Músico diz ter sido espancado pela PM no Carnaval

"Ele deu um bicão na minha maçã do rosto. Por sorte não foi no globo ocular. Se fosse eu teria perdido o olho”, contou

por Victor Gouveia sex, 28/02/2020 - 13:23

Um percussionista, de 36 anos, denunciou, em suas redes sociais, que a Polícia Militar teve uma postura abusiva e violenta durante o encerramento do Carnaval de Olinda, na noite da quarta-feira (26). Enquanto acompanhava o show da Nação Zumbi com a mãe e a esposa, os policiais teriam o agredido com socos e chutes na face, antes de abandoná-lo ferido.

Antes de ser espancado durante a apresentação na Praça do Carmo, Artur da Mota conta que participou do Coco da Liberdade, na Rua da Boa Hora. Sempre acompanhado do pandeiro, levou alguns instrumentos consigo para o show e optou em ficar próximo à igreja, por acreditar que seria um local mais seguro.

Enquanto tocava e fazia rimas com amigos e pessoas que estavam no local, por volta das 23h, um efetivo com aproximadamente sete PMs se aproximou e iniciou a abordagem. Artur garante que atendeu à solicitação dos policiais e pôs as mãos na cabeça para que o procedimento padrão de revista fosse realizado.

De costas, ele não conseguia ver a ação policial, que retirava objetos dos seus bolsos e os colocavam a nuca e mãos. Neste momento, sentiu um objeto estranho - que seria um isqueiro segundo o músico - e perguntou do que se tratava. “Eu perguntei: o que você colocou na minha mão? E ele não respondeu”, relata.

Ao perguntar novamente, o músico teria irritado o policial, que iniciou os abusos. “Isso tava no seu bolso, porr*!”, gritou, antes de começar uma sessão de tapas e chutes até derrubá-lo. Caído, Artur aponta que ainda recebeu um chute no rosto e nas costelas. “Eu tava abaixado e tentei me proteger com a mão na cabeça. Ele deu um bicão na minha maçã do rosto. Por sorte não foi no globo ocular, se fosse eu teria perdido o olho.”

Artur ainda tenta entender a postura da PM. Ele acredita que a violência foi resultado de preconceito racial com as pessoas que o acompanhavam. “Tinha um pessoal com cabelo amarelo, da cor negra, e eu estava conversando com vários”, descreveu, antes de levantar outra hipótese: “Acho que me confundiram, como se eu tivesse traficando ou fazendo algo do tipo. A gente tava conversando sobre música”, complementou.

O LeiaJá entrou em contato com a assessoria da Polícia Militar de Pernambuco e da Secretaria de Defesa Social, que emitiu comunicado:  "A Corregedoria Geral da SDS informa que recebeu a denúncia na última quinta-feira (27/02) e, de imediato, encaminhou o músico para realizar exames traumatalógicos no IML. Também já deu início às investigações preliminares e, caso existam elementos suficientes, vai instaurar um procedimento administrativo disciplinar".

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