Qualidade de EPIs põe em xeque compras do Governo

Em meio à pandemia, o Ministério da Saúde adquiriu máscaras de "péssima" qualidade e as forneceu para os profissionais que estão a linha de frente da crise

ter, 14/04/2020 - 09:14
Pixabay Médicos do hospital da UFG expuseram a fragilidade das máscaras, com apenas uma cama de proteção Pixabay

Um vídeo publicado nessa segunda-feira (13) levantou o questionamento sobre a procedência dos equipamentos de proteção individual (EPIs) adquiridos pelo Governo Federal para os profissionais da Saúde no combate à covid-19. A qualidade das máscaras entregues aos médicos da Universidade Federal de Goiás (UFG) é consideravelmente inferior ao material ideal para prevenção.

Indignada com a compra, uma profissional testa a fragilidade do produto, compara com às máscaras usadas habitualmente na instituição e constata a ineficácia do EPI. "Por que um material tão ruim, de péssima qualidade, é nos ofertado nesse momento de tanta gravidade?", questiona.

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Sem licitação, sem preço, sem qualidade

De acordo com uma reportagem do The Intercept Brasil, publicada em 22 de março, mesmo ser participar de licitação ou ter experiência no fornecimento de material hospitalar, a empresa Farma Supply ganhou dois contratos do Ministério da Saúde no valor de R$ 18,2 milhões. Porém, as máscaras são 67% mais caras que as de outro fornecedor que fechou contrato no mesmo dia.

Enquanto a Farma Supply comercializa o EPI pelo valor unitário de R$ 1,60, a empresa BRT Medical, de João Pessoa, fornece a mesma máscara por R$ 0,96. Uma variação de aproximadamente 60%.

Além disso, o valor do contrato com a Farma Supply é mais de 180 vezes maior que o seu capital social, disponível na Receita Federal por R$ 100 mil, e o endereço consta um pequeno prédio comercial no Rio de Janeiro. O sócio é o militar aposentado Marcelo Sarto Barros, um bolsonarista fervoroso que usa as redes sociais para incentivar a viabilização do partido Aliança pelo Brasil, que o próprio presidente tenta lançar.

Em 2018, a Farma Supply teve R$ 248 mil em bens bloqueados por não pagar dívidas para uma empresa de máquinas têxteis de Santa Catarina, em 2016.

Na saúde e na doença

Parece que o ministro responsável pela pasta, Luiz Henrique Mandetta, aproveitou o caráter emergencial da compra e a não obrigatoriedade da disputa licitatória para contratar um velho conhecido. Segundo reportagem do Uol, um lote de aventais avaliado em R$ 700 mil foi oferecido para a Prosanis, instituição do segundo maior financiador das suas campanhas eleitorais no Mato Grosso do Sul.

A empresa é de Aurélio Nogueira Costa, que também é proprietário da Cirumed Comércio Ldta. Nas eleições de 2014, a instituição repassou para Mandetta R$ 94 mil por meio de depósito em espécie. Anteriormente, no pleito de 2010, foram doados R$ 50 mil, divididos em dois cheques. Em 2013, Aurélio chegou a ser investigado pela Polícia Federal por suspeita de ganhar licitações fraudadas na prefeitura de Campo Grande.

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