumentando ainda mais a sua importância na construção cultural do Pará.

Alexandre conta que a canção “Chama Verequete” é a mais emblemática do cantor, pois, consegue emocionar todas as pessoas que a escutam. “Ela mexe comigo porque parece que estamos evocando o próprio mestre entre nós, e agora, após sua morte, essa canção se torna mais forte, quase como se o espírito dele viesse fazer parte da roda de carimbo.”

Ainda segundo o historiador, relembrar o Verequete em seu centenário é também mostrar que preservar o carimbó como patrimônio cultural é importante, uma vez que o ritmo ainda recebe pouco apoio e investimentos financeiros. “O carimbó sempre teve um caráter de resistência; hoje a resistência é sentida na falta de incentivo musical. Nossos mestres que impulsionaram a raiz desse ritmo são pouco lembrados e hoje nós ainda possuímos pouca para o desenvolvimento de novas produções.”

Por Bruno Menezes.



 

 

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