Com celulares a preços suspeitos, feiras do troca resistem
Smatphones de origem suspeita são vendidos a preços baixíssimos. As tradicionais feiras reúnem muitas pessoas em busca de produtos mais em conta
As populares feiras do troca, ou do troca-troca, são importantes locais de consumo para a periferia na Região Metropolitana do Recife (RMR). Apesar disso, esses pontos são historicamente conhecidos por operarem às margens da legalidade.
Em duas tradicionais feiras do troca da RMR, a de Prazeres e a de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, não é difícil encontrar celulares à venda. Os aparelhos são sempre vendidos sem carregador ou outro equipamento, indicando uma origem ilícita. Smartphones de marca como Samsung e LG são encontrados por preços muito inferiores aos praticados em lojas.
O 'troca' de Prazeres está oficialmente localizada no bairro de Piedade, na Rua do Canal. Pela entrada principal, a feira começa amena, com pessoas vendendo livros e frutas. Conforme se vai avançando, o número de transeuntes dispara, ficando difícil o deslocamento, e é possível ver com clareza o comércio de celulares e demais objetos.
A diversidade de itens à venda surpreende. Tem gente vendendo fruta ao lado de um comércio de canos e chuveiros que fica adjacente a uma barraca de DVDs piratas, com crianças observando com entusiasmo as capas dos filmes adultos. Há linguiça, presunto, relógios, tênis ‘Nike’ por R$ 70, muitas peças de automóvel, bicicletas, revista Playboy da Karina Bachi e da Jaqueline do Big Brother Brasil 11, jogos de azar, brinquedo, eletrodomésticos, facões, facas peixeiras, facas pequenas. Pássaros, que são animais silvestres, configurando crime ambiental. E, claro, celulares. Todos os produtos comercializados sem nota fiscal.
Celulares a preços baixíssimos
Os smartphones aparecem aos montes. Os vendedores costumam segurar dois ou três na mão e pouco falam. O ato de circularem com os aparelhos entre os dedos já é código mais que claro de que estão à venda. Apesar dos indícios de que se tratam de celulares roubados, não causam espanto aos clientes, que o tempo todo abordam aqueles que carregam os de melhor aspecto. Um jovem com um iPhone na mão tentava convencer dois interessados de que o objeto estava em perfeitas condições.
Um homem vendia um celular Samsung com 8 gb de memória por R$ 200. Dizia que era o seu celular de uso diário. Permite que manuseie, que veja se a câmera é boa. “Não tenho carregador. Aqui as pessoas não costumam vender celular com carregador”, se explica. Um popular conta que todos costumam dizer que estão vendendo o celular de uso pessoal, mas que não seria verdade. Outro vende um Samsung J7 Prime com capa por R$ 350. Mais um vende um celular positivo com também 8 gb de memória por R$ 200.
A feira do troca de Cavaleiro é mais modesta. A maior parte dela é venda de peças de carros e ferro-velho, eletrodomésticos e roupas. Os comerciantes são pessoas mais velhas. Mas lá também estavam sendo vendidos um Samsung J7 por R$ 400 e um LG K10 por R$ 350 – todos sem carregador ou outro item que vem originalmente na caixa.
Apesar desses espaços serem associados ao comércio de drogas e armas de fogo, a reportagem não flagrou transações do tipo. Um popular que costuma ir à feira de Prazeres conta que este tipo de negociação é feita de forma mais reservada e não a qualquer um. Uma viatura da Polícia Militar chegou a passar na rua ao lado, mas nas feiras não foram observadas nenhum tipo de fiscalização.
Operações já foram realizadas nas feiras do Grande Recife. Em 2015, o 6º Batalhão da Polícia Militar (BPM) recolheu pássaros, alimentos perecíveis, DVDs piratas e carcaças de celulares. A Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife também retirou ambulantes da feira da Dantas Barreto, no centro do Recife. Em fevereiro de 2018, a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) apreendeu pássaros em uma feira livre do bairro do Cordeiro. Em todas essas ocasiões, os comerciantes ficam frustrados. Destacam que, apesar da informalidade, é dali que tiram o sustento da família. Outros defendem que os materiais são retirados do lixo e não de alguma prática ilícita.