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Neste primeiro fim de semana após os incidentes com tubarão no Grande Recife, o LeiaJá realizou uma ronda entre as praias de Piedade, Boa Viagem e Pina para verificar a fiscalização e orientações prestadas nesses locais. As ocorrências com mordidas de tubarão já registradas este ano não resultaram em morte, mas em lesões graves e perdas irreparáveis, como a amputação de membros das vítimas.
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Nos trechos do Dorisol-Golden Beach, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, onde houve um incidente com tubarão na última segunda-feira (6), ainda não há placas sinalizando perigo de ataque.
Apesar de estar a menos de um quilômetro da Igrejinha de Piedade, local com maior número de ocorrências com tubarão em todo o estado de Pernambuco desde 1992, a região dos tradicionais hóteis na orla de Piedade não possui histórico de ocorrências até a última semana. Marcada pelos arrecifes e piscinas naturais, a área ter sido cenário de um caso grave chocou os frequentadores.
"Só tomo banho na frente dos arrecifes. Quando a maré está cheia, não entro na água. Moro aqui há mais de 20 anos e meu procedimento sempre foi esse. Fiquei surpresa porque os ataques sempre aconteciam na área da Igrejinha, então fiquei sem entender o que houve. Ainda tenho receio de entrar na água, porque sempre tive. Se a água está turva eu não entro de forma alguma, mesmo com os arrecifes. A sensação aumenta depois dos ocorridos recentes, mas não deixo de molhar meus pés e nem de sentar na beira do mar", disse a banhista Adriana Reis, de 56 anos, que estava acompanhada do marido, Paulo Tavares, de 53.
O casal é natural de Salvador, na Bahia, mas mora em Pernambuco desde 2001, sempre no bairro de Piedade. Paulo acredita que a população tende sempre a confrontar as medidas implementadas pelos governos, mas que os gestores deixam a desejar tanto em orientação e conscientização, como ao fiscalizar os locais.
“O maior problema é a população, que sabe que existe uma questão na praia. Tudo bem que o último caso foi algo que a gente nunca tinha visto aqui e nem ouvido falar, só lá na Igrejinha. Mas lá a população sabe a afronta. Porém, há muitas coisas que podem ser feitas pelo poder público para melhorar os acessos e colocar redes de proteção, como fazem em outros países com problemas com tubarão. É um misto de mais consciência da população com mais ação dos governos. A gente está no habitat natural dos peixes, algo tem que ser feito para não promover mais desequilíbrio ambiental”, acrescentou Paulo.
Perguntado sobre a ausência de placas no local, o casal confessou esperar que, após os últimos incidentes, a região já estivesse sinalizada. Durante a visita, também não havia salva-vidas ou fiscalização da Guarda Municipal na área. Paulo e Adriana também acreditam que conscientizar e proibir poderia funcionar melhor do que punir. Já o vendedor ambulante Valdir Batista, de 34 anos, acredita que a multa deveria ser o caminho. Ele é do Recife, mas trabalha vendendo caldinhos em Jaboatão há quatro anos.
"Isolar a área eu já acho demais, porque vai atrapalhar a gente que trabalha com o comércio na praia, mas poderia haver mais fiscalização. Essa área não é perigosa como a da igreja, então fiquei um pouco surpreso, porque aqui não tem tanto mar aberto. Há erro dos dois lados, da população e prefeitura. Era para ter multa, porque quando mexe no bolso, o pessoal leva mais a sério e se conscientiza", disse o trabalhador.
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A Igrejinha de Piedade
Na manhã deste sábado (11), a fiscalização na Igreja de Nossa Senhora da Piedade foi intensa. O trecho tem o maior histórico de incidentes com tubarão em todo o estado: desde 1992, quando o monitoramento do Governo de Pernambuco foi iniciado, um em cada cinco incidentes registrados no estado aconteceram na Igrejinha. O pico já foi o mais frequentado de Jaboatão entre os anos 1990 e 2000, mas aumento de ataques e violência nos arredores assustaram banhistas.
Desde 2021, o trecho está proibido para banho, por ordem decretada no município. A decisão foi do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) e da prefeitura de Jaboatão, e foi publicada, à época, no Diário Municipal Oficial. A interdição abrange uma área de 2,2 quilômetros, que vai desde a Igrejinha de Piedade até o Hotel Barramares, localizado ao lado do Hospital da Aeronáutica do Recife, no limite com a capital pernambucana.
Boa Viagem e Pina
O decreto encerra no limite entre as cidades por questões territoriais, já que é uma decisão municipal, mas isso não significa que o perigo acaba ali. Do Hotel Barramares em diante, já na praia de Boa Viagem, a sinalização é intensa e já antiga. O risco não é apenas de incidentes com tubarão, mas também de afogamento, devido às fortes correntezas em mar aberto. Apesar disso, banhistas ainda frequentam o local, que está quase sempre deserto.
Da Praça de Boa Viagem em diante, a movimentação começa a crescer. Durante a visita neste sábado (11), o LeiaJá presenciou uma visitação usual para os fins de semana. Muitas bandeiras vermelhas estavam marcando a areia em trechos de mar aberto lotados de banhista. A sinalização significa risco alto de afogamento, ainda que a área seja marcada sobretudo pelas visitas de grupos grandes e famílias.