Coronavírus não diminuiu procura por peixe para Páscoa

Pernambucanos arriscam-se em mercados, furando a quarentena para garantir a proteína, mas afirmam que - dessa vez - é para comer cada um em sua casa

por Katarina Bandeira qui, 09/04/2020 - 14:58
Arthur Souza/LeiaJáImagens Clientes saem às ruas com medo, as não deixam de garantir peixe para o Domingo de Páscoa (12) Arthur Souza/LeiaJáImagens

Tradição cristã, o consumo de peixe durante a Semana Santa é uma hábito que muitos brasileiros preservam. Às vésperas da Sexta-feira da Paixão, o ato de comprar o alimento para manter a mesa farta e reunir a família ganhou outro significado. O pescado estará lá, mas a partilha terá de ficar para o próximo ano, por conta do isolamento social necessário no combate ao novo coronavírus. Pernambucanos arriscam-se em mercados, furando a quarentena para garantir a proteína, mas afirmam que - dessa vez - é para comer cada um em sua casa.

A prova disso é no popular Mercado da Carne, em Jaboatão dos Guararapes, Região metropolitana do Recife. Por lá, os comerciantes observam corredores vazios, mas não a falta de interesse dos clientes. Para não deixar de ganhar o peixe de cada dia, muita gente tem pedido para que as barracas façam entregas em casa. O delivery improvisado tem funcionado e aumentado a esperança de quem depende do feriado para garantir o sustento do mês.

“As vendas vêm crescendo. A gente pensava que ia ter uma caída, mas continua normal e teve um 'acrescimozinho' do ano passado para esse ano", afirma Adriano Lima, de 36 anos, que trabalha como vendedor no mercado.  "Algumas pessoas estão se resguardando. Quem é grupo de risco está ficando em casa. Estão mandando os mais novos. E a gente também está fazendo entregas", afirma.

Para ele, os preços têm ajudado. "O ano passado o camarão estava sendo vendido a R$ 40 e esse ano está R$ 20, R$ 25", diz comerciante, apontando uma queda de 50% no valor do insumo. E foi essa queda que chamou a atenção de seu Alfredo Clemente de Lima, de 66 anos. Aposentado, ele sabe dos riscos que enfrenta ao sair casa, principalmente, por fazer parte do grupo considerado de risco para a doença. 

“O valor para mim está bom e eu só saí porque era para comprar o peixe, mas não é para eu sair de casa não”, afirma. Sobre a reunião familiar o aposentado é taxativo. “Em casa sou só eu e a mulher. Aí só ficamos eu e ela e não vamos para casa de família, não. Só saí hoje porque foi o jeito. E saí com medo”, desabafa.

O peixe é garantido, a Páscoa, nem tanto

A auxiliar de serviços gerais, Gislene Tavares, de 45 anos, critica a saída de idosos, como seu Alfredo, durante a quarentena. “Tem pouca gente no mercado de peixe, mas o povo está saindo muito. O que eu vejo são os jovens tão dentro de casa e os idosos na rua. Muita gente está achando que é brincadeira [a quarentena], mas não é”, reclama. E afirma que, apesar de garantir o peixe, os ovos de chocolate terão que ficar para uma outra oportunidade. “Nada de visita, nada de comemoração. Ovo de Páscoa, esse ano eu acho que é zero”, diz.

Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), atualizados na manhã desta quinta-feira (9), os números relativos à pandemia do coronavírus no estado somam 555 infectados e 56 mortes em decorrência da Covid-19. Entre os últimos registros de falecidos, estão pacientes com idades entre 49 e 93 anos, sendo quatro mulheres e seis homens.

*Colaboração Arthur Souza

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