Temor de crise global derruba bolsas
Os principais índices de Wall Street sofreram as quedas mais acentuadas em seis semanas
O mercado financeiro viveu um dia de mau humor generalizado nesta quarta-feira (2). Os principais índices de Wall Street sofreram as quedas mais acentuadas em seis semanas, após dados de desemprego e manufatura dos Estados Unidos sugerirem que as consequências da guerra comercial iniciada pelo governo de Donald Trump contra a China estão atingindo ainda mais a economia americana.
Somando-se às preocupações comerciais, os EUA obtiveram, na quarta, aprovação da Organização Mundial do Comércio (OMC) para impor tarifas sobre US$ 7,496 bilhões em produtos europeus, resposta aos subsídios ilegais concedidos pela União Europeia à Airbus, o que ameaça iniciar uma guerra comercial retaliatória transatlântica.
No Brasil, esse movimento foi impulsionado pela votação conturbada da reforma da Previdência no Senado e a decepção com a aprovação de um dos destaques do texto que reduziu em R$ 76,4 bilhões a economia esperada pelo governo com a reforma. A Bolsa paulista, B3, perdeu em um único dia quase todo o ganho acumulado ao longo do mês de setembro, quando fechou como o principal investimento do mês em rentabilidade. O Ibovespa encerrou o dia com queda de 2,90%, aos 101.031,44 pontos, a maior queda desde 14 de agosto, quando o índice de ações caiu 2,94%.
Em Nova York, o índice Dow Jones teve prejuízo de 1,86%, enquanto o S&P 500 perdeu 1,79%. Com o S&P 500 e o Dow Jones caindo abaixo de suas médias móveis de 100 dias pela primeira vez em cerca de um mês, muitos investidores acreditam significar que os índices tendem a cair ainda mais. Na Europa, o FTSE 100, principal indicador britânico, desabou 3,23%, a maior queda desde 2016, reflexo de dados econômicos modestos na Europa e do cenário de dificuldades para o Reino Unido conseguir um acordo no processo de saída da União Europeia (Brexit).
Os mercados chineses estão fechados pelo feriado para celebrar o 70.º aniversário da República Popular.
O Relatório Nacional de Emprego da ADP mostrou que o crescimento da geração de vagas no setor privado americano não teve desempenho tão forte quanto previamente esperado em agosto, afirmando que os "negócios se tornaram mais cautelosos em contratações", com pequenos empreendimentos "hesitantes".
Os dados reforçaram temores gerados na terça-feira, quando um relatório mostrou que a atividade industrial dos EUA contraiu para seu menor nível em mais de uma década em setembro. "Se a China compra menos produtos nossos, temos menos para fabricar e menos pedidos para cumprir. Esse dado está indicando que não estamos imunes à disputa comercial, ela está nos afetando tanto quanto à China", disse Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research.
Ficou melhor
Na opinião dos analistas do mercado financeiro, o tombo do Ibovespa poderia ter sido pior não fosse a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno no Senado com a rejeição de cinco propostas de alterações - os chamados destaques - que poderiam reduzir a potência fiscal em até R$ 283 bilhões. No fim, a economia esperada com a versão aprovada em primeiro turno no Senado ficou em R$ 800,3 bilhões, mais de R$ 100 bilhões menor do que o previsto no texto que saiu da Câmara. "Essa economia menor já estava no preço. A escorregada na votação acabou acendendo um sinal de alerta e trazendo um componente a mais de volatilidade para o dia", afirma o sócio-gestor da RJI Gestão & Investimentos, Rafael Weber. "No fim das contas, de zero a dez, o exterior respondeu por sete do que a gente viu de volatilidade no Brasil", diz Rodrigo Franchini, sócio da gestora Monte Bravo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.