Jovem é baleada em ocupação e MTST acusa guarda municipal

O disparo de arma de fogo foi realizado pela Guarda Municipal de Aracaju, acusa o movimento. Médico que atendeu a mulher chamou o caso de 'milagre'

por Jorge Cosme sab, 12/05/2018 - 13:21

Uma jovem de 18 anos foi atingida com um tiro de arma letal no peito na Ocupação Marielle e Anderson Vivem, em Aracaju, capital de Sergipe, na noite da sexta-feira (11). Segundo o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o disparo foi feito por um membro da Guarda Municipal de Aracaju.

Nathanely dos Santos foi encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Fernando Franco e transferida para o Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), porque o cirurgião avaliou quer ela deveria passar por uma consulta com cirurgião torácico. De acordo com o MTST, ela foi operada, teve a bala retirada e passa bem, sem correr risco de morte. Ainda conforme o movimento, Nathanelly preparava o jantar na cozinha do acampamento. "Há relatos de que guardas municipais foram até o hospital tentar reaver a bala desalojada, a prova do atentado", diz texto do grupo.

A autoria do disparo ainda não foi esclarecida. Por meio de nota, a Prefeitura de Aracaju disse que não há confirmação de que o ferimento tenha sido causado por projétil de arma de fogo disparado por integrante da sua Guarda Municipal. A direção da corporação recolheu as armas dos envolvidos para realização de perícia.  

O movimento sem terra gravou um vídeo com um médico identificado como Dr. Everaldo, que teria atendido a jovem. Ele confirma se tratar de um projétil letal de arma de fogo. “Ela foi vítima de ferimento por arma de fogo e o projétil ficou alojado na região esternal. Por milagre, esse projétil não penetrou na caixa torácica, porque, se penetra no tórax, provavelmente ela nao estava viva porque ia pegar a aorta e o coração. Então isso é um milagre da vida”, diz o médico.

Segundo a prefeitura, os guardas abordaram um veículo com cinco homens que transportavam uma quantidade de maconha e cocaína. "Ao notar que eles seriam presos, dezenas de pessoas da ocupação começaram a atirar pedras e pedaços de madeira, além do disparo de rojões contra a guarnição. Foram efetuados disparos de contenção deflagrados para o alto com o propósito de afastar a turba e abrir caminho para a condução dos suspeitos à delegacia", diz nota da gestão municipal.

Três dos cinco homens que estavam no carro foram detidos pela guarda e levados para a delegacia plantonista sul, no conjunto Augusto Franco. Todos apresentavam passagens pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo, roubo e tráfico de drogas, diz a prefeitura. Os outros dois foram liberados, pois não tinham ligação com as drogas encontradas.

O pré-candidato à presidência pelo PSOL e integrante do MTST, Guilherme Boulos, se manifestou sobre o episódio nas redes sociais. "Urgente: Nathanelly dos Santos, militante do MTST em Aracaju, foi atingida agora de noite por um tiro de 4 disparados pela Guarda Municipal contra uma ocupação do movimento. Ela está grávida. O prefeito tem que retirar a guarda do local imediatamente e apurar o crime. Absurdo!", escreveu. A informação de que Nathanelley era gestante chegou a circular na imprensa, mas foi desmentida posteriormente pelo MTST.

A advogada do MTST Sergipe, Izadora Brito, diz que várias intimidações ocorreram ao longo da semana. "No primeiro momento da ocupação, já chegou um efetivo absurdo no terreno, mais de 12 veículos da GCM [Guarda Civil Municipal]. Ficavam o tempo todo ameaçando reintegrar, sem nenhuma liminar, colocavam os carros em posição de entrar na área, indo e voltando, fazendo baculejo, xingando, o tempo todo um ambiente muito hostil", ela contou.

A Ocupação Marielle e Anderson Vivem está de pé desde o dia 4 de maio em um terreno abandonado pela prefeitura no bairro da Coroa do Meio. No dia 7, conforme o movimento, a gestão do prefeito Ednaldo Nogueira Filho (PCdoB) chegou a convidar os integrantes da ocupação para uma reunião. “Quando a gente tava chegando pra mesa de negociação, eles fizeram um verdadeiro cerco à ocupação”, disse a advogada. O MTST solicita que seja suspensa uma liminar de reintegração do terreno.

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