Símbolo do Recife, Capibaribe pode ser atingido por óleo
Professora de ecologia da Universidade de Pernambuco (UPE), Mariana Guenther afirma que, na água doce, o óleo poderia afundar, dificultando a ação das barreiras de contenção
De acordo com o Ibama, até o dia 19 de outubro, duzentas praias nordestinas já haviam sido atingidas pelas manchas de óleo que se alastram pelo litoral da região desde, pelo menos, o dia 2 de setembro. Apesar do esforço da população, cartões postais de Pernambuco como a Ilha de Itamaracá e as praias de Maracaípe e Itapuama foram comprometidos pela chegada do material. Agora, com a chegada das manchas de óleo à Região Metropolitana do Recife, o Rio Capibaribe, símbolo da cidade, também pode ser atingido, segundo a professora de ecologia da Universidade de Pernambuco (UPE), Mariana Guenther. O LeiaJá entrevistou a pesquisadora sobre a possibilidade e suas consequências. Leia na íntegra:
LeiaJá: Existe a possibilidade de contaminação do Rio Capibaribe pelo óleo que se alastra pelo litoral nordestino?
Professora Mariana Guenther: Sim, nas marés de enchente a água do mar entra pelo Capibaribe ali no Porto do Recife e chega até além do Parque dos Manguezais, dependendo da fase da lua.
LeiaJá: Na água doce, as condições de disseminação do óleo são diferentes? Em termos das propriedades da água doce, correntes...
Guenther: Na água doce, por ser menos densa, a tendência do óleo é afundar mais (flutuar menos), como temos visto na entrada de alguns estuários. E isso dificulta a ação das barreiras de contenção (o óleo acaba passando por baixo). Em relação ao fluxo, vai depender das correntes de maré, nas marés de enchente o óleo pode avançar bastante uma vez dentro do estuário.
LeiaJá: Quais seriam as consequências a curto prazo de uma contaminação do Capibaribe? E a longo prazo? Sentiríamos outros efeitos daqui a, por exemplo, uma década?
Guenther: Basicamente as mesmas consequências da contaminação do mar. A curto prazo temos o efeito que chamamos agudo, onde os organismos sofrem com o sufocamento pela cobertura do óleo, tanto nas margens quanto no fundo. A longo prazo, temos o problema das substâncias presentes no óleo que são altamente tóxicas que vão sendo liberadas e incorporadas pelos organismos. Infelizmente não temos como precisar a duração desses efeitos. Por isso temos que fazer monitoramentos constantes na água, no sedimento e nos organismos para avaliar o grau de contaminação.
Área da bacia do Capibaribe é de 5.880 km². (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)
LeiaJá: Estamos acompanhando o trabalho dos voluntários, municípios e prefeituras, observando a dificuldade e o esforço necessário para remover o óleo das praias. A limpeza de um rio da dimensão do Capibaribe seria mais fácil ou mais difícil? Demandaria algum tipo de tecnologia específica?
Guenther: A limpeza que estamos conseguindo é uma limpeza superficial. Extremamente necessária e urgente e o trabalho dos voluntários tem sido espetacular. No entanto, há todo o óleo que se depositou nos corais, nos manguezais, no sedimento, antes de chegar à praia. Além daquele que vai se depositando na areia quando a mancha chega. É um trabalho difícil, tanto no rio quanto no mar. No caso do rio, como eu havia dito antes, como esse tipo de óleo que estamos lidando tente a afundar mais, torna-se ainda mais difícil a contenção. E a limpeza das margens seria muito mais difícil do que a limpeza da areia.
LeiaJá: Caso exista a possibilidade de contaminação do Capibaribe, há alguma estratégia que o estado possa utilizar para evitar seu contato com os poluentes?
Guenther: A melhor estratégia é a contenção, da mesma forma que nas praias, a melhor estratégia seria evitar que o óleo chegasse ao litoral, realizando a contenção em alto mar.