Futebol italiano mantém incertezas sobre sua retomada

Muito contido desde o início, o influente presidente do comitê olímpico, Giovanni Malago, lembra agora que a pandemia ainda está presente e que o futebol deve pensar em um plano B em caso de suspensão definitiva

ter, 26/05/2020 - 07:14
Marco Bertorello A Serie A italiana, paralisada desde 9 de março, pode retornar em meados de junho, apesar de vozes discordantes Marco Bertorello

A aprovação está prevista para quinta-feira (28). Depois de superar um bom número de obstáculos e com a pandemia de coronavírus parcialmente recuando, o futebol italiano parece pronto para ser retomado, apesar de algumas vozes discordantes seguirem se manifestando.

"Um momento importante", resumiu nesta segunda Daniele Gastaldello, zagueiro e capitão do Brescia, na Rádio Rai, sobre o provável retorno em meados de junho da Serie A, paralisada desde 9 de março.

Sua equipe, lanterna do campeonato, não tem nada a comemorar em uma péssima temporada, mas Brescia, na Lombardia, é uma das cidades onde o coronavírus causou mais mortes na Itália e Massimo Cellino, presidente do clube, se opõe há muito tempo à retomada do futebol.

Antes de votar a favor da retomada, assim como todos os outros presidentes, Cellino falou de "pura loucura" e disse que estava preparado para dispensar sua equipe se a temporada terminasse.

Urbano Cairo, presidente do Torino (15º), não foi tão longe, mas sua vontade era de suspender a Serie A permanentemente.

"Eu cedi diante da votação majoritária, mas estou perplexo com os jogadores, que correm o risco de se machucar, com o pouco tempo que haverá entre o final desta temporada e o início da próxima", disse ele na semana passada.

Zlatan Ibrahimovic, um dos astros do campeonato desde que voltou ao Milan no meio da temporada, se lesionou nesta segunda-feira (25), o que multiplicou o medo de uma praga de contusões depois de dois meses fora dos gramados. Este é um dos argumentos mais repetidos pelos céticos.

"Acho que é um caos. Se tivesse que falar apenas como técnico, preferiria que se parasse e se voltasse calmamente na próxima temporada. Haverá uma série interminável de jogos e não sei em que estado os jogadores estarão", disse o técnico da seleção italiana, Roberto Mancini.

- Plano B -

Muito contido desde o início, o influente presidente do comitê olímpico, Giovanni Malago, lembra agora que a pandemia ainda está presente e que o futebol deve pensar em um plano B em caso de suspensão definitiva, uma eleição feita por "14 ou 15 esportes coletivos".

O Sindicato de Jogadores (AIC) e os médicos estão defendendo seus interesses. A questão da redução dos salários ainda não foi resolvida em todos os clubes e a responsabilidade em caso de doença continua sendo um assunto complexo.

Damiano Tommasi, ex-meia da seleção italiana e atual presidente do sindicato dos jogadores (AIC), insiste na necessidade de obter quatro semanas completas de treinamentos coletivos e retomar a competição no dia 20 de junho em vez de dia 13, data estabelecida como referência pelas entidades que regem o futebol.

Mas, além dos argumentos técnicos, o que levanta muitas questões é como gerenciar uma atividade na qual a distância física é impossível de ser mantida. E isso em um país que registrou mais de 32.000 mortes desde o início da pandemia.

Em uma pesquisa publicada no dia 26 de abril pela agência AGI, dois em cada três italianos se opuseram à retomada do futebol. Mas, desde então, parece que a questão saiu do debate público.

- Petição -

No mundo das torcidas e em certos meios de comunicação, a oposição à retomada, ou pelo menos ao futebol de portões fechados devido ao vírus, continua em vigor.

"Mas o que é esse futebol? Uma Serie A que faz as pessoas rirem", disse Il Romanista, um jornal inteiramente dedicado à Roma, que é no entanto um dos clubes mais favoráveis ao retorno aos gramados.

Os principais jornais esportivos nacionais estão divididos entre o entusiasmo do Corriere dello Sport e a prudência da Gazzetta dello Sport, jornal do Norte, cujo dono é Urbano Cairo.

Entre os torcedores a unidade é mais explícita. De Brescia a Lecce, passando por Bérgamo, Nápoles, Roma e Turim, todos são unânimes dizendo não ao futebol sem 'tifosi'.

Uma petição de fãs está circulando online pedindo ao governo para não encerrar a temporada. Seus assinantes são um grupo de torcedores da Lazio, o segundo na classificação geral, a apenas um ponto da Juventus.

Com dois títulos italianos em 120 anos de história, o clube da capital não quer perder esta grande oportunidade de reconquistar a taça.

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